Cotidiano

Morre Tony Mayrink Veiga, ícone do high society

mayrink.jpgRIO – Filho de Nya e Antenor Mayrink Veiga, Antônio Alfredo, mais conhecido como
Tony, nasceu na Copacabana da década de 1930. Na juventude, um de seus programas
preferidos era esquiar nas águas da Baía de Guanabara, na companhia do amigo
Ermelino Matarazzo. Quando terminou a escola, foi fazer faculdade de economia
nos Estados Unidos.

Em seu retorno ao Rio, Tony conheceu a paulistana Carmen
Terezinha Solbiati, frequentadora dos desfile de alta costura francesa e já
famosa no mundo da moda. No noivado, ele a presenteou com um Chrysler branco ? o
automóvel foi trazido ao Brasil num navio fretado. Tony e Carmen se casaram em
1956, em São Paulo. A cerimônia foi um acontecimento, com cobertura das revistas
mais importantes da época.

Tony e Carmen Mayrink Veiga formavam um dos casais mais
elegantes da alta roda. Certa vez, eles foram considerados por Truman Capote,
Diana Vreeland e Anna Wintour, na ?Vogue? americana, ?o casal mais chique da
América do Sul?. No apartamento de mil metros quadros da Avenida Rui Barbosa,
com vista deslumbrante para o Pão de Açúcar, o casal costumava receber para
jantares regados a champanhe.

O casal frequentava o jet set internacional.
Avesso a badalações mas não menos acostumado a luxos, um dos programas
preferidos de Tony era a caça. Participava de expedições na companhia de gente
como os duques e as duquesas de Windsor e Malborough, o barão e a baronesa de
Silvia Amélia de Waldner, o barão David de Rotschild, o rei Constantino da
Grécia, a princesa Soraya do Irã e até Clark Gable. O programa começava
normalmente às sextas-feiras com jantares black-tie. Mas nada que atrasasse o
início da busca por faisões, perdizes ou veados, que começava religiosamente às
sete horas da manhã.

Foi caçador até 1985. Entre uma partida e outra de tênis
no Country Club, na Praia de Ipanema, Tony costumava narrar os seus feitos: ele
garantiu que, certa vez, matou, numa só caçada, 30 javalis. Outra vez, passou 18
dias no Alasca, a 40 graus negativos, rastreando um único urso.

CAÇA E ESQUI

Além de caçar e de jogar tênis, Tony costumava passar as férias com a família
em estações de esqui nos Estados Unidos e na Europa. Ele aprendeu a praticar o
esporte na neve depois dos 50 anos.

O alto padrão de vida foi impactado pelo Plano Collor, na
década de 1990, quando a Casa Mayrink Veiga iniciou processo de falência.
Fundada em 1864, a empresa representava armamentos para o Exército brasileiro.
Nos anos 1980, a Casa Mayrink Veiga passou a ser também fabricante de armas.
Tony assumiu a empresa da família em 1969, quando o seu pai morreu. Antes disso,
ele trabalhava na empreiteira Sociedade Brasileira de Urbanismo ? sua última
obra de vulto foi a construção da descida da Serra de Petrópolis, realizada em
1970. A família também foi proprietária da Rádio Mayrink Veiga, fechada após o
golpe militar, em 1964.

A falência da Casa Mayrink Veiga foi oficialmente
decretada em 2002. Cinco anos depois, o anúncio do leilão de bens da família
para o pagamento de dívidas agitou o mercado de arte. Na ocasião, foram postos à
venda um serviço de porcelana japonesa do século XVI, joias e quadros de
Guignard, Milton Dacosta, Volpi, Di Cavalcanti, entre outros artistas de renome.
Um dos maiores destaques da venda, amplamente divulgada pelos jornais, foi um
Rolls-Royce 1951, que pertencia à família desde que saiu da fábrica inglesa.

Em 2013, em um novo leilão, mais de 100 peças de arte e decoração foram
arrematadas em São Paulo. No entanto, o item mais cobiçado da venda ? o retrato
de Carmem, pintado por Portinari em 1959 ? não encontrou comprador e continuou
com a família. O motivo desse segundo leilão foi a mudança para um imóvel menor,
contíguo ao antigo apartamento na Praia do Flamengo.

Internado há uma semana no Hospital Silvestre, no Cosme
Velho, Tony morreu ontem por falência múltipla de órgãos. Ele deixa a mulher,
Carmen, dois filhos, Antenor e Antonia, e cinco netos.