Cotidiano

?Não tem um alfinete indicado neste governo por mim?, diz Cunha

BRASÍLIA — O presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), disse nesta quinta-feira que não indicou um alfinete para o governo do presidente interino Michel Temer, que é do mesmo partido. A declaração — durante a defesa de Cunha no Conselho de Ética — foi uma reação ao deputado Alessandro Molon (Rede-RJ), que apontou a indicação de ex-advogados de Cunha para o Executivo. Trata-se de uma referência ao ministro da Justiça, Alexandre Moraes, e ao subchefe de Assuntos Jurídicos da Casa Civil, Gustavo do Vale Rocha

— Vossa Excelência não vai me constranger. Se eu porventura achar que devo ou que tenho que fazer gestão por indicação, eu faria. Não o fiz. Não tem um alfinete indicado neste governo por Eduardo Cunha. Agora, se as pessoas que são meus correligionários, as pessoas com quem eu tenho convivência ocupem postos, não quer dizer que Eduardo Cunha indicou. E se indicasse, não teria problema nenhum. Eu não estou suspenso pelo Supremo Tribunal Federal (STF) de falar com as pessoas ou de exercer militância partidária. Vossa Excelência não vai me constranger, não vai fazer ameaças veladas nas suas falas achando que vai me constranger — disse Cunha.

Molon também disse que o Conselho de Ética, do qual não é integrante, corre o risco de se tornar o único órgão do mundo a acreditar que os recursos nas contas na Suíça não são de Cunha. Em resposta, o presidente afastado Eduardo Cunha destacou o fato de que eles são adversários políticos.

— O Banco Central suíço não acreditou. O Banco Central brasileiro não acreditou. O Ministério Público suíço não acreditou. O Ministério Público brasileiro não acreditou. O Supremo Tribunal Federal não está acreditando. Resta saber se apenas o Conselho de Ética vai acreditar nessa história. Se acreditar, vai ser o único órgão do mundo — disse Molon.

APELIDO DE PÁPI

Antes, o deputado Júlio Delgado (PSB-MG) criticou a escolha de alguns integrantes do Conselho de Ética para beneficiar o presidente afastado da casa. Uma prova disso seria o deputado André Fufuca (PP-MA), que, segundo Delgado, costuma usar um termo carinhoso para se referir a Cunha: pápi. Fufuca reagiu irritado. Chamou o colega de moleque e canalha e foi categórico: “pápi” é um termo afeminado e incomum em seu estado, o Maranhão.

— Com a saída do ministro Ricardo Barros (PP-PR), deputado licenciado que assumiu o Ministério da Saúde, e do deputado Cacá Leão (PP-BA), vieram o deputado Nelson (Meurer) (PP-PR), e o deputado André Fufuca (PP-MA), que carinhosamente chama o deputado Eduardo Cunha de pápi — disse Delgado.

Fufuca foi duro ao rebater o colega.

— Sei que Vossa Excelência hoje demonstra nessa casa que é um moleque. Não queira macular minha juventude. Até os canalhas envelhecem. É só olhar sua cabeça e seus cabelos brancos. Nesta casa ninguém me viu com ato de bajulice. No meu estado não costumamos usar esse termo pápi, que é afeminado. Além de moleque, canalha, pode responder por propina — disse Fufuca, concluindo:

— Robespierre guilhotinava todo mundo na França, e acabou guilhotinado.

O deputado se referia a um inquérito da Lava-Jato, em que Delgado é investigado, e também a Maximilien de Robespierre, um dos líderes da Revolução Francesa no fim do século XVIII. A investigação contra Delgado já tinha sido citada antes pelo deputado Wladimir Costa (SD-PA). No tempo que teve para falar, o deputado negou ter recebido recursos da UTC, empreiteira investigada na Lava-Jato. Afirmou ainda que houve delinquência institucional com Cunha na presidência da Câmara. E ironizou os argumentos do presidente afastado, no início da sessão, de que as contas mantidas no exterior não são suas, mas de trustes criados por ele para preservar seu patrimônio.

— Se o dinheiro dessa conta compra um vinho de mil dólares, eu pergunto: quem bebe o vinho? O senhor ou o truste? Se eu vou a um hotel em Dubai e gasto 20 mil dólares, quem dormiu nos lençóis de seda? O senhor ou o truste? Quem comprou essa gravata nas lojas de grife da Europa, quem comprou esse terno de 3 mil dólares que Vossa Excelência usa, foi o senhor ou o truste? Porque a truste pode tudo — disse Delgado.

Cunha respondeu atacando.

— Vossa Excelência disputou comigo a presidência da casa, e parece não estar conformado até hoje. Tenho certeza de que Vossa Excelência vai disputar todas e não vai ganhar nenhuma. No voto, Vossa Excelência não vai conseguir ganhar — disse Cunha.

Ao ser questionado pelo deputado Valmir Prascidelli (PT-SP) se sentia injustiçado, Cunha respondeu:

— É óbvio. Aquele que não é culpado se sente injustiçado.