Política

Mãe percorre legislativos atrás de apoio à Lei Lucas

Em 2015, por exemplo, 880 crianças morreram engasgadas, sem atendimento adequado

Cascavel – Alessandra Begalli Zamora (42) anos é mãe e advogada. Ela tem empregado uma verdadeira peregrinação a centenas de Câmaras de Vereadores e Assembleias Legislativas em uma luta para que uma lei federal seja criada e aprovada. A intenção é protocolar o projeto ainda neste mês. A Lei Lucas, como ficou conhecida, vai atuar na prevenção de óbitos ou sequelas graves em crianças vítimas de acidentes em espaços públicos ou particulares com aglomeração de pessoas.

Escolas, espaços infantis de lazer e recreação são lugares visados pelo movimento de luta. A garantia dos primeiros socorros é a missão principal.

O Ministério da Saúde não divulgou dados recentes, mas em 2015 foram registradas 880 mortes de crianças engasgadas no País.

A luta de Alessandra começou online, através de uma fanpage que em quatros meses reúne mais de 130 mil seguidores e pelo menos 50 relatos de mortes por engasgamento. Muitas das vítimas são crianças e em comum a falta de pessoas instruídas para prestar os primeiros socorros, atitude que oportuniza sobrevida aos pacientes.

A mãe que percorre o País em busca de apoio para a articulação desta lei tem motivos de não dormir tranquila. Ela deixou o filho Lucas (10) em uma escola particular em Campinas (SP) e horas depois recebeu uma ligação que mudou para sempre a sua vida. Durante um passeio escolar, o filho se engasgou com um pedaço de alimento. Diante de outras crianças e funcionários, Lucas deu seu último suspiro.

O que seguiu nos minutos depois ao acidente ainda é investigado pela polícia, mas a falta das manobras ou a realização inadequada podem ter tirado a oportunidade da advogada de ver o filho crescer. Mesmo com o resgate do Samu, o menino sofreu diversas paradas cardíacas e não resistiu. Uma cena que é descrita pela mãe com dor e saudade: “Não era mais meu filho, mas o corpo dele que estava diante dos meus olhos. Eu sabia que o Lucas não estava mais comigo”.

Treinamento

A tragédia pessoal da mãe de Lucas levantou uma questão que tem preocupado muitos pais. Alessandra questiona a importância do treinamento especifico em primeiros socorros de equipes que trabalham diretamente com crianças e adolescentes. “Eu sei que mesmo ao lado de pessoas treinadas meu filho poderia ter morrido, mas gostaria saber que ele teve todas as chances possíveis, o que deixaria sua luta pela vida muito mais justa e humana”, desabafa a mãe.

Imersa ainda na sua dor de luto, Alessandra considera que os minutos seguidos ao acidente foram cruciais para que o acidente terminasse em uma tragédia em sua família. “Nada vai trazer meu menino novamente, mas se essa iniciativa evitar que outra mãe tenha os braços vazios, eu terei mais paz para vivenciar a minha dor e lutar por essa causa”, conta.

Sem culpados

Muito longe de responsabilizar professores e instrutores pelo ocorrido, Alessandra deseja mesmo é encontrar parceiros que para aderir à luta e ajudar no salvamento de vidas. “A dinâmica é garantir treinamento para que esses profissionais possam ser parceiros dos pais e de toda a sociedade. A palavra não é responsabilizar, mas sensibilizar e capacitar para que nenhuma vida mais seja perdida”, explica a mãe.

Todos pela Vida

O movimento ganha força em vários estados brasileiros. Alessandra já encaminhou o projeto para 275 Câmaras de Vereadores e seis Assembleias Legislativas. “Não quero que seja atrelado a nenhum político, esse é um movimento de quem quer evitar que outras famílias chorem e lamente por seus filhos”, esclarece a mãe.

Do luto a Luta

O movimento #Vailucas não deixa Alessandra desanimar no caminho lento da superação do luto. “Ninguém explica a dor de perder um filho, mas permitir que outras crianças tenham a chance que meu filho não teve me mantém na luta”, finaliza.

O projeto já chegou a diversas Câmaras de Vereadores do oeste do Paraná, incluindo Cascavel e Toledo.