CIDADE DO MÉXICO – Ao melhor estilo dos ?city tours? para visitantes, ativistas lançaram na Cidade do México um ?corruptour?, mostrando casos notórios de corrupção que atingiram o país, como uma residência comprada pela esposa do presidente Enrique Peña Nieto e o desaparecimento dos 43 alunos de Ayotzinapa. A turnê única tem passeios gratuitos em tardes de domingo, financiados por doações privadas e passando por sedes de instituições do governo e empresas privadas.
A ideia nasceu em Monterrey, em 2014, e chegou à capital impulsionada por 55 ativistas. Durante o percurso de quase duas horas, os viajantes visitam locais marcantes e tentam fazer pedestres gritar ?Sem mais corrupção!? pelo caminho.
? Estamos há um ano trabalhando nisso. É um projeto muito poderoso. A corrupção é uma questão sobre a qual nos queixamos há anos ? diz Patricia de Obeso, uma das organizadoras do movimento.
Patricia alega que a iniciativa não quer provocar animosidade nos cidadãos contra as instituições, mas fazer os mexicanos comuns se verem como parte da solução do mal da corrupção.
O escândalo ?Casa Branca?, um dos que mais mancharam a Presidência de Peña Nieto, é o mais notório. Embora os turistas se empolguem para ver a residência no valor de US$ 6 milhões, a longa distância e o tráfego pesado a fizeram ser removida do trajeto, apesar de ela ser falada. O local foi comprado pela mulher do presidente, a atriz Angélica Rivera, de um contratista do governo ? tudo em circunstâncias pouco transparentes. A pressão e as críticas a fizeram vender a casa, e o governo reconheceu que ela foi ?um erro?.
? Um dos principais problemas no México é a corrupção, além de a prestação de contas, porque pode haver a última, mas não significa que haja uma punição para quem abusou ? comentou Miguel Moguel, consultor de direitos humanos que viajou na primeira turnê do ?Corruptour?.
‘Corruptour’ toma as ruas do México para divulgar casos de corrupção
Num dos casos mais marcantes a exporem a corrupção no México, os visitantes vão ainda a um monumento dedicado aos 43 estudantes da escola de Ayotzinapa, desaparecidos após irem a um protesto no estado de Guerrero em 2014. Apesar de falhas graves na investigação do aparente massacre, a Procuradoria Geral afirma que eles foram interceptados por policiais e entregues a traficantes, que teriam matado os jovens e incinerado seus corpos.
De acordo com o último relatório da ONG Transparência Internacional, datado de janeiro, o México ocupa a 123ª posição em 176 países analisados em matéria de corrupção. O país sofre principalmente com crises de corrupção nos estados, em obras nos transportes públicos (uma linha de metrô multimilionária também é visitada na turnê) e na briga contra o narcotráfico.
A experiência deixou muitos visitantes emocionados.
? Foi uma experiência muito gratificante, nós nos damos conta de que há um grupo de cidadãos, como talvez muitos outros no país, que estão tentando mudar as coisas ? afirmou Adrián Emigdio, estudiante de 18 anos.
