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Natação a cavalo em busca do entrosamento

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Empacar é o pior jeito de perder um revezamento. O atleta não chega, o outro demora a sair do bloco e a prova vira águas passadas. Sem um fio condutor entre os quatro nadadores, as pontas ficam soltas como um cavalo à espera de condução. E foram estes animais os responsáveis por conectar os representantes do 4x100m livre masculino do Brasil durante uma clínica nos Estados Unidos antes de eles terem iniciado, ontem, a aclimatação em São Paulo.

REVEZAMENTO 24-07

Em um rancho da Califórnia, sem sinal de água por perto, o quarteto titular Nicolas Oliveira, Marcelo Chierighini, Matheus Santana e João de Lucca estavam pouco confortáveis sob o sol quente e diante de um cavalo teimoso. O exercício de equoterapia tinha a proposta de fazer o animal cumprir um circuito com a ajuda de cada um dos quatro em determinado trecho. Sem puxá-lo.

? Jamais havia chegado perto de um cavalo. Foi um aprendizado grande, soube como respeitar as individualidades e a interagir melhor em uma prova de grupo, porque tínhamos que guiar os cavalos sem puxar as rédeas e cada um usou uma tática pessoal pelo bem coletivo. Quebramos a barreira: somos um só ? conta Nicolas Oliveira.

Observados pelo técnico da seleção brasileira masculina, Alberto Silva, o Albertinho, o grupo trabalhou com a mesma formação que poderá ser vista na prova durante os Jogos.

? Eu tive facilidade no início, para o começo do movimento, para fazê-lo andar. Marcelo conseguiu manter o trote, Matheus deu a sequência e o João mostrou destreza em levá-lo até o fim sem sequer encostar. Uns conversavam, outros faziam gestos e teve até grito. Ficou muito parecido como será a ordem do revezamento ? disse Nicolas.

SEXTO SENTIDO

Nos exercícios de equoterapia se baseiam na noção de que os cavalos captam os sentimentos de um condutor e reagem de acordo com a atitude de quem pretende guiá-lo. Se a mente do condutor estiver em outro lugar, o cavalo resistirá.

? Se você mostra insegurança, temor, diante do cavalo, que tem sexto sentido, ele não anda. É como na piscina: um detalhe afunda o trabalho ? afirmou o nadador mineiro.

A tentativa de transformar personalidades distintas em uma unidade coesa dentro da piscina partiu da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA). Diante da proposta de fazer no Rio o maior número de finais da história da natação brasileira, que chegou a seis em Pequim-2008, o revezamento passou a ser crucial para um desfecho favorável em casa.

? Tem chance (de final), mas tudo pode acontecer. Já passei por isso outras vezes. O que importa é que estamos preparados para uma prova na qual há muita variáveis: na passagem, a diferença é pequena e revezamento não é tempo, é espírito de equipe, é a vontade de ajudar para entregar na frente ? disse Ricardo de Moura, superintendente da confederação.

A ideia da clínica com equoterapia surgiu após os dirigentes e treinadores verificarem a importância que a concentração terá para os atletas brasileiros em seu país. Os nadadores, que perderam Cesar Cielo, sem índice olímpico, estarão sob pressão em um momento no qual nada poderá respingar na preparação.

? Como se classificam centésimos? Alguém treinou mais que o outro? Temos que calcular os riscos, porque podemos fazer um bom negócio. Veja o atletismo (feminino) que estava em segundo (no Mundial de Moscou-2013) e deixou cair o bastão. O que é melhor, a desclassificação ou a medalha de bronze? ? ponderou Moura.

Além dos titulares, o regulamento dos Jogos determina que os reservas sejam usados em provas eliminatórias, como semifinal. Gabriel Silva Santos e Alan Vitória também fizeram a clínica. Pelos tempos de classificação no ranking da Federação Internacional de Natação (Fina), o Brasil teria hoje seis possíveis finalistas e o revezamento é azarão: 100m peito (João Luiz Gomes Jr e Felipe França, 50m livre (Bruno Fratus), 200m medley (Thiago Pereira e Henrique Rodrigues), 200m borboleta (Leo de Deus).

? Nossos adversários são: Austrália, Rússia, Estados Unidos e França. Com o Brasil, são cinco países para três medalhas do revezamento. Estou empolgado, porque enxergo a natação de forma diferente agora. Não trocaria a medalha individual pela conquista do pódio em grupo. Alguns atletas podem não ser tão fortes individualmente, mas, coletivamente, são imbatíveis ? disse Nicolas, que ainda competirá nos 100m e 200m livre:

? Quem sabe, embalado por bom resultado no revezamento, não vá à final nos 100m?