Cotidiano

Muçulmanas dizem que usam burquínis como mulheres livres

201608190646489196_AFP.jpg PARIS ? Diante da proibição do burquíni em diversas cidades na França, mulheres muçulmanas que costumam vestir o traje de banho islâmico vêm expressando indignação e lamentam por, mais uma vez, se sentirem estigmatizadas pelos seus costumes. Elas dizem que usam a vestimenta como mulheres livres, em uma mistura entre a tradição de se banharem cobertas e a praticidade de uma roupa feita especialmente para os passeios na praia.

Wendy, de 22 anos, é estudante de Direito em Lille, no Norte da França. Muçulmana convertida, ela usa o véu há três anos. No verão passado, fez um burquíni com malha, saia de tênis e uma camiseta. Neste ano, comprou seu primeiro burquíni em um site especializado.

? Não vejo por que devo colocar um biquíni quando estou de férias. Não é coerente diz a estudante, antes de acrescentar rindo: ? Não sou a favor de ir para a água vestida. Estragaria minha roupa. Quero me banhar tranquilamente.

Após os atentados jihadistas terem inflamado o debate sobre o Islã na França, uma nova polêmica surgiu sobre o traje, que cobre o corpo da mulher da cabeça aos tornozelos. Em agosto, vários municípios da costa mediterrânea decretaram a proibição de usar burquíni nas praias.

Já Lamia, companheira de estudos de Wendy, cresceu em Dunkerque, perto do mar. Ela lembra de sua mãe de saia preta na praia, quando era pequena. Neste ano, ela viajou a Nice e Cannes, onde se banhou de burquíni dias antes dos decretos de proibição.

Na França, que conta com 5 milhões de muçulmanos, os burquínis são pouco usados. Uma minoria das mulheres vai à praia coberta.

? Sua roupa ficava molhada, e a areia grudava nela. O burquíni facilita a vida das muçulmanas que sempre se banharam vestidas ? disse. ? Eu era quase a única que usava. Vi dois, ou três, talvez. Ninguém se importava.

As jovens argumentam que quem usa o burquíni são mulheres livres, que tomam suas decisões e apenas desejam desfrutar das férias. Por isso, classificam de absurda a relação que muitos estabelecem entre o traje e a radicalização.

? Para os fundamentalistas, os extremistas, a praia é para os infiéis. Elas não vão se banhar cercadas de mulheres com os seios de fora em Cannes ? completou Lamia.

Tatiana, vendedora em uma loja de moda islâmica em Paris, desaprova o nome “burquíni” para o traje de banho islâmico, assim como as outras jovens. Elas dizem que a designação ganha uma conotação pejorativa, porque faz referência às burcas, que cobrem o corpo todo das mulheres e deixa apenas uma estreita rede para os olhos.

A vendedora explica que vende vários modelos coloridos do burquíni há anos. Entre suas clientes, ela diz há muitas mães que querem brincar na água com os filhos:

? Vende-se regularmente, sobretudo, antes das férias ? completa.

Além do burquíni, Tatiana relata que, nas ruas, as agressões verbais sobre suas roupas crescem.

? Nós não criticamos a forma como os outros se vestem. É triste. Dizem para nós que esse não é nosso lugar ? lamenta Tatiana.

Na quinta-feira, o Conselho de Estado francês, a mais alta jurisdição administrativa do país, examinará uma ação apresentada pela Liga de Direitos Humanos (LDH) contra os polêmicos decretos antiburquíni.