Cotidiano

Maduro obriga empresas a ceder funcionários para serem enviados ao campo

CARACAS ? O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, assinou um decreto que obriga todas as empresas do país, públicas e privadas, a deixar seus funcionário a disposição do governo para serem enviados ao campo com o objetivo de ajudar no desenvolvimento agroalimentar do país durante um período de 60 dias ? prazo que ainda poderia ser prolongado por outros 60 dias. De acordo com a decisão, os trabalhadores só serão designados para essa função se tiverem condições ?físicas e técnicas? para realizar os serviços.

A ordem do polêmico presidente gerou um protesto imediato da Anistia Internacional, que divulgou uma nota à imprensa criticando duramente a medida: ?Tentar enfrentar a severa falta de alimentos na Venezuela obrigando as pessoas a trabalhar no campo é tentar curar uma perna fraturada com um band-aid?, escreveu Erika Guevara-Rosas, diretora da Anistia Internacional para as Américas.

Para viabilizar seus planos, o governo venezuelano pretende financiar o pagamento do salário-base e as despesas necessárias dos funcionários pinçados para trabalhar no campo. Já as empresas continuarão a bancar os encargos sociais desses trabalhadores.

A decisão de Maduro é uma estratégia desesperada para tentar reabastecer as prateleiras dos supermercados no país, cuja população vem enfrentando fome e falta de diferentes produtos básicos meses após o agravamento da crise econômica, gerada principalmente pela crise petroleira.

As bases para o regime de trabalho proposto neste novo decreto do governo estão no texto do Estado de Emergência Econômica, imposto pelo presidente este ano justamente com o objetivo de frear a escassez de produtos básicos no país tomando medidas extraordinárias.

Segundo estimativa da Confederação de Associações de Produtores Agropecuários (Fedeagro), a Venezuela tem uma dívida de mais de US$ 400 milhões com fornecedores de insumos agrícolas

?O novo decreto é completamente inútil como forma de encontrar saída da crise na qual a Venezuela está submersa há anos. As autoridades venezuelanas devem se concentrar em pedir com urgência a ajuda internacional da qual necessitam as pessoas em todo o país e em desenvolver um projeto eficaz de longo prazo para lidar com a crise?, criticou Guevara.

População quer diálogo

De acordo com uma consulta pública divulgada ontem, 82% dos venezuelanos querem um diálogo entre o governo e a oposição, e 56% acham que a prioridade do país é resolver seus problemas econômicos. A pesquisa feita pela Hinterlaces, de 18 a 26 de julho, mostra que as pessoas querem uma trégua na crise política na qual está mergulhado o país, onde políticos de oposição culpam o governo de Maduro pelo desabastecimento e o criticam por uma série de medidas consideradas autoritárias.

Enquanto isso, governo e oposição continuam a se desentender por conta de um referendo revocatório do mandato de Maduro. Ontem, o deputado Julio Borges, um dos líderes da Mesa de Unidade Democrática (MUD) questionou a ?atitude passiva? do governo diante da crise que o país atravessa. E o Conselho Nacional Eleitoral, acusado pela MUD de servir aos interesses de Maduro, reiterou a suspensão de três deputados da Assembleia Nacional ? o que tiraria a maioria qualificada da oposição no Parlamento.

? Se Nicolás Maduro acredita que freando o referendo vão a esconder o a tapar o caos no país, simplesmente estão subestimando a paciência e o desejo de mudança do país.