Cotidiano

Manobra anti-Trump fracassa em convenção

WASHINGTON A festa da nomeação de Donald Trump em Cleveland, Ohio, como candidato republicano à Casa Branca nas eleições de novembro começou com protestos de seus adversários dentro do partido. Um grupo de delegados do movimento ?Never Trump?, contrário ao bilionário, tentou mudar as regras da convenção da legenda para permitir brechas que poderiam vir a mudar os resultados das primárias e trocar o candidato da legenda. A manobra foi debelada e a rebeldia de parte dos partidários, minimizada por apoiadores do magnata, mas o evento serviu para mostrar o tamanho da dificuldade que Trump terá em unir os republicanos em torno de sua candidatura.

A ideia inicial era fazer um primeiro dia em que o partido tentaria reforçar suas propostas na área de segurança ? tema do dia ? e no qual Trump buscaria o apoio feminino, apelando para o discurso de sua mulher, Melania. Mas a manobra dos descontentes com o bilionário, que pareciam controlados após a aprovação das regras da convenção na semana passada, mostrou que os republicanos seguem mais divididos do que se imaginava.

? Um dos problemas que Donald Trump tem em unir o Partido Republicano é o fato de não ser um conservador consistente ? afirmou John Green, professor da Universidade de Akron, que vê desencontros de suas propostas sociais, econômicas e de política externa com o pensamento dominante na legenda. ? Assim, os grupos ideológicos que têm desempenhado um papel tão proeminente na política do partido têm visto o seu papel diminuído este ano.

Numa última manobra, os dissidentes tentaram convocar uma chamada de votação para alterar as regras do partido, afirmando que tinham o número necessário de estados para apoiar a medida. O plano do grupo de delegados, liderados por apoiadores do pré-candidato derrotado Ted Cruz, era atrasar os discursos. A tentativa, no entanto, não funcionou, pois o presidente da convenção rejeitou a artimanha, afirmando que alguns estados tinham desistido da votação. Isso causou tumulto na convenção e muitos protestos.

? Não é um movimento. São só delegados recalcitrantes ? disse o secretário da campanha de Trump, Paul Manafort.

Já o ex-líder da Câmara Newt Gingrich, disse que a insurreição ?é boba?:

? Trump conseguiu 37 estados. Ele será nomeado.

A arma do magnata para a primeira noite era o discurso de Melania, que tentou demonstrar o lado humano do candidato. Ele apareceu ao som de ?We are the champignons?, do ?Queen?e apenas apresentou sua mulher. Ela lembrou que é uma imigrante da Eslovênia, ?um pequeno e belo país da Europa, ex-socialista? e que ?comemorou? quando obteve sua cidadania americana e disse que Trump governará ?para todos os americanos?. E focou nas mulheres, um dos grupos de eleitores onde Trump é mais frágil:

? Serei honrada em servir como primeira-dama, usarei esse privilégio maravilhoso para tentar ajudar as pessoas no país que mais precisam – disse ela, que afirmou que vai priorizar mulheres e crianças. – Cada criança tem de viver com conforto e segurança, com a melhor educação possível.

Antes dela, Rudolph Giuliani, ex-prefeito de Nova York, fez severas críticas á política de segurança do governo de Barack Obama:

? Não há mais tempo para repetir os erros do passado. Donald Trump será o líder da mudança de que precisamos.

SEM SINTONIA COM O VICE

A ausência de nomes importantes na convenção, como os membros da família Bush, que conta com dois ex-presidentes, foi minimizada por Manfort. Segundo ele, os dois são ?parte do passado? e a convenção ?está falando sobre o futuro?.

Mas a rebelião dos delegados não foi a única notícia ruim para Trump, alvo de protestos pacíficos do lado de fora da convenção. Sua entrevista na noite de domingo com o candidato a vice-presidente, Mike Pence, para o ?60 Minutes?, da rede CBS, era uma oportunidade para comemorar a chapa e animar o público para a convenção, mas serviu para mostrar a falta de química da dupla, e suas diferenças políticas. Trump respondeu perguntas endereçadas a seu vice ao menos quatro vezes, além de ter, a todo momento, interrompido Pence.

Num tom considerado soberbo por muitos, o magnata disse que não precisava do apoio do governador de Indiana, conhecido por ser um religioso fervoroso, para ganhar o voto evangélico, alegando que este grupo de eleitores ?já estava com ele?. Trump ainda defendeu o voto de Pence a favor da Guerra do Iraque, dizendo que ?não se importa? com isso e que ele ?tem o direito de cometer erros?, embora este seja um dos pilares da críticas que faz a Hillary Clinton quanto à política externa.

Por sua vez, a virtual candidata democrata intensificou a campanha no primeiro dia da convenção dos republicanos. Falando em Cincinnati, no encontro anual da NAACP, mais antiga organização dos direitos dos negros do país, ela comentou os assassinatos de policiais que ocorreram no domingo, dizendo que ?esta loucura tem que parar?. Hillary aproveitou também para condenar as mortes de negros por policias, defendendo uma reforma do sistema penal. O evento serviu para reforçar suas diferenças com Trump, que tem se posicionado muito mais ao lado dos policiais do que das vítimas negras.