Esportes

Mayra, Suelen, Baby e Buzacarini são últimos cartuchos no judô

Tiago Camilo entrou ontem no tatame e, com um lindo ippon, venceu o sul-africano Zack Piontek. Em seu segundo confronto, contra Mammadalo Mehdiyev, do Azerbaijão, o judoca mais experiente desta seleção brasileira dominou e teve o controle quase inteiro na luta, mas num raro momento de vacilo, aos 3min46s, levou um wazari e não conseguiu reverter o resultado. Após o adeus precoce em sua última participação olímpica, Tiago desabafou: tiago camilo 10.08

? Todo mundo esperava mais do judô brasileiro até agora. E isso é justo, por todo o talento que nós temos. A gente poderia ter escrito uma história diferente nesses dias que se passaram ? lamentou ele, medalhista de prata (Sydney-2000) e bronze (Pequim-2008), que fez sua despedida dos Jogos. ? Pretendo lutar apenas mais um ano pela seleção para ir ao Mundial do ano que vem.

Com apenas mais dois dias de torneio, restam quatro chances para o Brasil subir ao pódio através do tatame. Hoje, lutam Mayra Aguiar e Rafael Buzacarini. Amanhã, último dia de competição, será a vez de Maria Suelen e Rafael Silva. Para a Confederação Brasileira de Judô (CBJ) alcançar a meta de superar o desempenho de Londres-2012 (quando conquistou um ouro e três bronzes), pelo critério do Time Brasil, seria preciso que os quatro judocas subissem ao pódio. Afinal, o objetivo é ficar no top 10 no quadro total de medalhas. Ou seja, o critério não é por cor de medalhas, e sim por quantidade de pódios. E até o momento o judô obteve uma medalha, com o ouro de Rafaela Silva.

META NÃO DEFINIDA

Entretanto, até para aliviar a pressão sobre os judocas, a CBJ não quis estipular um número de pódios nessa competição, conforme costuma fazer em outros torneios. A alta diretoria da entidade afirma apenas que quer superar Londres-2012. Inicialmente, imaginava-se que o critério fosse quantitativo, conforme quer o Time Brasil. Mas no decorrer desta competição, com as seguidas eliminação dos judocas, passou a se falar em um critério qualitativo. Ou seja, desde que o Brasil conquiste um ouro e uma prata, ou dois ouros, a missão de superar o desempenho de Londres-2012 estaria cumprida.

Neste ciclo olímpico, o judô foi considerado um esporte ?vital? pelo Comitê Olímpico do Brasil (COB) na busca por medalhas. E isto se justifica pelo fato de o esporte ser o único do país a subir no pódio em todos os megaeventos desde Los Angeles-1984. Nenhuma outra modalidade possui essa regularidade no Brasil. E, apesar de os resultados do judô terem sido um tanto frustrantes até o momento, foi no tatame que o Brasil conquistou uma das duas medalhas até agora, a única de ouro. Conheça todos os esportes olímpicos da Rio-2016

Para alcançar a meta pelo critério do COB, a missão é quase impossível. Mayra Aguiar e Rafael Silva, ambos medalhistas de bronze em Londres-2012, são candidatos fortes ao pódio no Rio, quase certeza de medalha. Pódios de Maria Suelen e Buzacarini seriam uma grata surpresa. No entanto, outros favoritos desta seleção já caíram em sequência. No primeiro dia, os medalhistas em Londres-2012 Sarah Menezes e Felipe Kitadai deixaram o tatame olímpico carioca sem pódio. No dia seguinte, a mais regular desta seleção, Érika Miranda, que havia medalhado em todos os mundiais do ciclo olímpico, bateu na trave do bronze. No terceiro dia, Victor Penalber, apontado pela respeitada revista americana ?Sports Illustrated? como medalhista de bronze no Rio, deu adeus em sua segunda luta. E Mariana Silva, que deu pinta de ser uma grata surpresa, chegou às semifinais, mas acabou não indo ao pódio também.

CAMINHO ESPINHO CONTRA O FRANCÊS

Para alcançar a meta pelo critério da CBJ, a principal chance é com Mayra Aguiar, já que ela só pegaria sua maior rival e atual campeã olímpica, a americana Kayla Harrison, teoricamente, em uma possível final. E, mesmo que perca, a medalha de prata somada ao ouro de Rafaela superariam qualitativamente o desempenho em Londres-2012. Já no caso de Rafael Silva, o Baby, a situação é ainda mais complicada. Kayla e Mayra tem um histórico equilibrado de duelos, com oito vitórias para cada lado. Já Baby, se passar pelas duas primeiras lutas, pega o temido francês Teddy Riner nas quartas de final. Teddy é o maior nome atual do esporte, foi ouro em Londres-2012, tem nove títulos mundiais e está invicto há seis anos. Baby e Riner já se enfrentaram seis vezes, obviamente, sempre com vitórias do francês. A mais dolorida delas foi na final do Mundial do Rio, em 2013, quando Baby ficou com a prata.

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Poucos minutos após a conquista do ouro de Rafaela, que aconteceu depois de cinco eliminações de brasileiros e criou uma expectativa de que o judô enfim tinha entrado no caminho de vitórias no Rio-2016, o gestor de alto rendimento da CBJ, Ney Wilson, disse que ?era preciso manter os pés no chão, não se pode deixar abalar com as derrotas nem criar uma euforia na vitória?. Para isso, a CBJ trabalhou o psicológico de todos os judocas brasileiros para blindá-los de uma cobrança de meta. Aliás, foram os próprios judocas que pediram à comissão técnica que não se estabelecesse um número de pódios para o Rio-2016. Em Londres-2012, o Brasil tinha a meta de quatro pódios, conseguiu o ouro de Sarah e o bronze de Kitadai na estreia, mas só foi bater a meta no desempate da última luta no último dia de torneio com o bronze de Baby.

? O judoca tem que lutar por si, por seus objetivos e buscar o que é dele. Por si só, essa já é uma cobrança imensa. Se, além disso, entrar uma ainda maior por um resultado externo ou uma meta, complica ainda mais. É claro que mexe com a ansiedade ver que as medalhas não estão aparecendo. Mas somos judocas experientes, estamos acostumados com esse ritmo de competição. Fizemos um trabalho para blindar nosso psicológico durante o ciclo ? diz Tiago Camilo.

Um dia após ser campeã olímpica, Rafaela Silva disse que usou essa falta de pódio nos primeiros dias como uma motivação a mais:

? A gente fica chateado de ver que nossos colegas de seleção não chegaram ao pódio. Mas isso me deu ainda mais vontade de chegar no tatame e buscar o que é nosso, não só pela gente, mas por nossos companheiros também. Os recordes olímpicos quebrados no Rio-2016