Cotidiano

Lula e Dilma tinham conhecimento de caixa 2, Aécio Neves também é citado em relato de Marcelo Odebrech; Vídeo

Assista à delação do ex-presidente da Odebrecht, base de um dos inquéritos autorizados pelo ministro Edson Fachin.

Tanto Lula quanto Dilma sabiam de caixa 2, segundo Marcelo Odebrecht, embora não tivessem conhecimento dos valores exatos. 

 

“No que tange a questões de caixa 2, tanto Lula quanto Dilma, eles tinham conhecimento do montante, digamos assim, não necessariamente do valor preciso, mas tinham conhecimento da dimensão de todo o nosso apoio ao longo dos anos”, disse Marcelo Odebrecht.

“Eu diria que a Dilma sabia que grande parte do nosso apoio estava direcionado para João Santana, várias vezes ao longo do tempo, ainda que não fosse ela que pedisse o pagamento para João Santana, várias vezes em nossas conversas se mencionou a questão, ela sabia do apoio que eu dava ao amigo dela”, afirma o empresário.

Em outro trecho de seu depoimento, Marcelo fala sobre reuniões que mantinha com a ex-presidente Dilma e explica que tinha em média dois encontros longos por ano com ela, que duravam de duas a quatro horas, e nos quais discutiam diversos assuntos.

As reuniões, segundo ele, constavam em sua agenda e eram públicas. Em geral aconteciam no Palácio da Alvorada e em algumas ocasiões ele chegou a encontrar jornalistas na saída. Além disso, os dois também se encontravam rapidamente em diversos eventos ao longo do ano, como vistorias e inaugurações de obras. Segundo o empresário, nessas ocasiões, eles aproveitavam para discutir temas mais urgentes em poucos minutos.

Segundo Marcelo Odebrecht, seu contato com Dilma Rousseff começou quando ela era ministra de Minas e Energia, mas ele nunca teve uma relação direta com o ex-presidente Lula.

"A relação com a presidente Dilma, a partir de 2008, passou a ser primordialmente comigo. Com o Lula, apesar de ter vários eventos em que eu estava com ele, mas a relação direta com o Lula nunca foi minha, mas com Dilma sim", diz ele em trecho do depoimento.

O empresário também esclarece que seus principais interlocutores, tanto para assuntos relativos ao PT quanto para temas referentes ao governo federal, eram os ex-ministros Antonio Palocci e Guido Mantega.

"Sempre foi o Palocci, até 2011, a partir de 2011 foi o Guido. A partir dai foi reforçado por Dilma que a relação principal seria com ele. Várias vezes em que eu estava com ela, quando tinha algum tema, ela dizia 'é com o Guido que tem que resolver'”.

Em outro momento do depoimento, Marcelo Odebrecht afirma, sobre a prática de caixa dois:

"Veja bem, eu não conheço nenhum político no Brasil que tenha conseguido fazer qualquer eleição sem caixa dois. Caixa dois era três quartos, que eu estimo. Não existe ninguém no Brasil eleito sem caixa dois."

Em outro vídeo, Marcelo Odebrecht comenta uma situação em que a ex-presidente Dilma estaria desconfiada de que políticos do PMDB estariam recebendo dinheiro da empresa, inclusive o atual presidente, Michel Temer.

Sempre tive a preocupação de avisar algumas pessoas. Por exemplo, eu pedi pra Claudio Melo, que tinha relação com os caciques do PMDB: ‘avisa lá, faça chegar no ouvido do Temer que ela está desconfiada de que algumas pessoas – e que inclusive ela pode estar desconfiada dele – receberam valores. Falei, Claudio, não sei quem foi. Agora, faça chegar no ouvido, só pra ele estar avisado’” .

O executivo diz também que o apoio da Odebrecht às campanhas eleitorais de senadores e deputados federais que beneficiavam a empresa durante seus mandatos era visto como um "compromisso moral".

Marcelo Odebrecht conta ainda que foi procurado por Aécio Neves às vésperas do 1º turno da eleição presidencial de 2014, com um pedido de doação. O então candidato do PSDB estava em busca de "fôlego" para sua campanha, relata.

"Na véspera do primeiro turno, Aécio estava naquela subida, estava naquela discussão se Dilma ganhava ou não no primeiro turno. Aécio tinha chance de ir para o segundo turno, mas ele precisava um fôlego na véspera, de recurso. E ele pediu um encontro comigo".

Outro tema abordado no depoimento de Marcelo Odebrecht é o financiamento da Arena Corinthians, sede do jogo de abertura da Copa do Mundo de 2014. Segundo ele, o modelo do negócio foi decidido em uma reunião "informal" em sua casa, que contou com a presença de representantes dos governos federal, estadual e municipal e do Corinthians, entre eles o ex-jogador Ronaldo Nazário.

Marcelo Odebrecht afirmou que o projeto foi "fechado" em um jantar em sua casa em 13 de janeiro de 2011, já no governo Dilma Rouseff (PT), com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB); o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (PSD); e o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho.

Também estavam presentes pelo Corinthians o então presidente do clube, Andrés Sanchez, o então diretor de marketing, Luis Paulo Rosenberg, e o ex-jogador Ronaldo Nazário de Lima. "Eles trouxeram o Ronaldo, o 'Fenômeno', só para 'dar uma importância ao evento, na visão deles", afirmou Odebrecht.

Marcelo Odebrecht fala ainda sobre o pagamento de vantagens indevidas para aumento da linha de crédito da exportação em Angola. Ele afirma que o ex-ministro do Planejamento Paulo Bernardo foi encarregado pelo ex-presidente Lula de solicitar US$ 40 milhões durante a liberação de uma linha de crédito de US$ 1 bilhão.

“Eu chequei na época com o responsável na empresa, e ele me disse que tinha já um valor, se não me engano US$ 600, US$ 700 milhões em contratos assinados em Angola. E que conseguiria então provisionar esses US$ 40 milhões dentro dos custos. Então eu concordei com o pedido, mas fui no Palocci que estava acompanhando tudo, na época era meu interlocutor”.

Ele diz que o então ministro Guido Mantega não participou das negociações, embora fosse o responsável pela linha de crédito. “Nunca tratei desses 40 com ele. Nunca houve nenhum pedido dele e nunca fiz nenhuma espécie de sinalização disso também”, garante.

Segundo Marcelo, o dinheiro trazido de Angola teve um abatimento de 10% e os US$ 36 milhões foram convertidos em cerca de R$ 64 milhões na época, em 2010.

O ministro Edson Fachin, relator da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou nesta terça-feira (11) a Procuradoria Geral da República a investigar 8 ministros, 3 governadores, 24 senadores e 39 deputados. Os pedidos se baseiam na chamada lista de Janot, feita com base em delações de ex-executivos da Odebrecht. Um deles é um dos donos da empresa, Marcelo Odebrecht.