Cotidiano

Na Espanha, cúpula socialista renuncia para tentar forçar saída de Sánchez

MADRI ? Dezessete dos 38 membros da cúpula do partido socialista espanhol, o PSOE, renunciaram em massa nesta quarta-feira numa tentativa de forçar o líder da legenda, Pedro Sánchez, a sair e romper o impasse de nove meses que paralisa o governo, informou a imprensa local.

Se levar em conta que dois outros membros renunciaram meses atrás e que um terceiro morreu, a cúpula tem agora menos da metade de seus integrantes, o que tecnicamente levaria à dissolução da comissão, forçando a realização de uma convenção para escolher um novo líder em algumas semanas.

Para analistas, a saída de Sánchez retiraria os obstáculos para a formação de um governo de minoria liderada pelos conservadores, pondo fim a um impasse que se arrasta desde as eleições de dezembro.

A renúncia ocorre horas depois de o ex-presidente do governo espanhol Felipe González acusar Sánchez de mentir e exigir que assumisse a responsabilidade pelos maus resultados eleitorais.

? No dia 29 de junho, ele me explicou que passava à oposição, que não tentaria um governo alternativo ? disse González, figura histórica do partido, à Cadena Ser. ? Eu me sinto frustrado, como se tivessem me enganado.

Segundo González, Sánchez lhe afirmara que pediria a seus deputados que se abstivessem, para que Mariano Rajoy, do Partido Popular e chefe do Governo desde 2011, pudesse formar um novo gabinete.

Mas o PSOE votou contra um novo governo de Rajoy, aumentando o impasse que deve levar o país à terceira eleição em um ano.

Importantes figuras do partido criticaram Sánchez depois de os socialistas registrarem neste ano os piores resultados de sua História em eleições nacionais e regionais. Também alegam que sua insistência em bloquear Rajoy é prejudicial para o partido e para o país.

Rajoy preside um governo interino após duas eleições, em dezembro e junho, que não chegaram a resultados definitivos. Seu partido ganhou em ambas, mas sem obter a maioria suficiente para formar governo.

A Espanha nunca teve um governo de coalizão, e os partidos tradicionais não estão habituados a negociar com a oposição.

Os socialistas, que presidiram a maioria dos governos desde a restauração da democracia em 1978, obtiveram apenas 85 assentos de um total de 350 cadeiras no Parlamento nas eleições de junho, o pior resultado de sua História.

Sánchez argumentou nesta quarta-feira que respeitava a opinião de González, mas que a posição contra Rajoy havia sido aprovada pelo comitê federal do partido.

Em uma reunião no próximo sábado, o comitê poderá convocar as eleições para a sucessão partidária em outubro, o que seria um desafio de Sánchez aos dissidentes.

Se o Congresso não formar um governo antes de 31 de outubro, o país terá que realizar a terceira eleição do ano, algo sem precedentes.