Cotidiano

Marine Le Pen se lança candidata na França

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RIO ? A líder da extrema-direita francesa Marine Le Pen lançou sua candidatura à Presidência do país ontem, de olho na onda populista que varre o Ocidente, simbolizada pela recente eleição de Donald Trump nos EUA e a vitória da proposta de saída União Europeia (UE) em plebiscito no Reino Unido, o chamado Brexit. Frente a milhares de partidários agitando bandeiras e gritando ?este é nosso país?, Le Pen afirmou que só ela pode protegê-los do extremismo islâmico e dos malefícios da globalização. Com uma plataforma anti-imigração e também contrária à UE, a Frente Nacional, partido de Le Pen, espera ?surfar? esta onda e alcançar o governo da França.

? O que está em jogo nesta eleição é se a França vai continuar uma nação livre ? discursou Le Pen no comício de lançamento de sua campanha em Lyon, segunda maior cidade do país. ? A divisão não é mais entre esquerda e direita, mas entre patriotas e globalistas. O impossível é possível. Como é possível que presidentes como Donald Trump sejam eleitos enfrentando um sistema unido contra eles. Este despertar dos povos é histórico. Significa o fim de um ciclo. O vento da História mudou e nos levará ao topo.

Em 144 ?compromissos? divulgados ainda no sábado, Le Pen diz que vai coibir drasticamente a imigração, expulsar imigrantes ilegais e restringir direitos hoje disponíveis a todos os residentes do país, como educação gratuita, apenas para cidadãos franceses. Um eventual governo da Frente Nacional também pretende tirar a França da zona do euro, realizar um referendo sobre a permanência do país na UE, como o feito no Reino Unido, e aumentar os impostos sobre importações e nos contratos de trabalho de estrangeiros.

? Os líderes do passado escolheram uma globalização desregulada. Eles disseram que seria algo bom, mas acabou sendo uma coisa atroz ? disse Le Pen. ? A globalização financeira e a globalização islâmica estão ajudando uma a outra. Essas duas ideologias querem pôr a França de joelhos.

Agenda nacionalista

Embora Le Pen tenha buscado tornar a Frente Nacional mais palatável para os eleitores desde que herdou a liderança do partido de seu pai, Jean-Marie Le Pen, em 2011, seu discurso ontem deixou claro que as políticas contra a imigração e a União Europeia ainda estão no centro de sua agenda. Ela recebeu os aplausos mais efusivos, com ovações em pé aos gritos de ?França! França!? e ?esta é nossa casa?, quando prometeu expulsar todos os estrangeiros condenados por crimes ou contravenções e quando afirmou que imigrantes sem documentos não deviam nunca poder ficar na França ou obter tratamentos de saúde e educação grátis. A multidão então respondeu: ?vamos vencer! Vamos vencer!?.

E o otimismo dos partidários de Le Pen tem lá suas razões. A menos de 80 dias do primeiro turno das eleições, marcado para 23 de abril, a líder da Frente Nacional lidera as pesquisas de intenção de voto. Mas também enfrenta forte rejeição dos eleitores mais moderados, o que a coloca como derrotada nos levantamentos para o segundo turno do pleito, previsto para 7 de maio.

Inicialmente, as pesquisas apontavam que o duelo de Le Pen no segundo turno seria com o conservador de direita François Fillon. Mas um escândalo envolvendo a esposa de Fillon, que segundo denúncia do jornal satírico ?Le canard enchainé? teria sido paga com centenas de milhares de euros de dinheiro público para um trabalho que não foi feito, minou o apoio à sua candidatura mesmo entre suas bases. Neste fim de semana, o senador do Bruno Gilles, do Partido Republicano, que faz parte da direita moderada e conservadora do país, instou Fillon, de 62 anos, a se retirar da corrida presidencial, afirmando que os fiéis do partido ?viraram a página? e agora pedem, de forma esmagadora, uma mudança de candidato.

Macron em vez de Fillon

Quem acabou ?lucrando? com os problemas de Fillon foi o candidato centrista Emmanuel Macron, que agora, de acordo com as pesquisas, aparece como adversário de Le Pen no segundo turno das eleições. Em um comício também em Lyon neste fim de semana, Macron se definiu como um ?progressista? e defendeu que a França se transforme em uma ?terra de inovação?, facilitando o trabalho e colocando de novo no centro da vida política a divisa ?Liberdade, igualdade, fraternidade?.

? Não digo que a esquerda e a direita já não signifiquem nada, mas nos momentos históricos, estas divisões são intransponíveis? ? questionou o candidato, que foi ministro da Economia durante a presidência de François Hollande. ? Me reconheço como progressista, quero ser um europeu generoso e inovador.

Já no outro lado do espectro político de Le Pen está o líder de extrema-esquerda Jean-Luc Melenchon, mais um candidato presidencial que escolheu Lyon para lançar sua campanha neste fim de semana. E embora as plataformas de um e da outra tenham suas interseções, como o ceticismo com relação à UE e à globalização, Melenchon afirma ter respostas muito diferentes para estas questões.

? O que não queremos é algumas combinações e arranjos. Seremos intransigentes ? disse ele, que luta contra o socialista Benoit Hamon pelos votos da esquerda francesa.

Segundo uma das últimas pesquisas de intenção de voto para o primeiro turno, divulgada na sexta-feira pela firma BVA, Melenchon tem entre 11% e 11,5% da preferência do eleitorado. Le Pen lidera o levantamento, com 25%, enquanto Macron aparece com 21% a 22%, Fillon com 20% e Hamon com entre 16% e 17%.