A véspera da regata das medalhas foi tensa para Martine Grael e Kahena Kunze. Com um dia de descanso entre o fim da fase classificatória e a prova final da classe 49erFX na vela, as novas campeãs olímpicas passaram o dia tentando pensar em outra coisa. De vela, só discutiram detalhes da raia do Pão de Açúcar, onde velejaram hoje sem disputar nenhuma regata no local durante a Olimpíada. A pressão por uma medalha da modalidade – que desde os Jogos de Atlanta, em 1996, tem brasileiros no pódio – não entrou no assunto.
Vela: Martine Grael e Kahena levam o ouro
? (Estávamos) tensas, óbvio. Dá uma batida no coração… Eu tentei tranquilizar a Martine. Falei: “Tine, independente do resultado, eu estou com você. A gente é forte juntas”. Foi ótimo ? disse Kahena depois de receber o ouro nesta quinta-feira.
Martine se refugiou na praia reservada do Forte São João, na Urca, onde esteve hospedada a delegação brasileira de vela.
? Ontem (quarta) foi um dia difícil, porque tinha o dia inteiro para esperar a regata hoje. Foi muito difícil não ficar pensando muito. Tentei ir para a praia, ficar tranquila, me concentrar no que estava fazendo na hora, no almoço… Se fosse para pensar em algo, era só na regata. Tentar mentalizar cada manobra, como seria a largada. Pensar no depois me deixa nervosa.Então, se vinha um pensamento como esse, eu trocava para a regata.
Todas as medalhas do Brasil no Rio-2016
O forte da Urca possui um segredo para as brasileiras. Martine contou que observou a direção que o vento soprava a bandeira do Brasil da fortaleza :
? Aquela bandeira ajudou bastante. Sempre que entrava uma raja ela ficava balançando.
A regata foi recheada de emoção. As brasileiras contornaram as quatro primeiras boias em terceiro lugar, atrás das duplas da Itália e da Nova Zelândia, que até então ficava com o ouro.
Foi só na quarta e última boia que Martine e Kahena assumiram a ponta. Elas optaram por seguir pelo lado esquerdo da raia, enquanto as adversárias iam pelo direito.
? Acho que foi uma decisão difícil, mas muito importante para a gente conseguir a medalha. Se a gente tivesse escolhido a boia que as outras duas contornaram ia ser muito difícil (chegar em primeiro), porque elas iam marcar a gente. Então, tomando essa decisão, a gente estava com a prata garantida. A dinamarquesa montou a nossa boia e estava um pouco mais atrás. Então foi excelente para a gente tentar aproximar mais e montar em primeiro. Deu super certo – explicou Kahena.
? Foi a decisão mais difícil que a gente teve que fazer – admitiu Martine.
No dia seguinte, começaram o dia com nova vitória. Embora tenham optado por uma largada conservadora, no meio da linha entre os barcos da comissão de regata, elas se mostraram velozes com o vento à favor. Os resultados do dia, no entanto, foram irregulares. Na regata seguinte – a quarta do programa -, elas terminaram na décima posição. Recuperaram nas duas provas seguintes: sexto e segundo lugares. Terminaram o dia na segunda colocação geral.
Apenas ao cruzar última boia, veio a certeza de que haviam conquistado o ouro olímpico.
? A gente nem pensou em medalha. Só realizei que era ouro quando a gente cruzou a linha. Eu olhei para trás e era ouro!
Foi o sinal de início para as comemorações. Amigos e familiares da dupla pularam na Baía de Guanabara e nadaram até o barco. – Não esperava uma comemoração tão grande. Todos os meus amigos estavam aqui – afirmou Martine.
? Eu não tinha ideia que ia ser tão grande. Parecia um Maracanã de tanta gente – comemorou Kahena.
Depois de receber a medalha, a dupla avaliou o desempenho ao longo de toda a Olimpíada.
? Esse campeonato eu dei o meu melhor. Prometi a mim mesma que queria chegar na rampa destruída, falando “eu dei o meu melhor”. Isso é o que vale mais. Independente do resultado, eu não teria feito nada diferente. Martine também. É uma excelente velejadora, toma decisões na hora certa, e eu só estou ali para ajudar nas horas das decisões mais importantes. A gente forma uma bela dupla. Elas ainda não revelaram se seguirão juntas no próximo ciclo olímpico.
? Deixa a gente dormir primeiro… ? brincou Kahena.
