Cotidiano

'Minha convicção é que houve estupro', diz delegada que investiga crime

IMG_3744 (1).JPGRIO – A delegada Cristiana Bento, titular da Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima (Dcav), afirmou que está convicta de que houve o estupro da adolescente em uma comunidade da Praça Seca, na semana passada. Segundo a delegada, pelo tempo que demorou para fazer o exame, o laudo pericial não conseguiu provar indícios de violência, apesar disso, ela afirmou que o vídeo divulgado na internet já é o suficiente para provar que houve a violência sexual. Estupro – 30/05

– Assumi ontem (domingo) a coordenação do inquérito policial. Me debrucei nele o dia todo, a madrugada, e entendi que havia indício suficientes para pedir prisao temporaria e poder investigar com mais calma. Nos crimes sexuais, o exame de corpo de delito é importante, mas não determinante para o fato. Se esssa menina estava desacordada, não vai haver lesão porque não havia resistência. Temos que verificar outras provas. A minha convição é que houve estupro – disse a delegada, que completou:

– Tanto é que está no vídeo, que mostra um rapaz manipulando a menina. Quero provar a extensão desse estupro. Se foram 5, 10 ou 30. Queremos verificar quantas pessoas praticaram esse crime. Mas houve o crime. (O estupro) não está provado pelo laudo, mas pelo vídeo. O vídeo prova o abuso sexual, além do depoimento da vítima.

A afirmação foi feita durante uma coletiva para apresentar o laudo pericial do caso na Cidade da Polícia. A perita legista do Instituto Médico-Legal (IML), Adriane Rêgo, que também participa da coletiva, afirmou que não houve violência física.

– Quanto mais próximo da violência, mais fácil é detectar o vestígio. Até 72 horas depois da violência, dá para saber se havia espermatozóide. Mas o fato de não ter vestígio não significa que não houve crime. As lesões encontradas vai depender da intensidade, da idade e da frequencia – ponderou.

TRAFICANTES TIRAM AS MENINAS DE CASA

A delegada Cristiana Bento afirmou ainda que os estupros praticados por traficantes são comuns, mas normalmente não são denunciados pelas vítimas por medo. Segundo ela, a menor só fez a denúncia desta vez depois que os vídeos foram divulgados. (O estupro) não está provado pelo laudo, mas pelo vídeo. O vídeo prova o abuso sexual, além do depoimento da vítima

– Os traficantes entram nas residências, pegam as meninas e estupram. Eles não admitem que os outros façam, mas eles fazem. As meninas não falam por medo do traficante. Essa menina só falou porque veio à tona as imagens. Ela está coagida, com medo de falar. É até muito compreensivo, e isso não está colaborando para ajudar as investigações – afirmou a delegada.

Além de Cristiana Bento e Adriana Rêgo, participam da coletiva o delegado Fernando Veloso, chefe da Polícia Civil; Márcia Noele, coordenadora das Delegacias de Atendimendo a Mulher (Deam); e o presidente da Comissão de Segurança Pública da OAB-RJ, Breno Melaragno. Após críticas envolvendo a investigação sobre o estupro da adolescente, a delegada Cristiana Bento assumiu a coordenação do inquérito, que estava, até então, nas mãos do delegado Alessandro Thiers, titular da Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI).

O delegado Fernando Veloso disse que pediu ajuda à Delegacia de Combate às Drogas para a investigação do caso:

– Há um interesse nessa investigação que sejam identificadas e ouvidas qualquer pessoa que tenha envolvimento no tráfico. Algumas pessoas já foram conduzidas. Essas pessoas podem ter ido para outras comunidades.

No início da manhã, a Polícia Civil fez uma operação em várias comunidades à procura de seis envolvidos no caso e que já são considerados foragidos. São eles: Sérgio Luiz da Silva Júnior, conhecido como Da Russa, Marcelo Miranda da Cruz Correa; Raphael Assis Duarte Belo; Michel Brasil da Silva; Lucas Perdomo Duarte Santos; e Raí de Souza. Da Russa é apontado como chefe do tráfico do Morro do Barão, na Praça Seca. Os agentes estiveram na Cidade de Deus e na comunidade do Rola, além dos bairros do Recreio dos Bandeirantes, Taquara e Praça Seca, todos na Zona Oeste.

Na noite deste domingo, a advogada Eloísa Samy informou que não está mais atendendo a adolescente vítima de estupro. Eloísa orientava a jovem desde o início do caso. Ela informou que a avó da jovem agradeceu o trabalho e disse que a menina entraria para o Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte (PPCAAM).

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