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Na final da Liga Mundial, Brasil almeja quebrar jejum de seis anos

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CRACÓVIA, POLÔNIA – A seleção brasileira masculina de vôlei entra em quadra neste domingo para quebrar um jejum que já dura seis anos. Foi no Mundial de 2010, na Itália, que o time de Bernardinho ganhou o último título, em competição marcada pelo polêmico jogo contra a Bulgária, em que ambas as equipes não fizeram força para vencer, de olho nos cruzamentos seguintes.

O Brasil, que foi medalhista de prata nas duas últimas Olimpíadas e no Mundial de 2014, enfrenta a Sérvia, às 15h30 (de Brasília), na decisão da Liga Mundial, no Tauron Arena, na Cracóvia (Polônia), com transmissão ao vivo do Sportv. O Brasil venceu a semifinal contra a França por 3 a 1 (25/16, 23/25, 28/26 e 33/31), em partida espetacular que durou 2h16. O Brasil é o maior vencedor da Liga Mundial, com nove títulos. A Sérvia é a atual vice-campeã da Liga.

Liga Mundial

– A gente sabia que não seria um jogo fácil. Mas, Ninguém merece mais do que nós. Vou bater nessa tecla. O que o time vem treinando não está escrito. Desde a eliminação da Liga Mundial no ano passado (não foram às finais), a gente colocou uma meta que é: vamos treinar até um cair para o lado e não aguentar mais. E é esse o nosso esquema hoje. Por isso, ninguém merece mais do que a gente – declarou Wallace, que marcou 29 pontos ontem, sendo o maior pontuador do jogo.

– O time está preparado para qualquer adversário. E contra a Sérvia temos um estímulo a mais. Vamos descer o cacete neles. Tá mais do que na hora de encerrarmos esse jejum de títulos. Eu ainda não tenho esse ouro.

Wallace se refere ao fato de que o Brasil teve apenas uma derrota em toda a competição. Foi justamente para a Sérvia, por 3 a 1, na fase de grupos, quando eles marcaram 20 pontos de saque direto.

Quem também se destacou foi Eder, que substituiu Maurício Souza, que se machucou numa caída. E mais uma vez Eder deu conta do recado. Mais do que isso: no quarto set, o central proporcionou dez pontos para o Brasil com o seu saque. O último set foi emocionante. O Brasil teve seis chances de matar o jogo e a França, três de levar ao tie-break. Superou a parcial anterior, também “nervosa”, em que o Brasil teve três chances de fechar o set.

– Finquei raízes no saque. Por mim moraria no saque – brincou o meio de rede, que ainda concorre a uma vaga no time olímpico do Brasil. – O nosso grupo está muito forte, independente de quem entra. Consegui ter uma regularidade e agressividade no saque. Mas quem fez os pontos foi o time.

Eder, que nunca foi a uma Olimpíada nem Mundial desde 2007 quando entrou para a seleção adulta, acredita que essa foi a sequencia de saque mais longa que conseguiu.

– Não lembro de ter feito outra – falou o central, fã de Gustavo, ex-seleção brasileira. – A Olimpíada é o meu maior sonho e estou muito focado para chegar lá. E essa pressão eu até gosto porque me tira da zona de conforto.

‘O MAR É VERMELHO’

Bernardinho comentou que o Brasil começou muito bem, acertando o queixo da França, mas que os sets seguintes poderiam ter sido conquistados por uma seleção ou por outra, tamanha a disputa. Ele elogiou a resiliência do time, que não desistiu em nenhum momento, mesmo atrás no placar.

– Esse foi o ponto. Ou eles nos matam ou a gente vai continuar tentando. Fico feliz que a gente está na final de novo. Gera confiança. O Brasil está na briga e queremos ganhar. Os principais times tem algum jejum de títulos como a gente. Há algum tempo o oceano era azul, sem tubarões, com a geração de 2004. Hoje o mar é vermelho com os tubarões se atracando. Sobreviver a esse ambiente não é fácil – declarou o treinador, que elogiou Éder.

– Na primeira etapa, contra os Estados Unidos, também fez a diferença. E ele arrisca e tem mantido a regularidade. Tem de arriscar mesmo.

O técnico, que vê margem de melhora para os Jogos, afirma que contra a Sérvia será uma partida semelhante. Disse que o passe e o saque serão fundamentais. em ambos os lados.

Nikola Grbic, técnico da Sérvia, acredita que “na teoria” sua equipe poderia entrar em quadra mais motivada já que a Liga Mundial é o seu torneio do ano. A Sérvia não se classificou para o Rio-2016. Mas, na prática não é bem assim:

– Nenhum time entra para participar de uma competição. Essa coisa de Coubertin (lema do Barão de Coubertin era “O importante não é vencer, mas competir” não exite mais. O Brasil vem para ganhar. É o melhor time do mundo, e da história. Nenhuma outra equipe está jogando assim. Mas, se a gente ganhou uma vez, podemos ganhar de novo. Mantenho o sonho – declarou Nikola, que criticou o sistema classificatório para os Jogos do Rio, que desta vez teve um segundo pré-olímpico, que colocou o México na jogada (após 48 anos fora dos Jogos).

– Quem quer ver México e Egito na Olimpíada? Tem de ir os melhores times. É o que o público quer ver. Não falo apenas por nós, mas pela Alemanha, Bulgária e outras seleções (que ficaram fora) deveriam estar dentro. Tivemos apenas uma chance de classificação olímpica (perdeu o classificatório europeu e não se credenciou ao pre-olímpico mundial).

MUDANÇAS NA CLASSIFICAÇÃO

Os Jogos terão a menor presença de países europeus na competição desde Los Angeles-1984, quando o boicote fez da Itália a única representante do continente. Serão quatro.

Para o Rio-2016, contou ainda com o fato do Brasil ser sede, abrindo outra vaga para a América do Sul. Além disso, o título americano na Copa do Mundo de 2015 garantiu outro representante da América Central e do Norte e a cota de um país por continente estabelecida pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) além da criação de um segundo pré-olímpico mundial.

O presidente da Federação Internacional de Vôlei (FIVB), Ary Graça, já admitiu mudança para Tóquio-2020. Ele afirma que é necessário ter times fortes na Olimpíada e que a entidade se arrependeu da nova fórmula que acabou beneficiando o México, em “nome da expansão do esporte”.

– Concordo que não está certo apenas quatro europeus nos Jogos. Nem tanto ao mar nem tanto a terra. Vamos dar um jeito de voltar a termos os melhores. De fato, não funcionou.

*A repórter viaja a convite da FIVb