Cotidiano

Na contramão do habitual, FMI quer que Japão aumente salários

fmi (4).JPGWASHINGTON – O Fundo Monetário Internacional (FMI), conhecido por sua defesa da austeridade e pela preocupação com a inflação, prescreveu ao Japão um receituário ousado. O governo do premier Shinzo Abe deveria usar de persuasão moral, incentivos fiscais e, como último recurso, até sanções para forçar as empresas a promoverem reajustes salariais e, assim, elevar a inflação.

O Japão está mergulhado numa espiral de fraco crescimento e inflação em baixa que ameaça o futuro da economia do país. A recomendação do FMI por medidas tão heterodoxas mostra o quanto o Fundo está preocupado com a ?cultura de deflação? do país e com a dificuldade de a economia japonesa reagir a políticas econômicas mais convencionais.

? Precisamos de políticas que permitam ganhos salariais no Japão ? disse no início do mês Luc Everaert, chefe da missão do FMI para o país, após a conclusão da revisão anual que o Fundo fez sobre a economia japonesa.

Terceiro maior PIB do planeta, o Japão não está reagindo nem mesmo depois de fortes estímulos econômicos do governo. Este mês, o premier Abe anunciou a injeção de mais US$ 276 bilhões em recursos na economia.

A estratégia, apelidada por críticos de “dinheiro jogado de helicóptero”, foi classificada por Everaert como arriscada.

A sugestão do Fundo já ecoou no país.

? Talvez seja necessário encorajar uma discussão no gabinete sobre uma política de meta salarial ? afirmou este mês o recém empossado ministro Kozo Yamamoto, um dos mais influentes na política expansionista de Abe, conhecida como Abenomics.

O FMI reconhece que incentivar os aumentos de salários no Japão não será fácil. Normalmente, as empresas concedem reajustes quando há uma pressão dos trabalhadores e um mercado de trabalho com pouca oferta de mão de 0bra – um processo que, segundo especialistas do FMI, não tem ocorrido no Japão em parte devido a um crescente número de empregados em meio período, com menor poder de barganha.

Segundo o FMI, a política salarial deveria ser o quarto eixo do Abenomics ? os outros seriam medidas fiscais, monetárias e reformas estruturais. As ações deveriam incluir políticas para aprimorar as condições para os trabalhadores em meio período.

O ex-economista-chefe do FMI Olivier Blanchard e o presidente do Peterson Institute for International Economics, Adam Posen, também têm defendido uma ação mais forte do Japão para melhorar os salários. Eles defendem que o governo japonês pressione por reajustes entre 5% e 10% nas negociações anuais feitas entre sindicatos de empregados e empregadores.

? É preciso haver coordenação entre os sindicatos, as empresas e o banco central ? disse Blanchard, acrescentando que o BC japonês deveria agir para manter a competitividade do país permitindo uma depreciação do iene, um aumento dos salários e uma alta da inflação.