Cotidiano

Mãe vai sepultar filho morto em favela com dinheiro doado

20160613150629-27511.jpg-G8R2OUUOC.1.jpgRIO – ?Pus a mão no sangue que estava ao lado do corpo e passei no rosto mesmo. Por
que é o meu sangue, ele era a continuação do meu viver?. Com esse relato, Sheila
Cristina Nogueira, de 46 anos, tentava ontem traduzir em palavras a dor que
sente desde a morte do filho Carlos Eduardo Nogueira da Silva, de 19 anos, na
sexta-feira. Ele foi atingido por uma bala perdida na porta de casa, no Morro do
Querosene. Mãe de 11 filhos ? ela teve 14, mas três morreram ?, Sheila teve
ontem dificuldades para liberar o corpo porque não tinha dinheiro para o
enterro. Para ajudá-la, parentes e amigos organizaram uma ?vaquinha?. Violência – 13/06

Ao longo do dia, o grupo tentou conseguir os cerca de R$ 2 mil necessários
para o sepultamento. Mas, no fim da tarde, Sheila teve uma surpresa: a funerária
foi paga através de uma doação. Ela não sabe quem fez o pagamento.

O drama, porém, não terminou. O corpo não pôde deixar o IML porque não havia
vagas para sepultamento hoje. A previsão é que Carlos Eduardo seja enterrado
amanhã.

? Conseguimos o dinheiro, mas agora falta vaga no cemitério. Ainda estamos
aguardando, e temos esperança de que o sepultamento possa ser na terça-feira (hoje) ?
disse uma vizinha da família, que se identificou como Natália.

Na segunda-feira, Sheila passou o dia na porta do IML, no Centro,
para onde o corpo do filho foi levado após ser liberado da unidade de Nova
Iguaçu, na Baixada. Acompanhada de uma das filhas, Gabriela Yasmim, de 22 anos,
e de uma vizinha, ela disse ter certeza que o filho foi morto por um policial do
Batalhão de Operações Especiais (Bope), que fazia operação no entorno do
Fogueteiro no dia do crime:

‘Ele era a continuação do meu viver’, diz mãe de jovem morto? Era um ótimo filho. Se fosse péssimo, eu diria. Mas me
ajudava, era um inocente. Se ele fosse traficante, eu iria falar.

O crime está sendo investigado pela Delegacia de Homicídios da Capital.