Cotidiano

Morre Carlos Perico, dono do tradicional restaurante Antiquarius

2015 835210081-2015 830472782-2015070460742.jpg_20150720.jpg_20150704.jpgRIO ? Chegar ao Antiquarius ainda pela manhã, sentar-se em sua cadeira cativa no bar e recepcionar os clientes com a cortesia de sempre. Essa era a rotina do português Carlos Perico, que em 1977 abriu no Leblon um dos restaurantes mais emblemáticos da gastronomia carioca. Durante 39 anos, quase todos os dias ele estava lá, para o almoço e o jantar. Até em datas especiais, como Natal e aniversários, ele não tinha dúvidas: era no restaurante que reunia a família e os amigos.

? Ele dedicou a vida ao Antiquarius. Morava na mesma rua do restaurante, no Leblon, dois prédios depois. E, lá, mudou o jeito de o carioca se relacionar com a gastronomia de luxo, com um serviço mais informal e próximo dos clientes, muitos deles que eram chamados pelo nome ? conta o filho do empresário, Antônio Perico, conhecido como Tó.

Perico aportou no Rio em 1976, vindo de Elvas, cidade portuguesa perto da fronteira com a Espanha, na região do Alentejo, onde nasceu. Segundo Tó, foi em Portugal que o pai conheceu o ex-governador do Estado da Guanabara Carlos Lacerda, que vivia na Europa na época. O político o incentivou, mais tarde, a vir para o Rio. A mudança aconteceu após a Revolução dos Cravos, movimento que derrubou o regime ditatorial salazarista em Portugal. Inicialmente, o período de permanência no Brasil seria curto, por volta de seis meses. Mas, no ano seguinte, o empresário fincou raízes de vez e abriu, com o sócio Antonio Pimenta, o Antiquarius no Leblon, que logo ganharia a admiração de políticos e artistas.

Dedicada à gastronomia portuguesa, a casa se tornou um dos grandes restaurantes do país. As receitas típicas da terra natal também contribuíram para apresentar aos paladares brasileiros carnes exóticas, como as de coelho, de cabrito e de javali, antes não tão exploradas por aqui, como Perico gostava de ressaltar com seu sotaque bem carregado. Os pratos eram criados por ele, sempre com a preocupação de manter a simplicidade, ingrediente que julgava indispensável. Outro símbolo do restaurante foi um compatriota de Perico, Manoel Pires ? conhecido como Manoelzinho ?, que foi maître da casa até 2014.

Inspiração num antiquário

A decoração da casa também teve o dedo do empresário. Era inspirada na loja que Perico mantinha em Portugal: um antiquário, ramo que rondava a família. Ao longo dos anos, o Antiquarius estendeu sua atuação para São Paulo e Brasília, além de abrir uma casa na Barra.

Carlos Perico morreu ontem, às 13h18m, no Hospital Samaritano, em Botafogo, por insuficiência cardíaca. O empresário, de 81 anos, sofreu dois AVCs em menos de um mês. Ele foi internado na UTI do hospital após o segundo, há cerca de 15 dias. A previsão, segundo a família, é que o velório seja realizado a partir das 11h de amanhã e que o corpo seja cremado às 15h, no Memorial do Carmo, no Caju. Perico deixa dois filhos, Tó e Carlos Perico Filho, o Carlito, além da viúva Alia e sete netos.