Cotidiano

Na Câmara, CPI provoca disputa entre Maranhão e líderes partidários

BRASÍLIA — O entra e sai de deputados e líderes partidários e também do líder do governo na Câmara, André Moura (PSC-SE), na sala onde seria realizada a eleição para a presidência da CPI do DPVAT (seguro de danos pessoais causados por veículos automotores de vias terrestres) chamou a atenção de quem passava pelos corredores da Casa. Indicado pelo presidente interino da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA) para presidir a CPI, o deputado Luís Tibet (PTdoB — MG) tentava angariar apoios para sua eleição na comissão. Foi derrotado, no entanto, por dois votos, pelo deputado Marcos Vicente (PP-ES), candidato de líderes do Centrão e do líder do PP, Aguinaldo Ribeiro (PB), mesmo partido de Maranhão. Foram 15 votos para Vicente e 13 para Tibet.

— Os líderes derrotam o presidente interino da Casa. Essa foi a resposta a essa confusão. Mais um vez, ele ( Maranhão) demonstra que não tem condições de presidir a Casa. Atropelar as lideranças dessa Casa não sei a troco de quê?! — afirmou Ribeiro, depois da vitória apertada de seu candidato.

O líder do governo acompanhou a tensa votação e fez questão de sentar ao lado de Vicente, depois de eleito. André Moura minimiza e diz que não há racha na base, mas uma disputa normal por cargos. E que ele atuou para “pacificar”.

INTERESSE POR CPI CAUSA ESTRANHEZA

Antes do resultado, deputados que militam na área de prevenção de acidentes e de trânsito discursaram, questionando o interesse grande de deputados que não são da área para presidir e relatar a CPI. Nos bastidores, parlamentares ponderam que o tema é de interesse de Seguradoras que pagam o seguro a pessoas vítimas de acidentes de trânsito. Destacam que as CPIs têm poder de convocação e podem ser usadas como instrumento de pressão, tanto corretas, quanto não republicanas.

— Poucas vezes vimos tanto vontade de participar de debates sobre a área de trânsito. Espero que os objetivos sejam republicanos e as consequências dessa CPI sejam republicanas — afirmou o deputado Fernando Francischini (SD-PR), que integrará a CPI.

— Nunca vi tanto interesse nessa área e espero que todos estejam preocupados em investigar as fraudes. Que essa CPI tenha desdobramentos positivos para a sociedade e na redução de acidentes — acrescentou o deputado Hugo Leal (PSB-RJ), também integrante e que sempre atua para a aprovação de projetos de redução de acidentes de trânsito, como o de tolerância zero para o álcool.

Marcos Vicente é da bancada da bola e ligado à CBF. Wellington Roberto (PP-PB), escolhido relator da CPI, também admitiu que não milita na área de trânsito. Segundo ele, o acordo da composição de comando da CPI do DPVAT foi feita na época da criação, quando Eduardo Cunha (PMDB-RJ) estava na presidência. Com o afastamento determinado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), Maranhão assumiu interinamente e indicou Tibé para a presidência, irritando os líderes do Centrão que tinham fechado o acordo.

Wellington Roberto disse que o acordo inicial previa que André Moura seria o relator, mas como ele agora é líder do governo, seu nome foi escolhido pelos líderes.

— É um tema polêmico, acidentes de trânsito, problemas com seguradoras, hospitais, escritórios corporativos de advocacia. O André Moura ia relatar, mas como líder do governo abriu mão. Não sou da área, mas farei a relatoria com muita tranquilidade, de forma coletiva, todos podem contribuir — avisou Wellington Roberto.

O presidente eleito também admite que não é da área, mas acha que isso ajuda na presidência. Ele diz que até por ser ligado à CBF (Confederação Brasileira de Futebol), evitou participar dessa CPI.

— Vou presidir porque houve acordo. Não represento interesses de ninguém, não sou ligado a bancos, a seguradoras. Sou ligado aos interesses do Brasil, bem republicanos. Sou ligado ao futebol, vê se estou na CPI da CBF? Lá acho que seria anti-ético. Vou presidir com bom senso e equilíbrio — disse Marcos Vicente.

Autora da CPI, a deputada Raquel Muniz (PSD-MG), será a primeira vice-presidente, mas estava inconformada com o acordo porque queria presidir o colegiado. Médica de trânsito, ela propôs a investigação porque quer abrir “a caixa preta” do DPVAT:

— Realmente me estranhou o interesse. Muitos que não quiseram assinar a CPI estão aqui hoje. Vou estar presente nas discussões e tentar manter o foco. Seguradoras ganham com isso, atravessadores ganham, ludibriando as famílias. Quero saber para onde vai o dinheiro.

Para garantir a vitória de Marcos Vicente, foram feitas troca de integrantes de última hora. O deputado Ricardo Izar (PP-SP) assumiu nesta quinta-feira e achou curioso o grande interesse de todos:

— Entrei hoje, para votar. Mas vou querer ficar, quero saber o que tem nessa CPI.