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Maiara Barreto: modelo de paratleta que não foge da raia

Ao cair da moto com 22 anos e ficar paraplégica, Maiara Barreto mergulhou em uma realidade distinta. A salvação veio da água. Em vez de largar tudo que gostava, resolveu afogar as mágoas e a imobilidade causada por uma lesão medular na natação. A paratleta paulista, que também trabalha como modelo, desfilou praticamente sozinha na piscina do Parque Aquático ao chegar em último na final dos 100m livre S3 (limitações físico-motoras) na quinta-feira. Ela chegou quase um minuto depois da campeã, a cazaque Zulfiya Gabidullina, de 50 anos. Foi aplaudida de pé.

Nos últimos 50 metros da prova, Maiara nem havia alcançado a metade da piscina e o ouro já estava nas mãos de Gabidulina, que tem 21 anos a mais que a brasileira. As atenções estavam voltadas apenas para a modelo nacional, que também é farmacêutica. O antídoto para diminuir a diferença de tempo foi o aumento da empolgação na arquibancada, que passou a incentivar a brasileira como se ela disputasse para bater em primeiro. No fim, completou a prova com 2m11s54, enquanto a cazaque fez 1m30s07 e bateu o recorde mundial.

– Estou emocionada até agora. Lembrei de cada treino, da minha dedicação, do apoio da família e amigos, e do que a natação representa para mim na reabilitação. Muitas coisas boas passaram na minha cabeça – disse Maiara, ao recordar os momentos finais, quando nadava praticamente sozinha na piscina.

O contato com a água foi a boia de salvação para a vida de Maiara. Só de internações, ela acumulou cinco meses de hospitais. Interrompeu naquele instante a faculdade de Farmácia na Universidade de São Paulo (USP) e a carreira de modelo. Retomadas após a reabilitação nas piscinas.

– Sofri uma lesão medular e a natação ajudou muito a voltar à rotina, a fazer as minhas coisas de forma independente. Ajudou bastante – disse a paratleta, que volta a nadar no sábado nos 50m costas S3:

– É a minha prova, estou animada e conto com a torcida de todos.

Nas arquibancadas, família e amigos reforçaram o coro de apoio uniforme que causou uma onda de emoção e aplausos. Sem dúvida, ela saiu da piscina com a sensação de ter sido mais que campeã.

– Estou feliz com o resultado e com a torcida, com o clima, foi muito impressionante. Já foi uma conquista (ter passado para a final) – afirmou ela, que é vice-campeã nacional de circuito paralímpico de natação.