Cotidiano

Mercado apontará momento de Brasil cortar juros, diz Ilan

INFOCHPDPICT000059144231-514.jpg BRASÍLIA – O Banco Central do Brasil está monitorando a percepção de risco dos investidores no país como uma das condições para um corte de juros, disse seu presidente, Ilan Goldfajn, em entrevista à Bloomberg. MERCADOS 0909

Ele concedeu entrevista uma semana após a instituição sinalizar que pode haver espaço para cortes de juros se atingidas determinadas condições, o que inclui as medidas do governo para melhorar as contas públicas. O governo do presidente Michel Temer está tentando convencer um Congresso polarizado a aprovar uma série de medidas de austeridade, entre elas limites aos gastos públicos e reduções nos benefícios previdenciários.

As condições para um afrouxamento monetário não serão atingidas com uma única legislação ou em uma data específica, disse Goldfajn. A cúpula do BC está olhando mais para os investidores para verificar se eles confiam no sucesso de Temer, disse ele, em seu escritório em Brasília.

Quando o ajuste fiscal de Temer estiver no caminho certo ?você vai ver imediatamente que o risco Brasil ? medido por CDS, medido pelo Emerging Markets Bond Index e por prêmio de risco ? vai cair?, disse Goldfajn, de 50 anos.

? As expectativas de inflação vão melhorar e tudo isso vai dar um sinal de que estamos resolvendo a questão fiscal.

Em 31 de agosto o BC manteve a taxa Selic inalterada em 14,25%, nível mais alto em quase dez anos, pela nona reunião seguida. O Comitê de Política Monetária (Copom) informou nas atas da reunião que está monitorando todos os dados disponíveis para determinar quando deve iniciar a primeira redução dos juros desde 2012. No mercado de swaps, os traders apostam que os cortes começarão neste ano.

APRECIAÇÃO DO REAL

Questionado se o real, moeda de melhor desempenho do mundo neste ano, está descolado dos fundamentos, Goldfajn disse:

? Não, porque ao lado do fato de que ele se apreciou, existe outro fato, que ele se depreciou muito mais do que os outros no ano passado.

Exportadores e alguns economistas alertam para o risco de a valorização do real reduzir o superávit comercial e ampliar o déficit em conta-corrente. Se os investidores perceberem uma piora nas contas externas, o real se ajustará automaticamente, disse Goldfajn.

Mesmo com o governo Temer apresentando as medidas certas para combater os problemas fiscais do país, a economia se recuperará apenas gradualmente no ano que vem, disse o presidente do BC.

? Há varios obstáculos, o caminho é longo, nós vamos ter que trabalhar bastante, mas eu acho que está ficando claro que nós estamos no caminho certo ? disse Goldfajn, que é doutor em Economia pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês).