RIO ? Formado pela rede pública de ensino, Cainã Figueiredo, de 18 anos, foi aprovado em primeiro lugar entre candidatos cotistas do curso de Ciências da Computação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); e em quarto no de Engenharia da Computação, sua primeira opção ao se inscrever no vestibular. O candidato aguarda convocação em uma lista de espera, pois há somente três vagas no momento.
Nos meses que antecederam o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), no ano passado, o morador de Ramos teve aulas em um curso preparatório comunitário com aulas gratuitas oferecidas em uma sala improvisada nas dependências da Igreja Adventista do Sétimo Dia, em Olaria, onde é frequentador. Cainã diz que resultado na UFRJ foi uma surpresa.
? Eu fiquei sabendo do Hora do Enem e comecei a estudar pelo aplicativo porque meus pais me ajudaram a comprar o plano anual, em uma promoção. Até que fiquei sabendo do projeto na igreja, que reforçou meus estudos. Nós fazíamos muitos simulados no curso comunitário, com os temas que mais caíam no Enem. Eu não teria condições de pagar um curso normal ? diz o rapaz, que concluiu o ensino médio no Colégio Estadual Olga Benário Prestes, em Bonsucesso.
O Preparatório Comunitário para o Enem, como foi batizado, é coordenado por Vitor Ibraim, um empreendedor que se uniu a duas pedagogas, Cíntia Menino e Raquel Braga, para viabilizar o projeto à comunidade. Para os encontros, realizados sempre às segundas, terças e quintas-feiras, das 19h às 22h ? e, eventualmente, aos domingos ? a equipe conta com voluntários.
? Tem alunos de universidades, que estão cedendo seu tempo como professores; tem professores formados, já de carreira; e monitores para abrir e fechar o local. Fizemos o curso pensando nos jovens e adultos de baixa renda, que não teriam recursos financeiros para investir em um pré-vestibular comum ? diz Ibraim.
Segundo o idealizador, a turma começou com 20 alunos, de idades distintas, mas apenas sete chegaram ao final, entre eles Cainã.
? O Cainã é um jovem que se destaca. Ele vem de uma família simples, com outros irmãos, e é muito dedicado, então já suspeitávamos que ele conseguiria um bom resultado, mas não imaginávamos que seria algo tão excelente. Ele estava presente em todas as aulas, faça chuva ou faça Sol, e fazia muitas perguntas. É interessante que a família também comprou a ideia e os pais esperavam ele para levá-lo de volta para casa, já que as aulas acabavam tarde. Quando era possível, um de nós da equipe também o levávamos ? conta.
Ibraim ressalta ainda que, com o resultado do estudante, alunos que haviam deixado o curso pelo caminho ? alguns por não conseguirem conciliar com a rotina de trabalho ? procuraram a equipe novamente em busca de uma nova oportunidade. Mas, para as aulas continuarem este ano, os idealizadores buscam patrocínio.
? Precisamos de ajuda para manter o projeto porque hoje não temos temos impressora, computador, quadro, nada. Fazíamos as aulas com tudo improvisado, inclusive com um quadro de menos de 50 centímetros que tínhamos que segurar ou prender em algum lugar. A igreja cedeu o espaço e pagou despesas com a infraestrutura, mas as necessidades de um pré-vestibular vão além de ter uma sala com ar condicionado e luz, por isso pedimos algum apoio ou doações para repetir a iniciativa ? frisa.
