Cotidiano

Maduro diz usar estado de exceção decretado para ignorar Legislativo

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CARACAS ? No mesmo dia em que as forças de segurança da Venezuela prenderam sete pessoas e dispararam gás lacrimogêneo contra manifestantes que exigiam um referendo revogatório, o presidente Nicolás Maduro afirmou que a vigência de um estado de exceção que anunciou dias antes em matéria econômica serve para se tornar independente em relação à Assembleia Nacional.

? Se eu dependesse da Assembleia Nacional, não poderia ter feito nada nestes últimos quatros meses ? disse em um evento, dizendo que “não pode deixar que o Legislativo sabote o Orçamento do próximo ano”. ? O povo tem que corrigir esse erro que fez no 6 de dezembro (quando a oposição ganhou por grande maioria nas eleições legislativas).

A promulgação do decreto é mais uma das decisões de Maduro para inviabilizar o alcance político do Legislativo, que vêm aprovando leis sistematicamente rechaçadas pelo Tribunal Supremo desde janeiro. Ele não descartou declarar “um estado de comoção interior” que, dizendo estar previsto na Constituição”, daria a ele atribuições para intensificar o controle das instituições públicas.

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No mesmo dia, pessoas que foram às ruas também denunciaram ataques de grupos paramilitares ligados ao chavismo. É o primeiro protesto sob um estado de exceção no país, com o qual o presidente pretende bloquear as tentativas de convocar um referendo para tirá-lo do poder.

Para evitar a passagem de manifestantes, ao menos 14 estações de metrô foram fechadas na capital, Caracas, de acordo com informações da agência AFP. E o local de concentração da marcha, na Praça Venezuela, ficou cercado por policiais antimotim.

A concentração no local terminou quando o representante do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), Luis Emilio Rondón, recebeu em mãos um documento em que os dirigentes opositores fazem queixas de irregularidades no processo revogatório do mandato de Maduro.

Na Universidade de Los Andes, veículos foram queimados e vários estudantes ficaram feridos, segundo testemunhas. Conselheiro universitário da instituição, Yeison Lastre denunciou a entrada de grupos paramilitares na Faculdade de Medicina para atacar estudantes. O governo mandou efetivos da Guarda Nacional para o local. venezuelaprotesto

Convocados pela coalizão Mesa de Unidade Democrática (MUD), os opositores anunciaram que caminhariam em direção à sede do CNE em 20 cidades, exigindo que o organismo acelere a revisão das assinaturas que entregaram no dia 2 de maio como requisito para ativar a consulta popular contra Maduro.

Na semana passada, a oposição teve que interromper um protesto prematuramente após militares e policiais bloquearem a passagem até o CNE e lançarem gás lacrimogêneo contra os manifestantes em Caracas.

Pelo Twitter, o deputado Hernán Alemán denunciou uma nova tentativa da Guarda Nacional Bolivariana (GNB) e de policiais de dispersar os manifestantes.

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? Como a Guarda Nacional, a Policia Nacional e as Forças Armadas estão resistindo e queixando-se porque não querem assumir o custo da repressão aos civis, apareceram os coletivos armados ? acusou o presidente da Assembleia Nacional, Henry Ramos Allup, que descartou ter acontecido provocação às forças de segurança. ? Não queremos confronto, queremos exercer nossos direitos.

Aliado de Maduro, o prefeito de Caracas, Jorge Rodríguez, disse que a manifestação convocada para a Praça Venezuela teve manifestantes que destruíram residências estudantis no entorno. Venezuelanos nas ruas contra Maduro

ALMAGRO CHAMA MADURO DE ‘TRAIDOR’

o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, acusou nesta quarta-feira Maduro de ser um ?traidor? e alertou que ele se transformará em um ?ditadorzinho? se impedir o referendo revogatório levado adiante pela oposição contra seu mandato

?Negar a consulta ao povo, negar a ele a possibilidade de decidir, te transforma em mais um ditadorzinho, como os tantos que o continente teve?, escreveu Almagro em uma severa carta aberta.

Extrapolando seu reservado estilo diplomático, o líder do órgão regional não poupou palavras ofensivas a Maduro, chamando-o ainda de mentiroso.

?Não sou agente da CIA. E sua mentira, mesmo que seja repetida mil vezes, nunca será verdade?, afirmou Almagro, para depois acrescentar: ?Presidente, você trai seu povo e sua suposta ideologia com suas diatribes sem conteúdo, é traidor da ética da política com suas mentiras e trai o princípio mais sagrado da política, que é se submeter ao escrutínio de seu povo?.

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Rejeitado na terça-feira pelo Congresso, o estado de exceção contém medidas para enfrentar a profunda crise econômica. O estado de exceção também autoriza operações especiais de segurança diante do que Maduro denuncia como uma ameaça de intervenção estrangeira, instigada pela oposição e pelos Estados Unidos.

Maduro sustenta que entre as estratégias para precipitar uma intervenção estão propagar a ideia de que a Venezuela enfrenta uma ?crise humanitária?, junto com atos de violência.

? Longe de constituir um alarde de força, este decreto revela uma grande debilidade ? afirmou o presidente da Assembleia Nacional, Henry Ramos Allup, que acredita que o Tribunal Supremo de Justiça autorizará o que considera um desmonte da Constituição.

O CNE disse que no dia 2 de junho finalizará a auditoria das assinaturas. Se forem aceitas, 200 mil pessoas precisarão revalidar sua assinatura com a impressão digital. Em uma segunda etapa, a MUD deve reunir quatro milhões de assinaturas em três dias.