Cotidiano

Médicos do SUS recebem dez vezes menos que na rede privada

Desigualdade em salários afasta profissionais da saúde pública

Cascavel – A desigualdade na remuneração paga pelo governo federal aos profissionais da saúde pública resulta na falta de médicos, principalmente, especialistas, em unidades básicas e hospitais de todo o País. Na rede privada, o salário chega a ser dez vezes maior que o oferecido pela tabela do SUS (Sistema Único de Saúde).

O diretor da 10ª Regional de Saúde, Miroslau Bailak, diz que essa política de repasse infelizmente impede ao SUS funcionar da maneira correta.

“O Ministério da Saúde paga R$ 10 pela consulta com o médico especialista e isso já faz 14 anos”, afirma. Já a consulta particular com um bom especialista gira em torno de R$ 400.

Na região Oeste, os especialistas que atendem pelo Cisop (Consórcio Intermunicipal de Saúde do Oeste do Paraná), responsável pelo agendamento de consultas para pacientes de 25 municípios, recebem R$ 33 devido a um acordo com prefeituras.

“O Cisop faz esse suplemento, mas ainda assim os valores são insuficientes”, considera Bailak.

A maior demanda de atendimentos é na área de ortopedia, pediatria e oftalmologia.

“Não temos preocupações com fila na região, exceto em Cascavel, mas há profissionais que apesar de receberem pouco ainda fazem a sua parte social, dentro de uma carga horária limitada”, afirma o diretor da 10ª Regional.

Conforme Bailak, caso houvesse carreira de estado, o compromisso do profissional seria maior.

“A solução seria a carreira de estado com concursos médicos e remuneração digna que vai melhorando conforme o profissional evolui, assim como ocorre na área jurídica, por exemplo”.

O salário inicial de um médico aprovado por concurso público em Cascavel é na faixa de R$ 12 mil por 40 horas semanais. No Estado é de R$ 3 mil por 20 horas, mas há previsão de que para o próximo concurso chegue a R$ 6 mil.

Os valores repassados pelo Ministério da Saúde lembra o diretor da 10ª Regional, devem ter avanço não apenas em consultas, mas em cirurgias.

“O médico recebe em torno de R$ 45 para uma cirurgia de amídala. Quem irá se sujeitar ao procedimento por esse valor diante de todos os riscos?”, questiona. Para cirurgia de varizes que leva em média de duas horas são pagos R$ 100. “Encontramos problemas, pois faltam médicos que queiram fazer”, diz Bailak. 

Situação lamentável

O presidente da AMC (Associação Médica de Cascavel), Luiz Amelio Burgarelli, comenta que a saúde pública no País tende a piorar diante da falta de investimentos do governo federal.

“Além de não estar investindo o mínimo necessário, está cortando repasses e isso prejudica toda uma cadeia. É lamentável”.

Sobre os atuais valores da tabela SUS, ele se limita a dizer que são aviltantes.

“Desestimula qualquer profissional a fazer os procedimentos. Hospitais privados estão se afastando da prestação de serviços, sobrecarregando a rede básica do município e principalmente os hospitais públicos”. 

(Com informações de Romulo Grigoli)