Cotidiano

Morre Lucíola Villela, matriarca da família Barreto, de cineastas

20161203-145232.jpgRIO – Morreu na manhã de sábado, durante o sono, aos 101 anos de idade, Lucíola Villela, matriarca da família Barreto, de cineastas. Mãe da produtora Lucy, sogra do produtor e fotógrafo Luiz Carlos e avó dos diretores Bruno e Fábio, ela participou ativamente dos filhos dos netos, até os anos 1990, conseguindo financiamento, dando palpites nas locações, costurando figurinos, sugerindo atores e, quase sempre, aparecendo em pontas.

Lucíola vendeu um apartamento para financiar a primeira aventura séria de Bruno Barreto na direção, “Tati, a garota”, longa que ele fez aos 16 anos de idade, baseado num conto de Aníbal Machado. Foi a avó quem pediu à filha de Machado, Maria Clara, para que mudasse o nome do livro em que o conto estava – “A morte da porta-estandarte e outras histórias” – para “Tati, a garota e outras histórias”, a fim de ajudar na divulgação do filme.

“Trabalhamos duro mas fizemos um belo filme. Fiz a produção executiva, a divulgação e até o bolo de papelão e glacê”, lembrou ela, em 1998, quando “O que é isso companheiro?”, filme de Bruno, concorreu ao Oscar de filme estrangeiro.

Goiana de Bela Vista, Lucíola se casou aos 16 anos, depois de um curto namoro, e ajudou o marido a transformar terras virgens no Paraná numa fazenda. Além de dar a primeira câmera a Bruno Barreto, uma Super 8, aos nove anos de idade, foi ela que conseguiu do escritor Marques Rebelo, paciente de seu marido, licença para que o neto filmasse “A estrela sobe”, seu segundo longa-metragem. Ela ainda costurou vestidos da personagem de Betty Faria e deu palpites nas filmagens.

Mais tarde, em “Dona Flor e seus dois maridos”, ela reuniu amigas para servirem de extras. E em “Amor bandido”, passou madrugadas em Copacabana acompanhando Bruno e gritando “corta!” quando alguma coisa saía errada.

Com o outro neto, Fábio aconteceu o mesmo. “Desde seu primeiro curta, ‘José e Maria’, percebi que ele tinha talento”, disse em 1998 Lucíola, que indicou a Fábio o conto “Índia”, de Bernardo Élis. “Ele se apaixonou e decidimos realizar o filme (“India, a filha do sol”, de 1982) na Fazenda Canuanã, em frente à ilha do Bananal, junto à aldeia dos carajás. Fizemos um belo filme.”

Lucíola Villela também Produziu também a “Igreja dos Oprimidos” e ” Bye Bye Brasil” (de Cacá Diegue) e co-produziu “Dona Flor e seus dois maridos”, “Inocência” (Walter Lima Junior) e “Memórias do cárcere” (Nelson Pereira dos Santos).

Lucíola deixa três filhos, nove netos, 19 bisnetos e sete tataranetos. O velório acontece no domingo, a partir das 10h, na capela 2 do Cemitério do Caju e a cremação será as 14h30m no Memorial do Carmo.