Cotidiano

Ministro de Minas e Energia convoca iniciativa privada a ajudar o país a voltar a crescer

INFOCHPDPICT000063374565CANAÃ DOS CARAJÁS, PARÁ – O ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho, fez um chamado à iniciativa privada para voltar a investir no país e ajudar o governo a enfrentar a atual crise econômica. Ele participou na manhã deste sábado da inauguração do projeto bilionário da Vale S11D Eliezer Batista, em Canaã dos Carajás, no sudeste do Pará. Coelho estava representando o presidente Michel Temer, que cancelou sua ida ao evento em cima da hora por causa da chuva. A data da inauguração, prevista inicialmente para quinta-feira passada, havia sido remarcada a pedido do presidente, porque coincidia com o dia do anúncio das medidas econômicas. Temer queria fazer do projeto uma agenda positiva, num momento de forte crise econômica e política. O S11D é investimento de US$ 14,3 bilhões.

? Trago uma mensagem de otimismo. O Brasil vive um momento de muita dificuldade. Precisamos agir, o governo e a iniciativa privada e todos aqueles que querem inaugurar um novo momento no Brasil. Esse projeto é uma aposta e reafirmação da confiança de que o Brasil vai voltar a crescer. Precisamos de pessoas e empresas como a Vale, o Bradesco e (a japonesa) Mitsui para continuar nos liderando em momentos de dificuldade e apontar o rumo. Teremos muitas dificuldades, mas o ano de 2017 será, sim, melhor que o de 2016 ? afirmou Coelho.

Bradesco e Mitsui são sócias privadas da Vale. Os presidentes de ambas as empresas, Luiz Carlos Trabuco e Tatsuo Yasunaga (presidente global da Mitsui), estiveram no evento, numa clara demonstração de apoio ao presidente da mineradora, Murilo Ferreira, que está sob fogo cruzado de políticos, especialmente da bancada mineira do PMDB, para ser substituído. Também esteve presente o presidente do Conselho de Administração da empresa, Gueitiro Genso, que representa a Previ (fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil), igualmente sócia da Vale.

O ministro também manifestou apoio a Ferreira:

? É a obrigação de qualquer um que esteja investido no cargo de ministro de Estado de Minas e Energia estar ao lado da Vale, principalmente depois de ela ter deixado de ser estatal. (A Vale) tocou a pauta da mineração do Brasil, muitas vezes sozinha, não tendo do governo federal o apoio necessário para que essa indústria pudesse funcionar ? afirmou Coelho, ressaltando que Temer havia pedido para adiar o evento, de modo que pudesse participar mas que, devido ao mau tempo, não pôde comparecer.

Em seu discurso, Ferreira ressaltou a magnitude do investimento num momento de crise não apenas no Brasil mas no setor mineral, com a queda nos preços do minério de ferro, carro-chefe da Vale, nos últimos anos.

? Apesar da perda impressionante de receita no período de implementação do projeto, levamos à frente o S11D. Em 2011, quando tomamos a decisão de levá-lo à frente, a tonelada de minério chegou a US$ 191. Em janeiro deste ano, chegou a US$ 37. Uma perda de 80% de nossa receita ? afirmou o executivo, que não falou com a imprensa. ? Sabemos que o Brasil passa por dificuldade muito grande, mas nem por isso demos as costas ao passado grandioso da Vale.

PROJETO INCLUI RAMAL FERROVIÁRIO

O S11D foi gestado na administração de Roger Agnelli, ex-presidente da Vale morto em acidente de helicóptero este ano. Ferreira assumiu a empresa em 2011. Os investimentos de US$ 14,3 bilhões abrangem US$ 6,4 bilhões aplicados na mina e na usina de beneficiamento e US$ 7,9 bilhões em logística. Além da construção de um ramal ferroviário de 101 quilômetros, a Estrada de Ferro Carajás (EFC), que liga Pará ao Maranhão, teve de ser expandida, assim como o terminal marítimo de Ponta da Madeira, em São Luís (MA), de onde o minério será exportado.

O projeto vai adicionar 90 milhões de toneladas de minério de ferro à capacidade de produção da Vale, a partir de 2020, quando a empresa estima produzir entre 400 milhões e 450 milhões de toneladas, considerando todas as minas. Este ano, a produção total da Vale deve ficar entre 340 milhões e 350 milhões de toneladas. O empreendimento recebeu o nome a partir da sua localização: trata-se do bloco D do corpo S11, que fica na Serra Sul da grande região de Carajás, no Pará. Na Serra Norte, está a mina de Carajás, em operação desde 1985, situada em Parauapebas, município vizinho a Canaã, sede do projeto S11D.

A vida útil do S11 é de 30 anos. Nas projeções do geólogo Breno Augusto dos Santos, ex-funcionário da Vale e responsável pela descoberta de Carajás, se considerados os quatro blocos do S11 (A, B, C e D), o potencial de exploração de minério de ferro é para cerca de um século:

? A Vale vai começar na Serra Sul, no corpo D, o que significa que tem o A, o B e o C. A maior reserva de Carajás é Serra Sul. A Vale está começando na pontinha dela. Então, só na Serra Sul, a Vale tem produção por mais um século – afirmou Santos, que esteve no evento de inauguração.

A cerimônia de inauguração foi rápida. Começou por volta de 12h (horário local) e durou menos de 50 minutos. Além de Temer, teve outras baixas importantes. O governador do Pará, Simão Jatene (PSDB), não foi à inauguração, pois seu filho, Alberto Jatene, foi preso nesta sexta-feira em operação da Polícia Federal. Ele é investigado de ter recebido R$ 750 mil em um esquema de corrupção envolvendo royalties da mineração, a chamada Cfem, no estado. O ex-presidente da Vale Eliezer Batista não foi por problemas de saúde. O projeto foi batizado em sua homenagem. Também não houve representante do BNDES, sócio da Vale, no palco.

*A repórter viajou a convite da Vale