Cotidiano

Marcia Haydée traz ao Rio ?Zorba, o grego?, com o Ballet de Santiago

RIO ? É pouco comum, no universo da dança, um balé concebido a partir de trilha sonora feita para outra ?mídia?. ?Zorba, o grego?, que o Ballet de Santiago apresenta a partir desta sexta-feira, e até domingo, no Teatro Municipal do Rio, é um desses casos. A inesquecível música de Mikis Teodorakis para o filme estrelado em 1964 por Anthony Quinn inspirou o americano Lorca Massine. Em 1988, ele criou a coreografia para a Arena di Verona, com o corpo de baile da casa italiana. Desde então, já foi vista por três milhões de pessoas em mais de 30 países.

? A música de Teodorakis tem energia tão forte… Se você fecha os olhos e não vê o balé, a música, sozinha, já é uma experiência incrível ? diz a brasileira Marcia Haydée, desde 2004 diretora artística da companhia chilena. ? Mas, além disso, é um balé muito bem feito, muito bem estruturado. A mistura vigorosa de coro, solistas, bailarinos, tudo é de um impacto muito grande. Faz uns três anos que chamei o Lorca e disse que o queria para o Ballet de Santiago.

O enredo de ?Zorba? é o do romance do grego Nikos Kazantzakis, de 1946. Nele, uma história de amizade e superação, a dança tem papel fundamental, culminando na cena final, com o tema musical ?Sirtaki?, tornado famoso e popular graças ao filme.

? Se você está triste, deprimido, se tudo está ruim, você dança, que ajuda a superar. Isso é uma coisa que o brasileiro entende muito ? diz ela.

A companhia sobe ao palco com 55 integrantes, entre eles três brasileiras: Andreza Randisek (primeira-bailarina, que dividirá com a chilena Natalia Berríos o papel de Marina), Michele Bittencourt e Lara Gonçalves Costa. O papel-título cabe ao primeiro-bailarino Rodrigo Guzmán, que, segundo Marcia, ?nasceu para dançar Zorba?, aliando técnica e vigor em ?danças contagiantes?:

? O Rodrigo é considerado o grande Zorba do momento. Ele está para a dança assim como o Anthony Quinn para o cinema. Tanto que, quando Massine remontou ?Zorba? na Itália, convidou-o para viver o papel que havia sido originalmente de Vladimir Vassiliev ? conta.

PRODUÇÃO INTENSA AOS 79 ANOS

Lorca Massine, o coreógrafo, é filho do russo Leonid Massine, um nome histórico da dança, colaborador dos Ballets Russes de Diaghilev. Marcia conta que o filho viajou muito pelo mundo acompanhando o pai em turnês. Isso fez com que se alimentasse de referências culturais, muitas do Oriente. É essa mistura que faz de ?Zorba, o grego?, na sua opinião, ?um dos mais interessantes balés?.

?Zorba? chega ao Rio depois de ter passado por São Paulo e Belo Horizonte. Daqui, segue para Curitiba, onde será apresentado quarta-feira no Teatro Guaíra, e Porto Alegre (sexta, no Oi Araújo Vianna). Esta não é a primeira vez que o público brasileiro vê essa coreografia de Massine. A peça foi apresentada na Praia de Ipanema, em 1994, com o Balé da Ópera de Varsóvia, que o coreógrafo dirigia então. Ele próprio interpretou Zorba na ocasião. No ano seguinte, a mesma companhia excursionou por dez cidades do país.

O contrato de Marcia com o Ballet de Santiago termina no fim de 2017, quando a artista terá 80 anos. Ela não está preocupada com o futuro, talvez por falta de tempo. Atualmente trabalha na sua versão de ?Carmen? para o Ballet Nacional del Sodré (Montevidéu), dirigido pelo argentino Julio Bocca. Em novembro, vai à Coreia do Sul, montar ?A Bela Adormecida?; em abril de 2017, o mesmo balé estreia na Suécia. Aos 79 anos, não surpreende que ela diga que ?o melhor ainda está por vir?.

?Zorba, o grego?

Onde: Teatro Municipal ? Praça Floriano, s/nº, Centro (2332-9191).

Quando: Sexta-feira, às 20h; sábado, às 16h e 20h; domingo, às 16h.

Quanto: De R$ 40 a R$ 280.

Classificação: Livre.