Cotidiano

Morte de Fidel divide reações mundiais entre homenagens e críticas

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HAVANA ? A morte aos 90 anos do ex-presidente de Cuba e líder da revolução comunista no continente americano, Fidel Castro, despertou reações totalmente distintas pelo mundo. A notícia, apesar de seu frágil estado de saúde, pegou de surpresa os cubanos e repercutiu no mundo através de mensagens de condolências de vários dirigentes e líderes mundiais.

A morte foi anunciada pelo irmão e atual líder, Raúl Castro, em pronunciamento na TV estatal na madrugada deste sábado. O ex-líder governou a ilha caribenha por quase meio século antes de entregar os poderes a Raúl, em 2008. Em um comunicado, o governo declarou nove dias de luto nacional e programou uma semana de homenagens. O ex-líder morreu às 22h29 e seu corpo será cremado, “atendendo a seus pedidos”, informou o Raúl. As cinzas percorrerão Cuba em caravana de quatro dias e depois serão enterradas em 4 de dezembro, em Santiago de Cuba.

“Em cumprimento da vontade expressa do companheiro Fidel, seus restos serão cremados nas primeiras horas deste sábado”, disse o presidente em uma mensagem na televisão.

Fidel Castro morre aos 90 anos

A divisão teve seu auge na distinção na reação do atual e do futuro presidentes dos EUA, de quem Cuba se reaproximou nos últimos dois anos. Barack Obama disse que a História recordará e julgará o enorme impacto desta figura singular no povo e no mundo a seu redor?. Já Donald Trump chamou-o de “ditador brutal que oprimiu seu próprio povo por quase seis décadas”.

“O legado de Fidel Castro é de pelotões de fuzilamento, roubo, sofrimento inimaginável, pobreza e negação de direitos humanos fundamentais”, disse ele em nota.

Em Miami, vários cubanos expatriados saíram às ruas para celebrar. Os senadores republicanos de origem cubana Ted Cruz e Marco Rubio emitiram comunicados
com termos duros, com o primeiro dizendo que ?a ditadura continua? e o segundo,
que ?o dia é de honrar o povo que sofreu? sob o regime castrista.

? Eu estou derramando lágrimas esta noite, mas lágrimas de alegria ? disse à CNN Armando Salguero, colunista do Miami Herald. ? O inferno tem um lugar especial para Fidel Castro e existe uma vaga a menos no inferno esta noite.

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No Brasil, o tom variou entre o comedido do presidente Michel Temer, que disse que Fidel Castro “foi um líder de convicções que marcou uma era“, ao muito solidário dos ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff.

“Sinto sua morte como a perda de um irmão mais velho, de um companheiro insubstituível, do qual jamais me esquecerei”, escreveu Lula. Dilma também lamentou a morte, dizendo que ela é “motivo de dor e luto”.

Para o presidente russo, Vladimir Putin, Fidel foi “um amigo da Rússia, sincero e confiável”. Os aliados regionais lamentaram muito a perda de Fidel, uma das maiores referências políticas. ?Há 60 anos da partida do (barco) Granma do México, parte Fidel para a imortalidade dos que lutam por toda a vida. Até a vitória sempre?, disse Nicolás Maduro, presidente da Venezuela. ?Dói muito a morte do comandante?, admitiu Evo Morales, presidente da Bolívia.

O Papa Francisco expressou pesar pela morte de Fidel, “líder de uma amada nação” e quem conheceu em 2015. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, reconheceu avanços nos campos da educação e saúde. “Eu espero que Cuba continue avançando no caminho da reforma e maior prosperidade”.

Cuba prepara funeral de Fidel Castro

LUTO DE NOVE DIAS

O luto nacional será de nove dias. De segunda a terça-feira, os cubanos poderão se despedir de Fidel na Praça da Revolução, em Havana, onde haverá um grande ato. “Durante a vigência do luto nacional cessarão as atividades e os espetáculos públicos, ondeará o pavilhão nacional a meio o mastro nos prédios públicos e estabelecimentos militares”, diz o texto divulgado pela imprensa estatal.

Único nome ainda vivo dos grandes protagonistas da Guerra Fria, Fidel encarnou o símbolo do desafio a Washington: o guerrilheiro de barba e uniforme verde oliva, que fez uma revolução socialista, marxista-leninista, a apenas 150 km do litoral dos Estados Unidos.

Ele foi visto publicamente pela última vez em 15 de novembro, quando recebeu o presidente do Vietnã, Tran Dai Quang.

Morte de Fidel

Em abril, Fidel fez um discurso raro no último dia do congresso do Partido Comunista. Na ocasião, ele reconheceu a idade avançada, mas disse que os conceitos comunistas cubanos ainda eram válidos e o povo cubano “será vitorioso”.

Enquanto seus partidários o consideram o homem que devolveu Cuba ao povo, seus oponentes o acusam de suprimir brutalmente a oposição.

Em agosto, a festa de aniversário de 90 anos de Fidel Castro reuniu mais de 100 mil pessoas na capital cubana. Aposentado há 10 anos, o ex-líder era praticamente inacessível. Só recebia visitas esporádicas de personalidades em sua casa em Havana.

A morte de Fidel Castro encerra 60 anos de história, marcada pelo seu desembarque em Cuba com um grupo de rebeldes do México, em 1956, para conduzir os guerrilheiros que derrubaram o ex-ditador Fulgencio Batista, em 1959.

Desde que se viu foi forçado a deixar o poder, em 2006, a principal atividade pública de Fidel Castro foi a publicação de artigos na imprensa cubana. Em março, dias depois da visita histórica de Barack Obama na ilha, ele publicou uma coluna na qual mostrou sua resistência ante a aproximação histórica com os Estados Unidos. Fidel