Cotidiano

Na UFRJ, busca por apoio e temor de nova greve

62605372_PA - 09-11-2016 - Estudantes ocupam reitoria da UFRJ na Ilha do Fundão..jpgRIO ? Ocupada desde segunda-feira, a reitoria da UFRJ abriga uma rotina que combina, ao mesmo tempo, expectativa e aflição. Ainda em seus primeiros dias, o movimento de estudantes se organiza para buscar o apoio da comunidade universitária, que começa a crescer. No campus do Fundão, os comentários se dividem entre os que apoiam as reivindicações e os que temem uma nova greve. Ao contrário de outras universidades do país, como a UFF, em Niterói, as aulas na UFRJ seguem normalmente.

Enquanto veem o apoio aumentar a cada dia, alunos acampados em 14 barracas no salão da reitoria da universidade deliberam os próximos passos do movimento ? há uma paralisação prevista para o dia 11 e uma viagem para Brasília no fim do mês. Os estudantes pretendem acompanhar a votação no Senado da proposta de emenda constitucional (PEC) 55, que estabelece teto dos gastos públicos, inclusive para a Educação.

Ocupações

? A ocupação é motivada por pautas internas e externas. O prédio da reitoria está sem aulas há um mês por causa de um incêndio. Falta infraestrutura. Queriam colocar cadeiras e divisórias no saguão para formar salas de aulas. Há um descaso com os alunos. A assistência estudantil não está funcionando. E tudo isso conjuga na PEC, que vai congelar o orçamento. Não podemos dissociar essas pautas ? explica Bianca Campos, estudante de Gestão Pública desde o ano passado.

As reivindicações começaram a ganhar eco no campus, e o grupo que ocupa a reitoria começa a crescer ? anteontem eram 83 alunos. A ocupação tem o apoio de movimentos sociais que militaram contra o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Bandeiras de organizações como o MST estão penduradas nas paredes da reitoria junto com cartazes contra o presidente Michel Temer. A viagem para o Distrito Federal deve ser feita em ônibus de organizações sindicais.

A convergência dos assuntos internos da universidade com a discussão sobre o teto de gastos indica o tom político da ocupação. Integrante do Levante Popular da Juventude, Bianca participa de sua primeira ocupação, embora milite em causas estudantis desde 2012, quando era secundarista em Seropédica.

? Não tem como lutar pela reforma do prédio sem lutar contra a PEC. É um reflexo da conjuntura nacional. A gente está vendo uma criminalização das lutas sociais. Essa é uma forma de reação. É uma forma de mostrar que a esquerda não morreu com as eleições municipais. A ocupação tem o objetivo de mostrar organização, pregar unidade, dar fôlego aos movimentos e injetar ânimo ? argumenta.

A cada noite, uma assembleia é organizada para discutir temas gerais. Ao longo do dia, decisões pontuais são tomadas em cada um dos cinco grupos de trabalho orientados a cuidar da infraestrutura do acampamento, da segurança do local, da programação de atividades, da divulgação do movimento e da mobilização de novos estudantes.

No entanto, alguns alunos da universidade hesitam em apoiar o movimento. Embora as reivindicações por melhorias no campus sejam consensuais, temem que a ocupação culmine em uma nova greve.

? As pautas são importantes, sou contra a PEC, mas só não quero que tenha greve. A gente teve uma greve de três meses há dois anos, e agora em dezembro que o calendário iria ser regularizado. Não pode parar de novo ? diz Nayara Ferreira Amorim, aluna de Matemática.

? Fico chateado quando dizem que a PEC vai ferrar o país. Será que vai? Às vezes, é ingênuo ter uma opinião formada só por ser de esquerda ? afirma Wladimir Neves, matriculado em Matemática.

Mestrando em Geografia, Eduardo Bayer endossa o apoio às pautas da ocupação, mas pede mais diálogo.

? O que me incomoda na UFRJ é a falta de material nas aulas, a quantidade enorme de professores substitutos, as perspectivas ruins para os gastos, a redução das bolsas. A ocupação não me incomoda. O problema é o clima bélico. A faculdade tem que ser um lugar de debate, mas ele tem que acontecer com respeito ? afirma.

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