Cotidiano

Mulheres parlamentares sofrem machismo ?real e generalizado? no mundo, diz relatório

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GENEBRA – Membros de parlamentos do gênero feminino em todo o mundo enfrentam machismo, assédio e violência de colegas do sexo oposto e são alvo crescente de campanhas de humilhação online, mostrou um relatório da União Interparlamentar (UI) divulgado nesta quarta-feira.

Este é o primeiro estudo sobre o tema feito pela instituição e sucede escândalos revelados na França e em outros países, onde as mulheres denunciaram abusos nos corredores do poder.

Segundo o relatório, o machismo através da violência e do assédio contra as parlamentares é ?real e generalizado?. Os resultados sugerem ?que o fenômeno não tem fronteiras e existe em diferentes graus nos países, afetando um significativo número de mulheres parlamentares?.

Os dados se baseiam em informações fornecidas por 55 mulheres parlamentares de todas as idades, de 39 países em cinco regiões.

Quatro de cinco mulheres relataram terem sido sujeitas a comportamento hostil que causou danos e temores psicológicos. Outras 44,4% disseram ter sofrido ameaças de morte, estupro, espancamentos e sequestro durante seus mandatos, além de intimidações direcionadas aos seus próprios filhos.

?As entrevistadas disseram que a maioria destes atos foram feitos por seus colegas homens ? dos seus próprios partidos ou dos oponentes?, afirma o documento.

Ter idade menor que 40 anos ou pertencer à oposição ou a um grupo minoritário são ?fatores agravantes? que colocam as mulheres em risco, ainda de acordo com o estudo da UI, baseada em Genebra e que congrega 171 parlamentos de todo o mundo.

O relatório ressalta que as mulheres enfrentam um comportamento hostil e machista não só nos escritórios dos parlamentos ou em reuniões políticas, mas também em novas arenas criadas pelas mídias sociais.

As parlamentares da África subsaariana, Ásia, Europa e Oriente Médio ?descreveram montagens com fotos mostrando-as nuas, imagens delas acompanhadas por comentários depreciativos, desenhos obscenos ou informações publicadas nas mídias sociais sugerindo que elas tinham problemas no casamento e falharam em suas vidas privadas?, completa o documento.

?Uma vez, em um período de quatro dias, recebi mais de 500 ameças de estupro no Twitter?, afirmou uma parlamentar europeia na pesquisa.

?Eu recebo informações sobre meu filho ? sua idade, a escola que ele frequenta, etc ? como forma de ameaça para sequestrá-lo?, denunciou uma congressista asiática.

A instituição recomenda que parlamentares dos dois gêneros denunciem comportamentos como estes e que sejam implementados códigos de conduta e procedimentos para denúncias. As mulheres são 22,8% dos cerca de 46 mil parlamentares no mundo.

? O relatório… abre os olhos, é o primeiro do tipo. Nós fomos mundo afora entrevistar membros dos parlamentos, com suas próprias perspectivas pessoais, a partir de suas próprias experiências ? avaliou Martin Chungong, secretário-geral da UI. ? Estamos vendo como podemos ajudar a resolver estes problemas, porque eles são na verdade uma pedra no caminho para a participação feminina na política.