Cotidiano

Músicos ganham menos com YouTube do que com vendas em vinil

RIO – Se os músicos dependessem exclusivamente da renda gerada por serviços de streaming mantidos por meio de anúncios, como o YouTube, possivelmente acabariam procurando outra profissão. De acordo com um estudo feito pela BPI, entidade de classe da indústria fonográfica do Reino Unido e responsável pelo prêmio BRIT Awards, a renda gerada pelo streaming de vídeos em 2015 foi de £ 24,4 milhões (cerca de R$ 130 milhões), o que corresponde a apenas 4% da receita total. Links streaming música

Em um comunicado divulgado junto com a pesquisa, Geoff Taylor, presidente da BPI, acusa empresas como o YouTube de abusarem de proteções jurídicas para não pagarem os royalties devidos, ditando os termos das negociações em detrimento dos artistas.

“As consequências de longo prazo são sérias, reduzindo o investimento em novidades no campo da música, dificultando que a maioria dos músicos seja bem remunerada, e minando o crescimento de serviços inovadores como o Spotify e o Apple Music, que pagam de maneira mais justa pela música que usam”, afirma Taylor.

Os números apresentados pela BPI mostram que o consumo de música no Reino Unido aumentou 12,9%, mas a renda gerada pela indústria caiu 0,9%, ficando em aproximadamente R$ 3,6 bilhões. Por outro lado, serviços de streaming de música como Deezer e Tidal tiveram um aumento de 82%, o que levou a um crescimento na renda gerada por eles de 69%.

E, enquanto as vendas de CD continuaram a cair, o mercado de vinil mostra que está cada vez mais forte. Foi o oitavo ano consecutivo em que as vendas de LPs subiram, atingindo um total de £25,1 milhões (R$ 132 milhões). Ou seja: os analógicos discos renderam mais aos artistas do que o digital YouTube.

DIREITOS AUTORAIS EM QUESTÃO

Para Geoff Taylor, a música não pode ser vista apenas como mais uma commodity a ser explorada pelas empresas de tecnologia:

“Em 2015, fãs no Reino Unido assistiram a quase o dobro de vídeos transmitidos por streaming em relação ao ano anterior; dezenas de bilhões de visualizações a mais. Porém, artistas e selos não se beneficiaram da maior demanda que criaram. Isso está errado”, diz o presidente da BPI, que termina convocando o setor a batalhar por melhores condições:

“Como já vimos diversas vezes no mercado digital, a música vai primeiro e depois é seguida pelo resto do setor de conteúdo. O problema exige ações urgentes por parte da União Europeia, e nosso governo precisa tomar a liderança para garantir que o problema seja enfrentado”.

A questão também já foi levantada no Brasil. Um relatório sobre o mercado brasileiro também aponta para o fato de empresas como YouTube gerarem menos receitas, quando comparadas a outros como Spotify e Deezer. Para explicar a questão, o presidente da ABPD (Associação Brasileira dos Produtores de Discos), Paulo Rosa, citou o DMCA, a lei de copyright americana, que inspirou a legislação europeia.

— Isso se deve à legislação americana e europeia e já vem sendo discutido. Para as gravadoras, é melhor aceitar o valor baixo do que ficar tentando tirar o conteúdo de lá, o que é virtualmente impossível — ressalta.

Em uma nota enviada ao jornal inglês “The independent”, a assessoria do YouTube disse que “as alegações que a DMCA seria responsável por uma 'lacuna monetária' na música são simplesmente falsas”. A empresa ainda criticou a comparação a serviços de assinatura:

“À medida que aumentarem os valores investidos na publicidade online, isso vai fazer com que a renda seja compatível com o consumo. Comparações com serviços exclusivos de áudio, de assinatura de música, é como comparar maçãs a laranjas”.