Cotidiano

Menino ou anjo? Notícia ou fake?

Na recente tragédia com o time da Chapecoense, um personagem inicialmente chamado de “menino anjo”, participou no resgate de sobreviventes do trágico acidente aéreo que vitimou praticamente todo o elenco do time, diretores do clube e jornalistas que cobriam a trajetória da Chape, uma modesta, mas guerreira equipe que em menos de uma década saiu da Série “D” do Campeonato Brasileiro para conquistar a Copa Sulamericana e ganhar a admiração do mundo esportivo mundial.

O “menino anjo” era, na verdade, o garoto colombiano Johan Alexis Ramírez, 15 anos, que protagonizou uma história real de desprendimento nessa tragédia que comoveu a população mundial. Com sua identidade envolta por algum tempo em um mistério, Johan chegou a ser considerado um “anjo” enviado por Deus para conduzir a equipe de resgate até os sobreviventes. De fato, pessoalmente ajudou a salvar ao menos três dos seis sobreviventes.

Somente alguns dias após o acidente sua identidade foi conhecida. Soube-se que era um garoto que mora próximo do local da queda da aeronave. E o “menino”, não o “anjo”, relatou que após ouvir um barulho, juntamente com seu pai foi até o local da queda e guiou as equipes de resgate por conhecer bem a região. Ou seja, não era um ser celestial, mesmo que uma comparação nesse sentido se justifique, haja vista sua coragem e disposição em salvar as vítimas daquele acidente.

O episódio do “menino anjo” destaca uma lição, relativa à veracidade da informação e o papel da imprensa em apurar os fatos, fundamental em coberturas jornalísticas que devem se basear na plena apuração da veracidade das informações. Aliás, durante a cobertura da tragédia, um jornalista disse que o mais importante era justamente passar informações precisas, não a rapidez da notícia, mas se ela corresponde à verdade.

Diferente disso, no cotidiano das pessoas, nem sempre se aplica o mesmo critério ao se postar, ou compartilhar fatos nas redes sociais. O que é dado como verídico, muitas vezes não passa de brincadeira, algumas de mal gosto, ou é fruto da imaginação de quem não tem compromisso com a verdade. Criam-se boatos que se espalham à velocidade dos gigabytes das conexões. Assim, convivemos com muita matéria falsa desde a origem. São os chamamos “fakes”, repercutidos por incautos e ingênuos, se não maldosos. O provérbio bíblico alerta: “A pessoa ingênua acredita em qualquer palavra, mas quem é prudente pensa bem antes de cada passo”. (Prov. 14:15)

Hoje, a tecnologia deixou o poder da informação no alcance de um simples clique. A multimídia permite gerar fotos, filmes e textos, e ao mesmo tempo enviá-los para repercutirem ao máximo nas redes sociais. E quanto às informações compartilhadas, percebe-se que poucos se importam com a veracidade dos fatos. Dessa forma, há um turbilhão de “fakes” por aí, de falsas informações, repassadas sem qualquer censura. Cabe à imprensa, então, usar a regra da precisão dos fatos, para esclarecer a opinião pública.

Tão falsas são muitas informações, quanto falsas também as imagens, especialmente aquelas que promovem os atributos físicos de quem as publica, sendo comum vermos “a bela” na rede social, e “a fera” ao natural.

No caso do “menino anjo” da Colômbia, para muitos, mundo afora, o garoto Johan Alexis Ramírez foi visto como um “anjo”; poucos viram “o menino”. Eis aí uma lição: evitar repassar informação sem ao menos analisar, com o mínimo de critério, se ela é verdadeira ou boato. Será que a fonte da informação é confiável? Foi noticiada por algum órgão de imprensa? É preciso usar o bom senso. E se restou dúvida, não compartilhe. Assim se evitará promover “fakes”. Não sejamos ingênuos, acreditando em cada palavra. Essa é a lição do menino, que não era anjo!

Cesar da Luz – jornalista, escritor e palestrante