Saúde

Manifestantes marcam novo protesto em Cidade do Leste

O protesto de quarta-feira (29), foi mais intenso em Cidade do Leste, onde participaram quase mil pessoas, mas também houve manifestações em Hernandarias, Presidente Franco e outras cidades do departamento de Alto Paraná

Manifestantes marcam novo protesto em Cidade do Leste

“Alto Paraná não retrocederá. Não fico em casa. Não à fase zero.” Com esses slogans – que também são hashtags -, os moradores de Cidade do Leste e de outras cidades vizinhas no Paraguai convocam nova manifestação para esta quinta-feira (30), a partir das 18h, no mesmo local do protesto de quarta-feira: a rotatória da Mona Lisa, no microcentro comercial.

O protesto de quarta-feira (29), foi mais intenso em Cidade do Leste, onde participaram quase mil pessoas, mas também houve manifestações em Hernandarias, Presidente Franco e outras cidades do departamento de Alto Paraná.

Além das manifestações, noticia o jornal La Nación, milhares de pessoas repudiaram, via redes sociais, a decisão do governo de retorno à fase zero para o departamento de Alto Paraná. O jornal lembra que moram no departamento cerca de um milhão de pessoas, sendo Ciudad de Este e Hernandarias as cidades mais povoadas.

Segundo o jornal ABC Color, marginais aproveitaram a manifestação para saquear lojas na Avenida San Blas. Uma delas é a Zuti Calzados, cuja porta metálica foi arrombada para o saque.

Durante os confrontos, seis pessoas ficaram feridas. O caso mais grave foi o de um menor, que levou um tiro no abdômen. Outro foi baleado na mão, enquanto mais dois foram feridos por balas de borracha. Um militar e um brasileiro, por sua vez, ficaram intoxicados pela inalação de gás lacrimogênio.

O jornal Última Hora reporta que a promotora Zunilda Martínez contou que 57 pessoas, entre homens, mulheres e adolescentes, foram detidas durante a manifestação. Houve saques e roubos, disse a promotora.

Joalheria foi saqueada

“Uma joalheria foi saqueada, de onde levaram joias no valor de 500 milhões de guaranis (R$ 370 mil). Inclusive, queriam entrar no Banco Nacional de Fomento”, contou a promotora, em entrevista à Rádio Monumental 1080 AM.

Em vídeo feito por moradores, que o Última Hora traz em sua edição on line, vê-se quando os manifestantes ordenam que um caminhão com placas brasileiras retorne. Depois, puseram fogo neste caminhão, segundo o jornal. Observe-se que a voz que informa sobre o incidente é de um brasileiro.

 

Outros caminhões foram queimados parcialmente. Também foram queimadas pelos manifestantes as pequenas lojas que ficam na frente das grandes casas de comércio do microcentro de Ciudad del Este.

Retrocesso será mantido, diz governo

 

O coordenador do Conselho de Defesa Nacional do Paraguai, Federico González, garantiu que o governo se mantém firme na decisão de retroceder à fase zero em Alto Paraná, noticia o jornal ABC Color.

Segundo ele, a decisão do presidente Mario Abdo Benítez foi tomada “com base em critérios científicos”, para evitar a propagação de covid-19 no departamento, que concentra 30% das mortes por covid-19 no país.

“O governo e o presidente se colocam no lugar dos habitantes. São momentos difíceis, mas é uma medida necessária”, disse González.

E adiantou que “a medida foi adotada (o retrocesso), mas há formas e maneiras, e isso é o que se está analisando, como aplicar. O ministro (Julio) Mazzoleni (da Saúde) segue trabalhando com sua equipe sobre isso. Ele é quem vai transmitir (a decisão) nas próximas horas”, completou.

Reunião com governador e ministro

O prefeito de Ciudad del Este, Miguel Prieto, vai se reunir na manhã desta quinta-feira, 30, com o governador do departamento de Alto Paraná (do qual CDE é a capital), Roberto González Vaesken, e com o ministro do Interior, Euclides Acevedo, para formar um grupo de trabalho que elabore um plano para a crise econômica, noticia o jornal ABC Color.

Um dos objetivos é criar um protocolo que permita aos moradores de Alto Paraná trabalhar, cumprindo as medidas de prevenção à covid-19, com o qual se buscará reverter o retrocesso à fase zero da quarentena.

Em nota, o prefeito lamentou os casos de violência ocorridos durante a manifestação e anunciou que um plano, elaborado em conjunto com os governos de Alto Paraná e nacional, irá apresentar alternativas concretas para reativar a economia do município.

Quando foi anunciada a volta à fase zero, o prefeito havia instado a população de Ciudad del Este a respeitar o isolamento estrito.

“Deixem a população trabalhar”

Já o governador González Vaesken, quando foi divulgada a volta à estaca zero por 14 dias, sugeriu medidas alternativas, como controle rigoroso nos lugares habilitados a funcionar, “com sanções reais para aqueles que não cumprem as medidas sanitárias”.

E, também, “fixar um horário para locomoção dos moradores das 5h às 17h, para evitar atividades sociais onde há maior risco de contágio. mas deixar as pessoas trabalharem nesse horário”.

“Deve-se deixar a população trabalhar”, prosseguiu o governador. “Que os controles funcionem, que se exija o cumprimento das normas e protocolos sanitários, o distanciamento, o uso de máscaras, a lavagem de mãos. Tudo isto deve ser acatado para poder novamente sair de tudo isto”, disse González Vaesken.

Ele criticou o governo nacional na questão de saúde pública, porque faltam infraestrutura e equipamentos nos centros hospitalares da região. “Estamos cumprindo, conforme o orçamento departamental, o fortalecimento do sistema de saúde, mas falta muito ainda a presença do governo nacional. O sistema centralizado do Executivo já não funciona”, destacou.

Rejeição à violência

O bispo de Ciudad del Este, monsenhor Guillermo Steckling, em comunicado público, lamentou os atos de violência e de depredação no protesto de quarta-feira, e pediu para que seja mantida a calma e que sejam respeitados a integridade física e os bens de outras pessoas.

As câmaras de comércio de Ciudad del Este, Pedro Juan Caballero, Salto del Guairá e Encarnación, além do Conselho de Desenvolvimento Econômico de Ciudad del Este (Codeleste), também rechaçaram a violência e pediram “paciência ante esta situação difícil que nos cabe viver”.

“Nada justifica atos de violência, onde ninguém ganha. Com a violência só se colhe mais violência. Este grupo de trabalho das câmaras rechaça todo tipo de ato de vandalismo e que vá contra as instituições”, diz a nota, segundo o ABC Color.

A nota das câmaras e do Codeleste afirma que os empresários mantêm a esperança nas negociações e diálogos com o governo para a aprovação de um verdadeiro projeto para a reativação do comércio fronteiriço e “conseguir tudo o que se necessita para que nossa economia de fronteira volte a decolar, sem pôr em risco a saúde de nenhum concidadão”.

Reportagem: H2FOZ – Cláudio Dalla Benetta