Cotidiano

Morador já denunciou, com vídeos, série de roubos em rua de colégio invadido

assaltoescola.jpgRIO – Ele assistia dia sim, outro também, a assaltos na vizinhança. Poderia ter se
conformado e ficado apenas torcendo para não virar alvo dos bandidos. Mas,
indignado com a falta de segurança, o morador de Piedade foi além. Há dois anos,
assumiu um papel que deveria ser do poder público e espalhou câmeras pelas ruas
Sousa Cerqueira e Xisto Bahia, que viraram território livre de criminosos. Na
rotina de ataques gravados, flagrou desde um assalto em que uma mulher ficou sem
a bolsa até o roubo de um carro a apenas 20 metros de uma blitz da PM. A
violência arquivada em pen drive, depois das muitas queixas que não comoveram a
polícia, ganhou um capítulo que o solitário denunciante nunca imaginou ver em
sua novela diária. Um bando invadiu, na segunda-feira à noite, a Escola Municipal João
Kopke, rendeu alunos que assistiam à aula, roubou celulares, outros objetos e
ainda espancou, com socos e chutes, uma professora apenas porque ela se
atrapalhou na hora de entregar a chave de seu carro para a fuga. Essas cenas o
morador não tem, mas, se todas as outras registradas diariamente por ele
tivessem sido levadas a sério, o terror que tomou conta do colégio poderia não
ter acontecido. Segurança- 14/06

Faltava pouco para as 21h de segunda-feira quando quatro bandidos, com
pistolas, entraram na escola, que, à noite, mantém turmas com alunos da rede
estadual. Alguns estudantes juram que um deles portava um fuzil. Os criminosos
percorreram o corredor do colégio, entrando nas salas para assaltar os alunos.
Alguns estavam em aula, outros faziam provas. Como uma adolescente de 17 anos,
que fazia avaliação de inglês, espanhol e português, quando foi surpreendida por
um ladrão. Segundo ela, o bandido mandou um outro estudante recolher os
celulares de todos.

? Fiquei muito assustada e tremendo. Eles nos ameaçavam, e um deles chegou a
soprar o cano da pistola. Depois que foram embora, larguei as provas e abandonei
a escola. Saí correndo. Não parei para nada ? disse a jovem, que será
matriculada pela mãe numa escola particular depois de chegar em casa
traumatizada, aos prantos.

SEGUNDO CELULAR ROUBADO EM 15 DIAS

Um outro aluno, de 21 anos, do segundo ano do ensino médio, teve o celular
roubado durante o arrastão.

? É o segundo celular em 15 dias. Há duas semanas, bandidos pararam na
entrada da escola e assaltaram todos que entravam. O portão fica aberto, é fácil
demais para qualquer um entrar ? lamentou.

A professora que apanhou dos bandidos leciona
matemática. Ela tem 53 anos e ficou muito perturbada ao ser abordada pelos
criminosos, que pretendiam fugir em seu carro. Para alguns alunos, ela se
atrapalhou para entregar as chaves, o que teria motivado as agressões. Outros
contaram que os assaltantes podem ter achado que ela tentava esconder a bolsa
para que não a levassem. Há relatos de que a professora desmaiou, de tão
nervosa. Ela chegou a ir à 24ª DP (Piedade), mas, abalada, deverá voltar nesta quarta-feira
para ser ouvida pelos policiais.

? Um dos bandidos disse: ?Está reagindo a assalto? Quer morrer?? E partiu
para cima da professora com socos e pontapés ? contou um dos jovens que,
aterrorizado, assistiu à cena.

Apavorado, outro estudante disse que saiu correndo com medo DE que o
assaltante que espancava a professora disparasse contra ele.

? Eu saí da sala correndo porque ele começou a apontar a arma para todos os
lados. A gente entrou numa outra sala, e só dava para ouvir os gritos dela de
desespero, e ele batendo nela. Foi horrível ? contou.

