Cotidiano

MPF diz que Palocci teve 'papel central' nos governos Dilma e Lula

SÃO PAULO. A força-tarefa da Lava-Jato afirma que o ex-ministro Antonio Palocci, acusado de movimentar uma conta de propinas de R$ 128 milhões, exercia “papel central” na gestão do PT e continuou a atuar mesmo depois de ter deixado o governo. Na denúncia apresentada à Justiça por pagamento de US$ 10,2 milhões feito pela Odebrecht ao marqueteiro João Santana, o MPF afirma que o ex-ministro possuia “amplo acesso e ascendência sobre as decisões adotadas por diversos agentes políticos e ocupantes de cargos e funções públicas de relevo na administração pública federal”, entre eles os presidentes Dilma e Lula, além de ministros e diretores de autarquias e estatais.

Para os procuradores, Palocci era uma das principais autoridades do PT na definição das plataformas políticas e de governo, além de reconhecido tanto pelas autoridades quanto pelo empresariado, que via nele “um grande interlocutor com a cúpula da administração federal e um personagem-chave na definição dos rumos político e econômico das gestões petistas dos governos Lula e Dilma”.

De acordo com a força-tarefa, Palocci era o principal interlocutor do ex-presidente Lula e ia com frequência a reuniões no Instituto Lula, onde era atualizado e consultado pelo ex-presidente sobre os projetos do governo.

Além disso, mantinha forte contato com os empresários e levava ao governo as reivindicações deles. Em depoimento de delação, o ex-senador Delcídio do Amaral afirmou que Palocci não só apresentava as demandas aos ministros, mas passava a “acompanhar o andamento em reuniões posteriores”.

Além do prestígio, dizem os procuradores, Palocci era também um homem de confiança do partido, escolhido para receber e coordenar os repasses de valores ilícitos, ao lado de João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do PT já condenado na Lava-Jato.

O MPF afirma que o “caixa geral” gerenciado por Palocci não recebeu recursos apenas da Petrobras, mas de diversas fontes onde houve corrupção.

As propinas, afirma o MPF, eram pagas mesmo depois que os agentes públicos ou funcionários públicos corruptos deixavam seus cargos, seja porque continuavam a exercer influência no governo ou como “retribuição monetária” por vantagens ou benesses concedidas durante o tempo em que exerceram seus cargos.

O MPF afirma que o PT atribuiu a outros membros do partido a tarefa de arrecadar propina e eles faziam contato pessoal com os empresários para cobrar os valores acertados – atuavam como “gerentes controladores” dos pagamentos ilícitos pactuados em cada estatal ou setor a ele destinado.

Procurado, o Instituto Lula não quis se manifestar.