Cotidiano

MC Bangu usa títulos de músicas famosas para se divulgar em serviços de streaming

guri (1).jpgRIO – Experimente procurar em algum dos serviços de música por streaming por ?Meu pau te ama? ou ?O pai te ama? ? frases mais conhecidas, respectivamente, das versões pesada e leve da música ?Deu onda?, o hit do verão brasileiro, do MC G15. A busca fatalmente o levará às canções com os tais títulos, de um tal de MC Bangu. E o que se ouve nelas nada tem a ver com o funk do G15: é rock tosco, desafinado e debochado.

Só que tem bem mais que isso nos 26 (isso mesmo, 26) álbuns que Bangu lançou no streaming desde o ano passado. Há músicas com os mesmos títulos de hits de outros artistas, como “Baile de favela” (MC João) e “Evidências” (Chitãozinho e Xororó). Ou então faixas que remetem a álbuns de sucesso de artistas internacionais ? caso de ?The life of Pablo? (Kanye West) e ?Lemonade? (Beyoncé) e ?A head full of dreams? (Coldplay). E tem aquelas criações que ele batizou com assuntos do momento, como ?Delação premiada?, ?Uber? e “Brexit”. Outra das músicas se chama simplesmente ?Lobão? (e, nela, o MC se limita a uivar ?lobauuuum?).

Esse misterioso prodígio de produtividade (são 201 títulos on-line, ao todo) e de oportunismo, que faz álbuns em volumes ? ?Punk?, ?Merderê?, ?Explosão de funk? ? sem falar nos discos de covers nacionais e internacionais e nas ?OST?, com canções batizadas com nomes de conhecidas novelas e minisséries ? chegou atá a entrar no ?Viral 50? do Spotify com suas traquinagens. Meu Pai Te Ama – MC bangu

Depois de uma busca pela internet, O GLOBO chegou ao homem por trás do MC Bangu: um produtor musical de Porto Alegre, que, dadas as características controversas de seu trabalho, prefere não ter seu nome divulgado.

O projeto, ele conta, começou em 1994, quando ainda era estudante e sampleava batidas manualmente, com um aparelho de som double deck e um microfone. Assim, ele fazia algumas músicas de, como se diz na gíria gaúcha, ?arreganho? (brincadeira).

? Publiquei inicialmente minhas músicas no antigo site mp3.com, só pela diversão mesmo, e em 2000 aconteceu um fato curioso: alguém achou um som meu lá e mandou para a Ipanema FM, antiga rádio alternativa aqui de Porto Alegre, que pôs uma música no ar ? conta. ? E isso gerou um contato de um produtor de uma grande cantora da MPB, que querendo colocar a minha versão maluca da música dela em uma coletânea de covers. Duas semanas depois, esse produtor me procurou novamente dizendo: a tal cantora não tinha aceitado.

Em 2014, depois de lançar o primeiro disco do seu ?projeto sério de música? (o Projeto Ladislau) e colocá-lo nas plataformas digitais, o produtor teve a ideia de desenterrar os experimentos e rascunhos do MC Bangu e publicá-los on-line ?só pelo prazer de ter os sons disponíveis ao redor do mundo?:

? De lá pra cá, fiz uma penca de músicas novas, algumas sérias, outras totalmente aleatórias, algumas com piadas internas, brinquei com os ritmos de que gosto, como o funk (de onde surgiu a alcunha MC Bangu), o reggae, o rap (sou um grande fã do rap old-school e acho os Beastie Boys sensacionais) e o punk rock, porque podia fazer as coisas ?à Bangu?, que é de onde veio o nome do projeto. É uma atitude que remete às origens do punk. EP Carreta Furacão – MC Bangu

Um recurso malandro que ele usou como forma de chamar a atenção para suas músicas de MC Bangu foi botar títulos similares às de músicas conhecidas ou de assuntos em voga no momento. Contava ele com a curiosidade dos que procuravam pelos hits da estação. Boa tentativa:

? Mas eu notei que as pessoas não dão muita bola pra isso, exceto nos casos da música em homenagem à Carreta Furacão, que teve um número surpreendente de plays, e no de uma original com o sugestivo nome de ?Vai tomar no cu!?, que, sabe-se lá como, teve também mais de 10 mil plays no Spotify.

As inspirações para as criações “à Bangu” do MC que não é MC, ele diz, são as mais diversas:

? ?Camionete?, por exemplo, eu fiz quando uma camionete bateu bem na frente da minha casa no ano passado. A capa, inclusive, é uma foto que eu tirei da própria. Eu estava de férias e ajudei os feridos, assim como também chamei a EPTC (órgão de trânsito) e o SAMU. Camionete – MC Bangu

Bangu diz que consegue publicar tantas músicas nas plataformas digitais (ao lado das faixas de MC G15 e as de astros internacionais) simplesmente porque é produtor fonográfico registrado e porque tem tempo e habilidade para gerenciar tudo sozinho: composições, fonogramas, arte gráfica, metadados e publicação.

? Tem um trabalho meio burocrático nisso tudo, mas eu já estou acostumado agora, depois de aprender tudo na marra, quando da publicação do meu primeiro disco, em 2014. Aprendi bastante, gastei tempo e dinheiro, e hoje inclusive dou uma espécie de consultoria para bandas e artistas locais sobre isso ? revela. ? Outro dia, conversei com um senhor que quer divulgar a banda dele nas plataformas on-line. Os caras são muito bons, já têm quatro discos prontos e não sabiam como fazer essa questão burocrática de registro e publicação, tanto on-line como em meio físico.

Para o gaúcho, mais do que aprimorar as composições e o som, o que importa é ter as músicas do MC Bangu nas quatro grandes plataformas: Google Play, iTunes/Apple Music, Spotify e Deezer.

? Tem trocentas outras plataformas, como Amazon MP3, Algar, Claro Música, Vivo Música/Napster, 7Digital e outras que nem estão disponíveis no Brasil, que não vão agregar muito na divulgação de sons do MC Bangu. Mas o que eu faço questão mesmo é que as músicas do Projeto Ladislau estejam em todas ? revela ele, que ainda tem mais dois projetos musicais, o Fodasko Man e o 11:11 PM, de música experimental.