Cotidiano

México teme surgimento de campos de imigrantes na fronteira com EUA

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CIDADE DO MÉXICO ? Os mexicanos temem a aparição de campos de refugiados e deportados na fronteira com os Estados Unidos. O receio vem em consequência das novas diretrizes migratórias do governo do presidente americano, Donald Trump, que ameaça deportar para o México todos os imigrantes, sejam latinos ou não, que entraram de forma ilegal pela fronteira do país.

Na legislação anterior, apenas mexicanos eram deportados de volta para o país; os demais eram devolvidos para suas nações de origem. Agora ? de acordo com a redefinição da aplicação das leis migratórias anunciada, na terça-feira, pelo Departamento de Segurança Nacional americano ?, os migrantes deverão ser levados para o outro lado da fronteira, mesmo sem ter vínculos com o país, enquanto seus pedidos de asilo ou processos de deportação são estudados nos EUA. Autoridades americanas não informaram, no entanto, como espera que o México lide com a chegada dos deportados.

Até o momento, o único consenso no México sobre as novas políticas de Trump é que o país não está preparado para as mudanças. Nos últimos meses do governo do ex-presidente Barack Obama nos EUA, a cidade mexicana fronteiriça de Tijuana recebeu refugiados haitianos que buscavam asilo no vizinho americano.

Com pouca ajuda do governo, Tijuana enfrentou dificuldades quando uma série de grupos cristão montaram refúgios improvisados na cidade, com tendas de acampamento e instalações sanitárias. A comida doada foi usada para manter os haitianos. Os mexicanos temem a ideia de ter que lidar com milhares, ou até centenas de milhares, de estrangeiros chegando em uma região fronteiriça que convive com a presença de carteis do narcotráfico e com a violência.

? Estamos falando de, possivelmente, centenas de milhares de pessoas ? disse Alejandro Hope, analista de segurança da Cidade do México. ? Veja o caso dos haitianos em Tijuana. Devem ser uns sete, oito mil, e a cidade já está sobrecarregada. Agora imaginem uma situação 10 ou 15 vezes mais do que isso. Não temos recursos para recebê-los.

Não está claro se os Estados Unidos têm autoridade de obrigar o México a aceitar os estrangeiros. O diretor do Centro Binacional de Direitos Humanos de Tijuana, Victor Clark, indicou que o país pode simplesmente se negar a aceitar os deportados estrangeiros.

? Quando os agentes do Serviço de Controle de Imigração dos Estados Unidos (ICE, em inglês) abrem as portas da fronteira, eles entregam uma lista com os nomes dos deportados a um funcionário de imigração mexicano ? explica Clark. ? Os deportados vão passando um a um pelo agente e, quando ver que uma pessoa não é mexicana, vai dizer ao serviço do ICE ?não posso aceitar essa pessoa, ela não é mexicana?. Então a devolvem para os Estados Unidos.

Os Estados Unidos podem pagar para contribuir com as instalações necessárias à recepção dos deportados no México. Um acordo assim já aconteceu em outros casos. Na crise migratória que atinge a Europa, a Turquia aceitou acolher refugiados sírios que tentavam entrar na União Europeia em troca de receber US$ 3 bilhões em ajuda.

O governo do México ainda não se posicionou formalmente em relação às novas diretrizes migratórias de Trump. No entanto, em uma audiência, na terça-feira, com senadores, o novo embaixador mexicano nos EUA, Gerónimo Gutiérrez, disse que os deportados são motivos de preocupação.

? São motivos de preocupação para a Chancelaria para o governo e para todos os mexicanos ? reforçou Gutiérrez.

O embaixador mexicano elogiou, no entanto, que o governo de Trump tenha publicado o anúncio das mudanças migratórias antes da visita do secretário de Estado, Rex Tillerson, ao México nesta quarta-feira. Disse que apresentar a medida com antecedência foi uma medida correta e honrosa.