Esportes

Micale propõe um diálogo entre a seleção e a sociedade

Rogério Micale vive sua primeira experiência no centro das atenções. Com quase toda a carreira em equipes de base, o técnico da seleção olímpica, que busca a inédita medalha de ouro para o futebol brasileiro, sabe que a campanha do time vai despertar enorme curiosidade. Mas não parece se intimidar. Além do jogo ofensivo que propõe em campo, ele surpreendeu nesta sexta-feira ao propor uma nova forma de se olhar o futebol. Falou de relações humanas e até se aventurou a resvalar na crise política. Prometeu uma seleção que mostre à sociedade ser possível vencer com honestidade e trabalho em equipe.

O treinador começou falando sobre relações humanas. E defendeu que a afetividade entre os jogadores seja um caminho para vencer.

– Acredito em olhar no olho da outra pessoa e ver que ali tem pessoa de caráter. há ansiedade grande aqui por uma medalha de ouro. Mas ela será um metal que vamos colocar no peito, que representa uma coisa grande para o nosso futebol. Mas o futebol pode falar de outras coisas – disse o treinador. – Acredito muito no ser humano de boa índole, de caráter. Talvez o ambiente deste grupo seja uma resposta maior do que a medalha.

Foi neste momento que tocou no tema político, tão delicado num país polarizado. Aparentemente, seu objetivo era mostrar o futebol como maneira de se comunicar com a sociedade.

– Num momento em que nosso país vive tantas coisas, um povo que sofre tanto, estamos tendo a oportunidade de trabalhar em uma competição que atrai tantas atenções. Podemos falar algo ao nosso povo sem palavras, mas com a bola nos pés. Há homens comprometidos aqui, sensíveis ao que está acontecendo no Brasil, com mudanças políticas e repúdio à corrupção. Nossa contribuição a isto é a entrega total, o compromisso com algo que representa mais do que a medalha de ouro. Podemos mostrar ao povo que é possível, com trabalho, honestidade, com um abraço que mostre afetividade (neste momento abraça o zagueiro Marquinhos, que dava entrevista ao seu lado), que nos preocupamos com algo maior. A única forma em que acreditamos é com entrega total, sem individualidades, sem olhar para o nosso umbigo apenas – disse o treinador.