Cotidiano

Manuel Castells aborda as transformações da universidade ao longo da História

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RIO ? O renomado sociólogo espanhol Manuel Castells encerrou o primeiro dia do
encontro Educação 360 discursando sobre as condições da universidade na
sociedade contemporânea, como ela está se transformando e quais os principais
obstáculos burocráticos e econômicos para essas mudanças. Autor da trilogia ?A
era da informação: economia, sociedade e cultura?, o acadêmico também criticou a
divisão entre instituições públicas e privadas no Brasil, ressaltando que esse
modelo reproduz a desigualdade social no país.

? O sistema educacional brasileiro tem qualidades, mas é injusto. As
universidades públicas são de relativa boa qualidade, algumas de nível
internacional e em grande parte gratuitas. Por conta dos critérios de seleção
elas são destinadas para a classe média. E os setores populares pagam muito mais
caro por universidades privadas que têm qualidade duvidosa. Isso é um sistema de
injustiça social ? avaliou.

Castells também criticou a burocratização do ensino
superior e a falta de adaptação de algumas instituições ao seu entorno
tecnológico. Outro ponto que precisa sofrer mudanças urgentes, segundo o
sociólogo, que teve apoio da plateia, é a tendência das instituições servirem
aos interesses dos professores, antes do aluno. Para ele, isso é caracterizado
pelo conflito entre ensinar bem e publicar artigos científicos, cobrados pelo
sistema como forma de promoção dos docentes.

? A minha paixão, a minha vida é a universidade. Por isso posso criticá-la.
Se não formos capazes de mudar o ensino superior, perderemos o privilégio que é
dedicar a vida à educação ? afirmou.

CLUBES PRIVADOS

O sociólogo também analisou os diferentes modelos de
universidade que existiram ao longo da História e que, hoje, se combinam nas
distintas funções atribuídas ao ensino superior.

? Em primeiro lugar, as universidades se destinavam à produção de valores e a
sua legitimação social. Depois, passaram a fazer a seleção das elites e a
formação dos núcleos de poder, tanto na educação especializada, quanto na
formação de um meio social dirigente da sociedade. É o caso da Ivy League, nos
Estados Unidos e de Oxford e Cambridge, na Inglaterra. Essas universidades são
um clube privado de relações sociais ? brincou.

Outra função das universidades, segundo Castells, é a
formação de profissionais fundamentais para o sistema produtivo e para
organização da sociedade.

? No Brasil, sempre se deu muita ênfase às escolas de formação de engenheiros
e advogados. Mais tarde, historicamente as escolas de negócios ingressaram nesse
cenário, se convertendo num dos investimentos dominantes dos sistemas
universitários. (Marta Szpacenkopf)