Cotidiano

Mônica Moura foi duas vezes ao setor de propina da Odebrecht, diz ex-secretária

SÃO PAULO. A ex-funcionária da Odebrecht Maria Lúcia Tavares, que trabalhava no setor de operações estruturadas da empreiteira, que ficou conhecido como “departamento de propina”, confirmou em depoimento ao juiz Sérgio Moro que Mônica Moura, mulher do publicitário João Santana, era a pessoa identificada como “Feira” na planilha de pagamentos usada para controle de remessas de dinheiro. Segundo Maria Lúcia, Mônica esteve duas vezes no departamento para pegar dinheiro e “levar conta”.

João Santana e Mônica Moura foram condenados nesta quinta-feira pelo juiz Sérgio Moro, a oito anos e quatro meses de prisão, por evasão de divisas. A condenação refere-se ao recebimento de US$ 4,5 milhões do estaleiro Keppel Fels em uma conta na Suíça, não declarada no Brasil. Soltos depois de pagar R$ 2,7 milhões em fiança, os dois só deverão começar a cumprir pena em regime fechado depois que a sentença for confirmada em segunda instância pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4).

Na ação em que Maria Lúcia foi ouvida na manhã desta sexta-feira, o casal de publicitáriosa é acusado de ter recebido US$ 10,2 milhões da Odebrecht, entre 2008 e 2013, por determinação de Antonio Palocci, que controlaria o “caixa geral’ de propinas repassadas pela empreiteira ao PT. O STF homologou as 77 delações premiadas de executivos da empreiteira, mas o conteúdo delas permanece sob sigilo.

– Ela (Mônica Moura) foi duas vezes lá. Ela tinha contato com Marcelo (o empresário Marcelo Odebrecht), Hilberto (Hilberto Mascarenhas, executivo da empresa e foi entregar a conta e passar o endereço onde seria entregue a encomenda – disse Maria Lúcia, primeira funcionária da empreiteira a assinar acordo de delação na Lava-Jato.

Maria Lúcia afirmou que nunca soube quem eram as pessoas relacionadas a outros codinomes listados na planilha. A funcionária afirmou que estava subordinada a Fernando Migliaccio, que lhe encaminhava a planilha com valores e datas de pagamentos no Brasil, e que não tinha conhecimento de remessas feitas fora do Brasil.

A ex-funcionária afirmou que desconhece quem era o “italiano”, mencionado na planilha “posição italiano”, apreendida no email de Migliaccio. O ex-ministro Antonio Palocci e o ex-assessor dele, Branislav Kontic, acompanharam o depoimento de Maria Lúcia, feito por videoconferência na Justiça Federal em Salvador. A defesa pediu que ambos fossem mostrados a Maria Lúcia e perguntou se ela os conhecia.

Maria Lúcia afirmou que não conheceu Kontic e que conhecia Palocci apenas “pela televisão”.

A funcionária afirmou que nunca procurou saber o motivo dos pagamentos e do uso de codinomes.

– Meu erro foi minha ignorância, não procurar saber porque aquilo… – afirmou.