Cotidiano

Marie-Léa Vincent, administradora de empresas: 'O caminho para o futuro tem que ser colaborativo'

201605112000180184.jpg“Tenho 29 anos. Nasci em Paris, onde morei até ir embora para os Estados Unidos, com 22 anos, para fazer pós-graduação. Fiquei um ano meio em São Francisco, e depois fui trabalhar em Nova York, em uma empresa de branding. Vim para o Brasil em 2011, e hoje me divido entre o país e a França.”

Conte algo que eu não sei

No Brasil, 76% das pessoas sonham em ter o próprio negócio. Muitas pessoas me perguntam por que escolhi o Brasil para lançar um negócio. Acho que o Brasil, com todos os problemas que tem, é um país com muitas oportunidades. Cada problema vira uma oportunidade de negócios. Nos Estados Unidos, em Nova York, vai ser difícil você achar uma ideia que vá se destacar, porque tudo já foi feito lá.

A maior parte de negócios inovadores que vemos no Brasil vêm de fora. Há espaço para inovações brasileiras?

Eu poderia falar a mesma coisa sobre a França. Sempre vem dos EUA. De repente, eles sabem construir um negócio que vai se adaptar ao mercado de outros países. Mas isso demora.

A crise atual, com muito desemprego, é um momento bom para investir?

Como muitas pessoas estão perdendo o emprego, você nem precisa mais pensar “hoje vou lançar meu negócio próprio”. O destino vai fazer as pessoas terem coragem.

Qual a sua avaliação do mercado brasileiro?

Tive mais dificuldade com o atraso. Você pode perguntar mil vezes: “Tem certeza que você vai entregar nesse dia?” Só que o dia chega, e ele não vai. Atrasa um mês. Foi o maior obstáculo.

E o cenário do crowdfunding no Brasil?

Há cerca de cinco anos o crowdfunding está crescendo muito aqui. Os sites são legais, mas muito parecidos. O design é o mesmo, a organização da plataforma é muito parecida. E focam muito em projetos culturais. Queremos focar no segmento de empreendedorismo.

E em relação aos Estados Unidos e à França?

Não tem nada a ver. Faz muito mais tempo que existe nos EUA. Os americanos entenderam que o crowdfunding é muito mais do que arrecadar dinheiro. É uma ferramenta incrível para validar produtos.

Como assim?

Por exemplo, se você quer lançar um novo produto no mercado, e tem duas opções, como vai saber a avaliação do público? Vai botar o projeto no ar e perguntar diretamente às pessoas. Isso vai diminuir seu risco. E se você está querendo, na próxima etapa, ir para um investidor maior, vai chegar com uma vantagem enorme, o investidor não terá como duvidar do projeto.

Como lançar um projeto sem ser conhecido?

O crowdfunding é muito trabalhoso porque você vai ter que mobilizar as pessoas. Da primeira rede que vai fazer a doação, 50% são família e amigos. Se cada um deles divulgar também outros para outros familiares e amigos deles, você mobiliza mais gente. Não é uma questão de ser famoso, é uma questão de ter um projeto bom e saber usar as redes sociais. O crowdfunding não funciona sem pessoas, sem interação.

A economia colaborativa é fruto da tecnologia ou as pessoas estão mais solidárias?

Em todos os negócios que estão sendo criados alguém ter que ajudar alguém para funcionar. O Airbnb, por exemplo. É uma rede que está se construindo, e não funciona sem pessoas. O fato de você ficar atrás de um computador pode parecer individualista. Mas tudo o que você está usando no computador, como as redes sociais, envolve pessoas. O caminho para o futuro tem que ser colaborativo. Estamos só no início.