Cotidiano

Membros do PSOE dão ultimato para legenda decidir se executiva foi dissolvida

MADRI ? Membros do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) críticos ao líder da legenda, Pedro Sánchez, deram um ultimato para que uma comissão interna defina em 24 horas se a executiva nacional do partido foi dissolvida pela renúncia de 17 dos seus 35 membros. Se a Comissão Federal de Ética e Garantias do partido não for convocada no prazo, eles prometem redigir um documento com a sua opinião sobre uma eventual nova liderança para a legenda.

As tensões evidenciam a crise interna que vive o PSOE, partido que acumula 137 anos de existência e é o mais antigo da Espanha. Há nove meses sem governo definido, o país se vê mergulhado em uma crise política sem precedentes e pode caminhar às suas terceiras eleições em menos de um ano.

Na quarta-feira, a decisão de Sánchez de votar contra a investidura do presidente de governo, Mariano Rajoy, do Partido Popular (PP), num novo mandato levou a uma rebelião interna na legenda com a renúncia de metade da cúpula dirigente na tentativa de forçá-lo a deixar o cargo. O líder é acusado por seus correligionários pelo impasse na política do país ? há 282 dias sem um governo eleito, desde que nenhum partido conseguiu maioria absoluta em duas eleições seguidas.

Os três membros da comissão que assinaram o texto são María Jesús Montero, Inés Ayala e Wilfredo Jurado. A declaração veio depois que a presidente do órgão interno rechaçou convocar uma reunião e Sánchez se recusou a deixar o cargo.

O secretário de Política Federal do PSOE, Antonio Pradas, apresentou na quarta-feira as renúncias, que explicitaram tensões internas entre os socialistas, amplificadas após os péssimos resultados obtidos na Galícia e no País Basco nas eleições dos Parlamentos regionais, no último domingo.

A medida também foi encarada pela imprensa espanhola como uma tentativa de forçar uma renúncia de Sánchez antes de sábado, quando o líder do PSOE ? que não desistiu da tentativa de formar um governo alternativo com partidos como o Podemos e o Cidadãos ? pretende convocar primárias partidárias.

Os socialistas se mostram divididos quanto à estratégia a seguir frente ao bloqueio político na Espanha: uma parte da formação quer que o PSOE permita a Mariano Rajoy formar um governo e se fortalecer. Enquanto isso, Sánchez jura que não entregará o Executivo aos conservadores. Ele afirma que sua manutenção do ?não? a um governo de Rajoy está em sintonia com os princípios do partido.

? Defendo a posição que meu partido merece. Se o PSOE se abstiver, estará abrindo a porta a uma legislatura baseada na chantagem e ficará submisso ao PP ? afirmou Sánchez, que se recusou a renunciar e disse que os filiados à legenda, e não os dirigentes partidários, decidirão seu destino em votação.

CRISE POLÍTICA SEM PRECEDENTES

A Espanha atravessa uma das piores tempestades políticas de sua História moderna. Sem governo há nove meses, o país é dirigido desde o final de dezembro de 2015 por um governo interino, muito limitado em suas competências. E ainda se vê diante da ameaça da Catalunha se tornar independente e da possibilidade de seu histórico partido socialista implodir.

O bloqueio começou nas legislativas de dezembro passado, quando o PP chegou à liderança com 123 deputados dos 350 da Câmara Baixa. Sem a maioria necessária para governar, a legenda se viu obrigada a buscar aliados.

Mas os partidos não conseguiram acordos para formar um novo Executivo. E, então, o rei Felipe VI convocou uma repetição da votação em 26 de junho.

O PP aumentou para 137 seus deputados, mas a tentativa de posse de Mariano Rajoy fracassou ante a negativa de apoio de vários lados: o PSOE, a segunda maior força política espanhola, que tem 85 cadeiras; o Podemos, de esquerda; os nacionalistas; e, ainda, os separatistas.

Se não for formado um gabinete até 31 de outubro, serão convocadas novas eleições em dezembro. Esta seria a primeira vez que a Espanha realizaria três votações em menos de um ano.

APOSTA SEPARATISTA

Além de tudo isso, a Espanha enfrenta um separatismo acirrado pela crise econômica e a negativa de diálogo da direita, que está no poder desde o final de 2011.

Desde seu triunfo em setembro de 2015, os separatistas governam na Catalunha, uma região com 7,5 milhões de habitantes e que representa 20% do PIB nacional. Seu presidente, Carles Puigdemont, prometeu nesta semana organizar um referendo sobre a independência em setembro de 2017.

No País Basco, os partidos que reclamam mais autonomia são majoritários. Nas eleições de domingo, ficou em primeiro lugar o Partido Nacionalista Basco (PNV, conservador), que propõe uma “soberania compartilhada”.