Política

Miroslau Bailak: “Vocês são culpados disso!”

O diretor da 10ª Regional de Saúde, Miroslau Bailak, esteve ontem na reunião sobre o caos na saúde pública de Cascavel e responsabilizou os motoristas pela superlotação dos hospitais e falta de leitos do SUS (Sistema Único de Saúde). “530 acidentes em 80 dias? Isso é um absurdo. Vocês são culpados disso! Você que sai bêbado para dirigir, cruzando nas avenidas. Se reduzir três acidentes dia, vai reduzir a ocupação de um leito”, diz Bailak que também pretende notificar os gestores pela retenção de macas em ambulâncias em frente aos hospitais.

A medida é praticada devido a falta de leitos e a superlotação das Upas (Unidades de Pronto Atendimento). “É proibido reter macas em ambulâncias. Essa decisão é do Comitê de Urgências e Emergências. É uma prática abusiva. Vamos notificar os gestores responsáveis. Já fui coordenador do pronto socorro do HU [Hospital Universitário] por dois anos e jamais retive maca”.

Sem espaço para atender a população, os servidores do Samu (Serviço Móvel de Urgência) também acompanham a dificuldade nas Upas (Unidades de Pronto Atendimento). Inclusive o Samu tem emprestado macas aos hospitais da cidade. “Na Upa Veneza a capela abriga pacientes. Temos um setor para empréstimo de seis a oito macas”, diz Rodrigo Nicácio, médico regulador do Samu.

Enquanto esteve a frente do pronto-socorro, Miroslau também disse que enfrentou dificuldades. “Já cheguei a colocar paciente em cima da pia em colchonete, mas não retive macas”. O diretor da 10ª Regional de Saúde responsabilizou a população pelo atendimento caótico na saúde pública. “A responsabilidade é da população. É dos motoristas. O trânsito lota nossos leitos. Temos em média cinco internações por dia em função de acidentes”.

Falta de vagas

O caos por falta de vagas ficou ainda mais grave nos últimos 15 dias. O Corpo de Bombeiros confirmou a prática do Siate (Serviço Integrado de Atendimento ao Trauma em Emergência). Uma ambulância chegou a ficar seis horas parada aguardando por uma vaga para o paciente.

Cascavel deveria ter um saldo mensal de 1,8 mil internações pelo SUS. Porém, de acordo com o secretário de Saúde, Rubens Griep, em função de uma demanda regional, em média 600 vagas de AIHs (Autorizações de Internações Hospitalares) vão para moradores de cidades vizinhas que procuram atendimento em Cascavel. Rubens justifica que a ação de reter macas e ambulâncias é a medida emergencial encontrada para não deixar o paciente sem atendimento. “A situação das macas não é capricho. É necessidade. Se o Comitê de Urgências e Emergências autorizar coloco o paciente no chão. Todos os demais hospitais podem ser portas fechadas, mas a UPA não. É preciso que entendam: UPA não é depósito de gente”.

O secretário de Saúde aponta ainda uma morosidade da Central de Leitos em conseguir vagas aos pacientes do Município. “Tenho mais médicos preenchendo documentos para a burocracia para liberar leitos do que em atendimento. São várias solicitações que parecem ter o propósito de aumentar o tempo de espera para liberação do leito”.

 

Promotor cobra enfermaria

Inaugurada em novembro do ano passado, a enfermaria do Hospital Universitário permanece fechada. A estrutura possibilitaria a abertura de mais 30 leitos de alta complexidade para Cascavel e região.

Ontem o promotor público, Ângelo Mazzuchi, cobrou o reitor da Unioeste (Universidade Estadual do Oeste do Paraná), Paulo Sérgio Wolf, o Cascá, para que o atendimento seja iniciado. “O HU se comprometeu em iniciar o funcionamento da enfermaria a partir de fevereiro deste ano, já houve inclusive a inauguração sem a estrutura funcionar”, lembra Mazzuchi.

Casos psiquiátricos

Mesmo com intervenção da Justiça, três adolescentes aguardam em Upas – onde não há espaço apropriado – por uma vaga em hospital psiquiátrico. “São casos de surtos, que não envolvem drogadição. A liberação de leito depende da Central em Curitiba. Estamos aguardando posicionamento há uma semana, sem respostas”, diz o promotor de Infância e Juventude, Luciano Machado,