Cotidiano

Mercado financeiro à espera da posse do novo presidente da Petrobras

2016 911806107-201605250738592763.jpg_20160525.jpgRIO – Pedro Parente, que deve assumir a presidência da Petrobras amanhã, chega ao topo da estatal com o beneplácito do mercado financeiro graças a seu currículo e à promessa de acabar com indicações políticas na empresa. Mas analistas que acompanham a companhia afirmam que sua experiência e bom trânsito com o novo governo, apesar de bem-vindos, não garantem a tão sonhada recuperação da petrolífera na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Continuam sendo raros os bancos e corretoras com recomendação de compra para os papéis da Petrobras, devido, sobretudo, ao alto endividamento da companhia e a sua dificuldade em vender ativos, em um cenário de baixo preço do petróleo.

Petrobras

Desde que o engenheiro e ex-ministro do governo Fernando Henrique Cardoso foi confirmado como presidente da Petrobras, no dia 19, a reação das ações da estatal não tem sido efusiva. O papel preferencial (PN, sem direito a voto) acumula baixa de 11,69%, enquanto o índice de referência Ibovespa recuou 2,98% no mesmo período. Comportamento muito diferente do salto de 15,5% registrado no pregão de 3 de fevereiro do ano passado, quando foi acertada a saída de Graça Foster do comando da petrolífera.

MISSÕES URGENTES A CUMPRIR

Parte da repercussão amena ao nome de Parente está no fato de que os investidores, em sua maioria, aprovam a gestão de seu antecessor, Aldemir Bendine. Embora achem que a saída de Bendine seja natural, dada sua ligação com a equipe da presidente afastada, Dilma Rousseff, os analistas apostam que o novo presidente seguirá as mesmas diretrizes, tornando pouco provável o desvio de rota na gestão da Petrobras.

? Não esperamos nenhuma mudança muito importante na gestão da empresa com a posse de Pedro Parente. Até porque o trabalho de Bendine tem sido bastante satisfatório, uma vez que ele conseguiu aprovar as contas referentes a 2014 e tem tido sucesso em seu plano de corte de despesas ? avalia Phillip Soares, analista da corretora Ativa Investimentos. ? Ele também implementou um importante programa de liquidação de ativos, embora não tenha obtido muito resultado nessa parte.

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Isso não quer dizer que Parente não tenha missões urgentes a cumprir. Assim como Soares, da Ativa, a maioria dos analistas de bancos e corretoras concorda que o plano de desinvestimento de Bendine precisa ser ampliado e acelerado. Com a venda de negócios na Argentina e no Chile no início do mês, a Petrobras levantou US$ 1,38 bilhão. Mas seu último Plano de Negócios, que vai até 2019, prevê que a estatal obterá receita de US$ 14,4 bilhões apenas este ano com a venda dos ativos.

FOCO EM REFINO E DISTRIBUIÇÃO

Segundo Soares, Parente precisa focar seus esforços de venda nas áreas de refino e distribuição. Ele citou como essencial a venda do controle da BR Distribuidora, que foi avaliada em US$ 10 bilhões em 2015 por analistas do banco UBS. Só que o analista admite que o movimento precisa de vontade política ? sob Dilma, o governo era contrário à privatização da subsidiária de postos de gasolina. Até o momento, a Petrobras tem procurado, sem sucesso, investidores interessados em adquirir apenas uma parcela da BR, sem abrir mão do controle.

? A venda de ativos precisa ser intensificada, seria algo que Parente teria de fazer ? diz Luana Siegfried, analista de energia da empresa de serviços financeiros Raymond James no Texas (EUA), que acha que o novo presidente pode contribuir mais em outra frente. ? Ele vai focar na eficiência da empresa. Por ter uma postura mais independente do governo do que os presidentes anteriores, talvez ele possa ser mais agressivo no corte das metas de produção e de investimento da Petrobras.

A analista da Raymond James ?não considera mais realista? a meta de produção da Petrobras para 2020, de 2,8 milhões de barris por dia (considerando apenas a produção no Brasil), e espera que o novo plano de negócios traga cortes no número.

Esses cortes são necessários para que a empresa reduza sua dívida, considerada a maior do mundo no setor de petróleo. Embora a valorização do real no primeiro trimestre tenha conseguido diminuir em R$ 42,8 bilhões a dívida bruta, a Petrobras ainda deve na praça R$ 450 bilhões. A geração de caixa da estatal levaria hoje cinco anos para quitar todos esses débitos, o dobro do tempo considerado confortável.

MUDANÇA NA POLÍTICA DE PREÇOS

Sérgio Tamashiro, analista do banco Haitong, espera que Parente convença o governo a adotar uma política de preços de combustíveis que seja vantajosa para a empresa. Segundo Tamashiro, apesar de a cotação internacional do petróleo estar em patamar historicamente baixo, a gasolina vendida no Brasil já está 5% mais barata do que no exterior (embora o diesel seja 25% mais caro aqui).

? Ele poderia maximizar os preços domésticos, adotando uma política para fazer caixa e reduzir o endividamento da empresa. A Petrobras não precisa ter uma regra escrita que atrele seus preços ao internacional. Além disso, não vemos problema algum em que ela cobre 30% a mais do que lá fora, uma vez que isso é comum em vários setores ? afirma Tamashiro. ? O problema é que não dá para saber se o governo vai fazer isso. Além disso, pode-se decidir fazer um aumento via impostos, que é a Cide. Isso só beneficia o governo e seria ruim para a empresa.

No que diz respeito às ações, alguns analistas argumentam que há possibilidade de desvalorização a curto prazo, pelo fato de o papel ter saltado 22,83% no ano.

? Interpretamos que as altas estavam sendo influenciadas pela conjuntura política. No fim, achamos que não foi muito merecido. Agora que o cenário político já está mais estabelecido, achamos que não existe mais força para que ela suba. Tudo vai depender agora da eficiência da empresa e da evolução de sua dívida ? afirma Luana, cuja recomendação para a Petrobras é de venda.

Em relatório publicado na semana passada, o analista Luiz Francisco Caetano, da corretora Planner, destacou esse mesmo ponto. Além disso, em relação a Parente, escreveu que ?uma troca de diretoria, por si só, não trará mudanças significativas na empresa no curto prazo.?

?Na verdade, no curto prazo esta troca possivelmente levará a uma redução no ritmo de decisões importantes como a venda de ativos?, acrescentou.