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'Não vim ganhar dinheiro': voluntários explicam paixão pela Olimpíada

“Não vim ganhar dinheiro. Vim conhecer esse mundo que eu não conhecia”. Foi assim que a doméstica aposentada Ana Rita Fonseca, de 55 anos, descreveu o trabalho como voluntária na operação de distribuição de uniformes da Olimpíada do Rio. A 30 dias dos Jogos, cerca de 600 funcionários já trabalham no Centro de Credenciamento e Uniforme (UAC), na Cidade do Samba, na Gamboa. Além de atenderem novos voluntários, eles auxiliam também funcionários, terceirizados e oficiais de arbitragem. Em funcionamento desde maio deste ano, a instalação ficará aberta até o fim dos Jogos Paralímpicos, em setembro.

Determinada a participar da Olimpíada do Rio, Rita se tornou responsável pela entrega dos tênis aos voluntários enquanto se recuperava de um câncer de mama. A doença, contudo, não abateu a paraibana que, moradora do Engenho Novo (na Zona Norte) há 42 anos, promete trabalhar até o último dia do megaevento.

— Quando me inscrevi, em 2014, ainda estava fazendo quimioterapia. Mas tinha certeza que poderia estar aqui hoje. Por isso, quando percebi que não estava na escala da Paralimpíada, pedi para me incluírem. Quero trabalhar! Só avisei pra minha família: de julho a setembro, me esqueçam. Não estou disponível — diz, rindo.

Conhecida no trabalho como “Rita Sapato”, a voluntária mostra a que veio. As mãos rápidas exibem destreza ao checar o número do calçado, separar o par, encaixotá-lo e entregá-lo ao “cliente”.

— De certa forma, todo mundo que participar dos Jogos vai passar pela minha mão. É muito gratificante estar aqui. Queria muito viver essa experiência, que é tão diferente de tudo. É tanta gente de situação financeira e cultural diferente… Isso me encanta — conclui.

Até o início dos Jogos, são esperados 50 mil voluntários no Rio — cerca de 60% desses serão de fora do estado (brasileiros e estrangeiros). Os outros 40%, provenientes da região metropolitana da cidade.

Mas nem só aposentados se voluntariam. Aos 23 anos, o estudante de jornalismo Francisco Brandão acredita que a Olimpíada é uma oportunidade de unir trabalho e paixão. Nascido em Natal, o jovem mora em Niterói há três anos e sonha em se tornar jornalista esportivo. Hoje, trabalha como voluntário no credenciamento.

— Sempre me voluntariei. Na Copa, nos escoteiros, e até no TRE (Tribunal Regional Eleitoral). Por isso, me considero um voluntário praticante. Mas unir o trabalho voluntário com esporte é incrível — explica Francisco, que acrescenta: — Na última sexta-feira, atendi mais de duas mil pessoas. É muita gente interessante. Imagina a festa que vai ser quando começarem os Jogos.

Só ontem, cerca de três mil pessoas fizeram o credenciamento no UAC. Com a proximidade dos Jogos, a unidade pretende receber até cinco mil pessoas por dia. No total, serão 295 mil credenciais e mais de 86 mil uniformes distribuídos.

Para a advogada Cintia Ternes, de 47 anos, o trabalho é ainda uma oportunidade de conhecer melhor o Rio. Apaixonada por esportes, a gaúcha costuma passar a semana em Brasília e os fins de semana no Leblon. Desde maio, no entanto, ela adotou a cidade dos Jogos como lar em tempo integral, onde trabalha como voluntária de credenciamento.

— Fui jogadora de vôlei e de basquete, e essa foi a maneira que encontrei para dar minha contribuição ao esporte. Ficava ansiosa para fazer os treinamentos online o mais rápido possível porque queria ser chamada logo para começar a trabalhar — conta.

Para se preparar, os voluntários devem passar por dois treinamentos: online e presencial. O primeiro, dividido em três módulos, apresenta um retrato amplo dos Jogos, e trata de questões de diversidade e inclusão social, como hábitos culturais, questões de gênero e protocolos de relacionamento, para que os voluntários estejam aptos a lidar com pessoas dos 206 países visitantes.

Já o treinamento presencial é feito em duas etapas: “Meu papel nos Jogos”, disponibilizado desde abril nos seis centros de treinamento do país (Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Distrito Federal, Salvador e Manaus); e “Meu local nos Jogos”, que, a partir de meados de julho, levará voluntários para conhecer as instalações em que irão atuar.

Hoje, iniciam-se os trabalhos em dois espaços de imprensa: o Centro de mídia (MPC) e o Centro Internacional de Transmissão (IBC), ambos na Barra. A partir do dia 18, voluntários serão chamados para atuar nos centros de treinamento em que já tiverem atletas e, no dia 24, toda a força de trabalho voluntária já estará atuando em seus devidos postos.