Cotidiano

'Não imaginava que homem podia ter câncer de mama', diz paciente

SÃO PAULO – Ao sentir um nódulo no lado direito do peito, o paulista Carlos Alberto Louro, de 50 anos, pensou “em qualquer besteira”, menos na possibilidade de ter um câncer na mama. Achava que a doença acometia somente mulheres, e por isso levou dois anos até procurar um médico com especialidade em clínica geral. No consultório, descobriu que o tal caroço era um tumor maligno.

Enquanto mostra a cicatriz da mastectomia que fez em 2015, indicando que ali haverá agora uma tatuagem, ele faz um alerta: o chamado outubro rosa, quando campanhas no mundo inteiro conscientizam sobre câncer de mama, também tem que ter tons de azul, a cor usada, ao longo do mês de novembro, para fazer barulho sobre o câncer de próstata, comum em homens.

– Até descobrir a doença, não imaginava que homem podia ter câncer na mama. Tanto que eu conseguia sentir o caroço e simplesmente deixei para lá, por displicência da minha parte. Acho que podiam alertar mais os homens – sugere Louro, que passou por sete sessões de quimioterapia, 30 de radioterapia e hoje faz acompanhamento no Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp).

A incidência de câncer de mama masculino é rara: para cada 100 mulheres acometidas, um homem é atingido, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca). Nos dois últimos anos, o Ministério da Saúde registrou 2,1 mil internações de homens com esse tipo de tumor. Os números são maiores na região Sudeste, com 796 casos, sendo 318 em São Paulo e 157 no Rio de Janeiro. Em todo país, nesse período, 146 homens morreram.

Os sinais e sintomas são semelhantes ao câncer de mama feminino, com o aparecimento de nódulos. O tratamento também é o mesmo, em alguns casos com quimioterapia ou mastectomia, como aconteceu com Louro. A diferença, claro, é o fato de o homem não fazer a mamografia. No caso deles, a mamografia é substituída por exames de ultrassom, além de biópsia. Herança genética e uso de estrogênio, o hormônio feminino – no caso de transgênero, por exemplo -, estão na lista de possíveis causas da doença.

O oncologista Max Mano, do Icesp, salienta que qualquer aumento nos nódulos deve ser investigado a fundo. Por se tratar de caso raro, aponta ele, tanto o homem como os próprios clínicos que não têm experiência no tema deixam passar essa hipótese. Em sete anos, o Icesp registrou 43 ocorrências do tipo.

– Geralmente, quando o homem descobre, a doença está um pouco avançada. E é mais fácil notar, mas o nódulo é negligenciado, até porque muitos homens não sabem disso – ressalta Mano.

O biólogo Luis Alberto Zavala, de 78 anos, teve sua segunda consulta com o mastologista há algumas semanas, no Hospital de Câncer de Barretos, interior de São Paulo. Meses depois de um câncer de próstata, em janeiro, procurou um especialista quando sentiu um caroço no lado direito do peito.

– Nunca conheci um caso semelhante, mas sabia que poderia existir. Aconselho a todos o cuidado constante, a realização de exames com frequência. Por isso descobri bem no início. EÉlevantar a cabeça para seguir em frente – recomenda ele, um peruano que mora em Valinhos, cerca de 90 quilômetros de São Paulo.

A mulher de Zavala, a aposentada Maria Aparecida, 67 anos, conta que a família está encarando com naturalidade a doença, “sem grandes dramas”, e até faz graça:

– O único em meio a tantas senhoras fazendo tratamento.

O biólogo é assistido pelo mastologista Antônio Bailão, que explica que os remédios usados no tratamento contra o câncer de próstata também podem levar à doença, pois eles estimulam a ginecomastia, que é a hipertrofia das glândulas mamárias. O uso de anabolizantes é outro fator que pode acarretar no câncer de mama. Desde 2000, o Hospital de Barretos registrou 60 casos.

– É bom que se deixe o alerta: apalpou a região, sentiu algo diferente, tem que procurar o mastologista e afastar a chance de câncer.