Cotidiano

Mudanças na educação física são problemas na saúde pública, apontam especialistas

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RIO – “Em estado de emergência”. É assim que o presidente do Conselho Regional de Educação Física do Rio de Janeiro e Espírito Santo (CREF1), André Fernandes, define a situação dos profissionais e pesquisadores de educação física desde que o governo federal anunciou uma reforma do ensino médio por meio de uma Medida Provisória (MP). Entre outras medidas, o texto estabelece a obrigatoriedade das disciplinas de artes e educação física apenas para o ensino fundamental, deixando as definições sobre a última etapa da educação básica para a Base Nacional Comum Curricular.

Membros do CREF1 estiveram reunidos na manhã desta sexta-feira para avaliar o que será feito daqui pra frente pela categoria, mas a situação está sendo tratada como urgente. Uma nota deve ser divulgada hoje pelo conselho.

? A retirada da obrigatoriedade da educação física no ensino médio é um absurdo em um país que acaba de sair de uma Olimpíada e que enfrenta graves problemas de saúde pública. A educação física, além dos benefícios da própria prática, cria hábitos saudáveis. Sem ela, teremos mais crianças, adolescentes e adultos sedentários, e um aumento de pacientes em postos de saúde e hospitais ? lamenta Fernandes.

Pesquisador da Universidade Federal de Pelotas, Pedro Hallal classifica a medida como “um dos maiores retrocessos na educação brasileira nos últimos 20 anos”. Para além das evidências científicas da prática esportiva ao longo da vida, Hallal aponta para a falta de diálogo do governo com a sociedade civil e denuncia uma concepção equivocada sobre o que deve ser o ensino médio.

? Está expressa nessa proposta uma visão equivocada de que o ensino médio é unicamente uma preparação para o vestibular e para a faculdade. O ensino médio é parte importante do processo de educação. Não houve nenhuma discussão sobre essa reforma, que piora ainda mais as condições da educação física no Brasil ? afirma.

Fernandes e Hallal apontam que as evidências científicas são inúmeras na constatação que a atividade física durante a vida escolar afeta, do curto ao longo prazo, a cognição, a memória, indicadores de saúde e sociabilidade.

? A educação física deve estar presente com a mesma frequência em todos os anos, inclusive na preparação para o vestibular durante o 3º ano. A adolescência é um período de transição na constituição óssea, por exemplo, que no futuro pode prevenir a osteoporose ? aponta Hallal.