Cotidiano

Mulheres entram em confronto com judeus ortodoxos no Muro das Lamentações

JERUSALÉM – Dezenas de manifestantes que reivindicam para as mulheres os mesmos direitos de oração que os homens junto ao Muro das Lamentações de Jerusalém entraram em confronto nesta quarta-feira com um grupo de judeus ortodoxos que tentou impedir seu acesso ao local, o mais sagrado do judaísmo. O movimento, batizado ?Mulheres do muro?, luta há anos para que elas possam se reunir para rezar e ler a Torá, o livro sagrado dos judeus, em voz alta diante do muro, além de vestirem o chamado talit, o xale de oração, atos tradicionalmente reservados aos homens no judaísmo.

O movimento ?Mulheres do muro? tem o apoio de diversos grupos judeus liberais que já outorgam às mulheres os mesmos direitos que os homens nos rituais da religião judaica. Atualmente, no entanto, as mulheres que desejam rezar junto ao Muro das Lamentações ainda têm que fazê-lo individualmente em um pequeno espaço à parte no local.

Mas nesta quarta, dezenas de mulheres do movimento, apoiadas por rabinos e integrantes de comunidades judaicas não ortodoxas de Israel e de fora do país, marcharam em direção ao muro levando rolos da Torá como gesto adicional de desafio. Para os judeus ortodoxos, só homens podem carregar a Torá, que contém cópia dos ensinamentos ?divinos? de Moisés.

Assim, os cerca de 200 manifestantes acabaram se chocando com um grupo de homens ortodoxos que, aos gritos, tentou tomar-lhes os rolos. Apesar disso, as ?Mulheres do muro? conseguiram entrar na área de oração com os rolos da Torá.

? Tudo que queremos é que os ultraortodoxos não tenham o monopólio do judaísmo e que o governo reconheça que não há apenas uma maneira de ser judeu em Israel e no exterior ? explicou Sylvie Rozenbaum, uma das ?Mulheres do muro?, que contou ainda que pelo menos duas mulheres foram atiradas ao chão no confronto com os homens ortodoxos, enquanto ela própria teve os óculos quebrados.

O rabino encarregado do Muro das Lamentações, Shmuel Rabinowitz, porém, criticou a manifestação das ?Mulheres do muro?, que classificou como uma provocação.

? (Elas) feriram a sensibilidade de milhares de fiéis, homens e mulheres, e profanaram a Torá, fazendo-a passar de mão em mão como se fosse um objeto vulgar ? afirmou.

Depois de anos de luta, o governo israelense decidiu em janeiro deste ano criar um espaço misto de oração na parte Sul do Muro das Lamentações, que os judeus acreditam ser uma das paredes remanescentes do Templo de Herodes, destruído pelos romanos em 70 d.C.. A área, no entanto, ainda não foi oficializada devido à oposição dos partidos políticos ultraortodoxos, integrantes da coalizão do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.