Cotidiano

Milhares marcham pela paz após anúncio de ajustes a acordo com Farc

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BOGOTÁ ? Milhares de pessoas foram às ruas em Bogotá e em outras cidades colombianas, na noite de quarta-feira, pedindo a ratificação da paz com as Farc. Vestidos de branco e com velas, os manifestantes, conovocados por estudantes universitários, gritaram palavras de apoio ao fim da guerra e lamentando o veto no referendo de domingo. Mais cedo, o presidente Juan Manuel Santos se reuniu com o ex-chefe de Estado Álvaro Uribe para discutir ajustes ao pacto e garantir a paz.

Ao menos 14 grandes cidades do país registraram protestos. Além da capital houve marchas em Barranquilla, Cali, Cartagena e Cúcuta, entre outras. Houve ainda mobilizações em cidades no exterior, como Nova York e Londres.

Na capital, os presentes foram até a praça central de Bolívar. Muitos cantavam o hino nacional ou ficavam em silêncio.

“Estamos nas ruas pela vida e pela esperança para as presentes e futuras gerações”, anunciaram os representantes universitários que fizeram a convocatória.COLOMBIA-PEACE_-G302UO1NQ.1.jpg

NEGOCIAÇÕES DIFÍCEIS

Em uma reunião de quase quatro horas, Santos e o senador e ex-presidente Uribe, que liderou a campanha pelo ?não? no plebiscito de paz com as Farc, encontraram pontos em comum para negociar um acordo definitivo de união com a guerrilha. Segundo Santos, há apenas “alguns pontos para serem modificados” junto aos defensores da revisão do pacto. As negociações de ajustes começam já na quinta-feira.

Os dois líderes acertaram começar de imediato o debate por ajustes ao texto do acordo final de paz com as Farc, para enfim submetê-lo à guerrilha. De acordo com Santos, na quinta-feira haverá uma reunião entre as comissões de governo e opositores para discutir os termos.

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? Com os defensores do “Não”, identificamos que muitas de suas preocupações estão em pontos (do acordo de paz) que exigem esclarecimentos ou precisões. Hoje mesmo começamos a trabalhar para acertar estes pontos e responder às suas preocupações ? disse Santos, que defendeu a perseverança nas negociações com os opositores. ? Tudo isto deverá, como é natural, ser tratado com a delegação das Farc em Havana. A paz da Colômbia está próxima, e vamos alcançá-la. Estamos muito da paz estável e duradoura com apoio cidadão mais amplo. Deixemos os antagonismos para busca a unidade nacional em prol da paz.

O encontro foi acompanhado por altos dirigentes de ambos os rivais políticos. Do lado de Uribe, estiveram na comitiva o congressista Iván Duque e o líder de seu partido, o Centro Democrático, Óscar Iván Zuluaga. Já o governo contou com os principais ministros envolvidos nas negociações, como a chanceler María Ángela Holguín e o chefe da Defesa, Luis Carlos Villegas, além de alguns líderes das conversas com a guerrilha em Havana.

Uribe disse, na saída do encontro, que encontrou “boa vontade por parte de Santos”, seu ex-ministro da Defesa.

? Manifestamos ajustes e propostas que deverão ser introduzidos aos textos negociados em Havana para buscar um novo acordo de paz que vincule todos os colombianos. O presidente expressou vontade de consegui-lo. Pedimos compreensão. É o melhor para a paz a todos do que um acordo débil para a metade dos cidadãos.COLOMBIA-CONFLICT-PEACE-SANTOS-URIBE-G302UN990.1.jpg

Uribe ainda manifestou esforço por transparência no momento:

? Os acordos não podem se assimilar a um tratado internacional ou a um acordo especial depois de terem sido rechaçados pelo povo.

O ministro do Interior, Juan Fernando Cristo, disse que o encontro foi “um bom começo do diálogo”. farc

Antes de ver Uribe, Santos se reuniu com o ex-presidente Andrés Pastrana, que também foi abertamente contrário à condução do processo de paz.

? O ‘não’ uniu os colombianos. 99% do país está convencido e estamos com a paz. Nunca um presidente da Colômbia havia tido tanto respaldo. Há um documento-base importante que é o de Havana, há coisas boas a resgatar e outras que devem ser implementadas ? disse Pastrana ao fim de seu encontro com Santos

Entre as alteraçãos defendidas pelo Centro Democrático, partido de Uribe, estão penalidades maiores para os comandantes da guerrilha, que poderiam ser cumpridas, por exemplo, em áreas agrícolas. Sobre combatentes rasos, a legenda concorda que sejam reintegrados à sociedade sem sanções. Por outro lado, ele defende que militares não sejam submetidos a tribunais.

Uribe manifestou ainda sua preocupação com a decisão de Santos de estabelecer o dia 31 de outubro como a data limite para o cessar-fogo bilateral e com um possível recrudescimento da violência envolvendo também a guerrilha Exército de Libertação Nacional (ELN) e grupos criminosos de direita.

Ele criticou a chanceler María Ángela Holguín, que duvidou que um acordo melhor possa ser alcançado.

? Ela está num plano que entrega a democracia às Farc.

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