Cotidiano

Mostra na Colônia Juliano Moreira homenageia Bispo do Rosário

Este mês, o Museu Bispo do Rosário, na Colônia Juliano Moreira, lançou a exposição “Das virgens em cardumes e da cor das auras”, que vai até janeiro. Entre mantos, estandartes, fotos e instalações, o visitante poderá conhecer obras do próprio Arthur Bispo do Rosário, ex-interno do local, e outras de artistas que dialogam com seu trabalho ou refletem sobre seu lado místico e performático.

Reza a lenda que na noite do dia 22 de dezembro de 1938, Bispo do Rosário foi acordado por uma visão com a mensagem de que ele era um enviado de Deus e revolucionaria a Terra. Ao revelá-la, o ex-boxeador e ex-soldado da Marinha recebeu diagnóstico de esquizofrênico-paranoico. Acabou passando a maior parte da vida no manicômio da colônia. Ali, durante mais de 50 anos, concebeu as obras hoje preservadas no museu.

A curadora, Daniela Labra, selecionou 60 delas com a função de aproximar o visitante da visão de mundo de Bispo, de suas ideias, agonias e indagações. Há itens inéditos, como fotografias do artista na época em que esteve no Pinel, feitas por Jean Manzon. Também encontram-se trabalhos de outros pacientes da Juliano Moreira.

Programa educativo para alunos

A homenagem já começa no longo título da exposição, que faz referências a episódios da vida de Bispo do Rosário. A frase “Venham as virgens em cardumes” é encontrada em um bordado feito pelo artista, que costumava perguntar “qual é a cor da minha aura?” durante os sete anos em que morou sozinho em uma ala da colônia.

Algumas de suas obras que já haviam sido apresentadas anteriormente estão expostas de maneira inédita, mais fiel à sua concepção. De volta à atmosfera de cortejo, os estandartes, por exemplo, estão posicionados entre os pavilhões da colônia da forma como Bispo do Rosário o fazia.

— Há relatos de que ele organizava cortejos com os outros pacientes. Quisemos resgatar essa perspectiva. Até quem já conhecia sua obra poderá ver os trabalhos a partir de uma visão diferente — explica Bianca Bernardo, coordenadora de educação do museu.

Considerada a obra mais relevante do acervo, o Manto da Apresentação também está na exposição. O tecido bordado com frases e figuras misteriosas era uma das vestimentas que Bispo mais usava.

— Ele queria catalogar o mundo a partir da sua perspectiva. Apropriava-se do seu entorno; utilizava botões, linhas e tecidos e imprimia seu estilo — explica a guia Marilia Cardoso.

Plural em formato e em questionamentos, a exposição trabalha conceitos como o divino, a beleza, o feminismo e o sincretismo religioso, além de fazer críticas políticas e sociais. Para a diretora do museu, Raquel Fernandes, “Das virgens em cardumes e da cor das auras” é uma oportunidade de valorizar Jacarepaguá e envolver a comunidade:

— Muita gente estigmatiza a colônia e não identifica referências culturais em Jacarepaguá. Nossa intenção é potencializar o local como um centro artístico e de debates.

Integrante do Circuito Cultural Rio, programação cultural oficial dos períodos olímpico e paralímpico, a exposição também oferece atividades fora do museu, como o passeio pelos pavilhões da colônia e o programa educativo Merendeira Cor de Rosa.

— Trabalharemos com 14 escolas municipais. Atenderemos mais de 700 crianças e todas receberão um kit rosa, porque queremos trabalhar a questão de gênero com elas — diz Bianca Bernardo.