O morador que tentou dar visibilidade a uma insegurança
invisível para as autoridades disse que a situação só piorava nos últimos
tempos. O assaltos, frisou, se intensificaram. Ele contou que sempre encaminhava
seus flagrantes para o batalhão da PM da região. Procurado ontem pelo GLOBO, o
comandante do 3º BPM (Méier), coronel Luis Teixeira, afirmou desconhecer os
fatos. Disse ainda que, mensalmente, faz reuniões com representantes dos
colégios para conhecer as subnotificações da área, ou seja, crimes como roubos e
furtos que não são registrados pelas vítimas na delegacia.

? Aquela é uma área conflagrada, é subida do Morro do Urubu. Mês passado,
fizemos uma reunião do conselho de segurança naquela escola. Nesses encontros,
tentamos estabelecer uma relação para ter ideia dos crimes que não são
computados nem pela delegacia, nem pelo Instituto de Segurança Pública ?
explicou.

Os bandidos fugiram levando, além dos pertences de
funcionários e alunos, dois carros de docentes. Um deles foi localizado ontem
numa favela que pertence a uma facção rival daquela que atua no Morro do Urubu,
vizinho ao colégio.

Ontem, uma patrulha da PM passou o dia nos arredores do colégio. Mas os
alunos, amedrontados, não apareceram. Ao redor, nos postes, cartazes alertavam
para os riscos na região: ?Cuidado, morador, você pode ser assaltado. Zona de
perigo?.

Pela manhã, a diretora da parte municipal da escola (as aulas ministradas de
dia) esteve na delegacia de Piedade para registrar o roubo de equipamentos da
unidade. Com medo, ela também não quis dar entrevista, nem revelar o que foi
levado.

PM DIZ QUE REFORÇOU PATRULHAMENTO

Em nota, a Secretaria estadual de Educação afirmou que pedirá à PM reforço no
policiamento do local. O órgão disse ainda que solicitará à Polícia Civil uma
investigação sobre o caso. Também por nota, a PM informou que militares do 3º
BPM foram acionados para intensificar o patrulhamento na área.

Os flagrantes do pen drive do morador revelam muito
sobre o que vinha acontecendo na região. Uma das imagens mostra o momento em que
um bandido desce da garupa de uma motocicleta e atira contra um homem que estava
namorando, encostado num carro, na Rua Xisto Bahia. A vítima é vista correndo na
direção da Rua Sousa Cerqueira, onde fica a Escola João Kopke.

Os alunos completam a história que as câmeras não
conseguiram flagrar na ocasião. A vítima, em fuga, entrou no colégio, para
tentar se proteger dos tiros.

? O homem entrou na escola e o atirador foi atrás. Ele disparou dentro da
escola, onde havia aula ainda. Houve pânico. Todo mundo se escondeu. Mas a
vítima conseguiu fugir ? contou um estudante.

Há 20 dias, o ?câmera de Piedade? flagrou outra cena:
três bandidos num carro preto fizeram um arrastão na Rua Xisto Bahia. Roubaram
pertences de um homem que passeava com o filho (o menino pedalava um
velocípede), atacaram um morador que entrava num carro e um grupo de mulheres
que conversava em frente às suas casas. Uma delas conseguiu esconder a bolsa
embaixo do carro em que estava encostada. Outra jogou o celular no chão e
recebeu um tapa no braço ao ser descoberta.

No último dia 3, as câmeras instaladas pelo morador inconformado com a
violência mostram quando um grupo foi rendido na Xisto Bahia. Os criminosos, que
chegaram num carro claro após passarem por uma blitz, saltaram e levaram o
veículo de um grupo estacionado do outro lado da rua. Um minuto depois, chamados
por vizinhos, PMs saíram de automóvel para tentar capturar os ladrões.

? Aquele tempo entre o roubo e a reação dos PMs pareceu uma eternidade. Os
moradores ficaram impotentes ? disse o autor dos flagrantes. ? Mando as imagens
para a polícia, e não acontece nada. Achava que estava ajudando, mas vejo que
nada acontece.

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